Agrupamento de cervejas por estilos orienta cervejeiros e degustadores

Depois de muitas histórias lidas nesta coluna, degustações mais que detalhadas e copos devidamente virados, você já deve ter percebido que as milhares de cervejas fabricadas no mundo inteiro são agrupadas de acordo com características que elas têm em comum, certo? Esses grupos são chamados de estilos e, pode reparar, normalmente aparecem nos rótulos, junto com o nome da cerveja.

O jornalista Michael Jackson (sim, é um homônimo do saudoso superstar — foto abaixo) foi um dos primeiros a se ligar que a globalização do mercado cervejeiro demandava uma classificação para guiar os consumidores. Ele foi o responsável por catalogar e organizar muitas das cervejas que conhecemos hoje. Um trabalhão!

A ideia de agrupar em estilos serve, também, para reconhecer a origem e a região da receita — independentemente de onde a própria bebida tiver sido produzida. Assim, depois de algumas décadas dessa grande novidade, você pode saber exatamente o que esperar de uma German Pilsner, seja ela feita na Rússia ou no Chile.

Guias de estilo
Para tentar organizar ainda mais o coreto, a Brewers Association (BA) e o Beer Judge Certification Program (BJCP) criaram (e atualizam todos os anos) guias de estilo que orientam desde cervejeiros caseiros na hora de montar uma receita, até juízes sommeliers no momento de avaliar uma cerveja em concursos e festivais.

Aliás, sem classificações desse tipo seria impossível eleger com o mínimo de objetividade as cervejas mais “bem feitas”. Nesse caso, seríamos privados de provar as “melhores” entre as cervejas com as mesmas características.

Quer um exemplo prático? De acordo com o BJCP, para uma cerveja ser classificada como Irish Red Ale, ela deve ter teor alcoólico entre 3,8% e 5% APV*, aroma moderado de malte e notas de lúpulo muito baixas. Os sabores caramelados devem passear entre o leve e o moderado, podem ter um leve tostado ou até mesmo a lembrança de biscoito. O fim precisa ser, necessariamente, seco e o amargor pode ir do médio ao médio-baixo (IBU** de 18 a 28). E mais, a cor deve ter um SRM** entre 9 e 16, o que corresponde a uma alaranjado e um rubi profundo.

Para quem faz cerveja, essas diretrizes são uma santa ajuda. Para quem se depara com uma montanha de opções e sabe exatamente o que quer beber, é a diferença entre o gato e a lebre.

Liberdade, liberdade
Apesar de importantíssimos e úteis, os guias de estilos não devem ser vistos como amarras ou regras rígidas que não podem ser desrespeitadas. Todo cervejeiro é livre para criar suas receitas e até um estilo próprio. Talvez você já tenha se deparado com Chocolate Stouts, Maracujipas, Hazelnut Porters, entre outras lindezas fruto de invencionices.

Essa liberdade enriquece a experiência do degustador, permite que novos sabores sejam inventados e pode, inclusive, criar tendências. Ou você acha que o estilo Double IPA sempre esteve nos livros?

Seja qual for a intenção por trás dos fermentadores, não temos dúvida quanto a um aspecto: quanto mais você conhecer os estilos de cerveja,  as escalas de cores e de amargor, menores serão as chances de investir uma bela grana e se desapontar no primeiro gole.

• * APV (álcool por volume, em português, ou ABV, alcohol by volume, em inglês)
  ** IBU (International Bitter Units, medida para averiguar o amargor da cerveja)
  *** SRM (Standard Reference Method, escala usada nos EUA para determinar a coloração da cerveja)