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Cem anos após 1º diagnóstico, doença de Chagas segue como desafio

Ministério da Saúde investe em diagnóstico e acompanhamento para atender pacientes que, no Brasil, podem chegar a 1 milhão

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Universidades antecipam formaturas de estudantes de Medicina no DF
1 de 1 Universidades antecipam formaturas de estudantes de Medicina no DF - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Em 14 de abril de 1909, foi feito 0 primeiro diagnóstico da doença de Chagas na paciente brasileira Berenice Soares de Moura. O quadro clínico foi descrito pelo médico Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, cujo sobrenome acabou por alcunhar a nova doença.

Somente em 2019 – 110 anos do primeiro diagnóstico – a doença de Chagas teve sua data incluída no calendário mundial de saúde. A data visibiliza uma das doenças tropicais mais negligenciadas, associada à pobreza e à exclusão social, que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Chagas é uma enfermidade de condição crônica e endêmica, atingindo aproximadamente 6 milhões de pessoas em 21 países das Américas, constituindo-se um desafio para a saúde pública. No Brasil, estima-se mais de 1 milhão de afetados em 2020.

Cabe ressaltar que as enfermidades cardiovasculares são fatores de risco para o agravamento da Covid-19 e, dessa maneira, as pessoas com doença de Chagas também são uma população de risco.

Entre março e agosto de 2020, segundo dados preliminares do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), foram registrados 125,6 mil óbitos por Covid-19, dos quais 207 faziam menção à doença de Chagas enquanto comorbidade que contribuiu para a morte do paciente.

Para marcar o Dia Mundial, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), lança o Segundo Boletim Epidemiológico da Doença de Chagas. A nova edição aponta, principalmente, possíveis reflexos da pandemia da Covid-19 frente ao perfil de morbimortalidade da doença de Chagas.

O novo boletim faz análise de tendência temporal regionalizada e demostra que, em 2020, ocorreu uma redução estatisticamente significativa em relação ao estimado, tanto no coeficiente de incidência de casos agudos (0,19 casos novos por 100mil habitantes para 0,07 – IC95%), como de mortalidade pela enfermidade (1,06 óbitos por 100 mil habitantes para 0,9 – IC95%).

Os dados demonstram redução de 47% no registro de casos suspeitos de fase aguda e 63% de casos confirmados em 2020 em relação a 2019. Seriam ótimas notícias se essa queda não estivesse ligada ao impacto da pandemia que exigiu dos serviços de saúde concentração máxima dos esforços na nova doença global.

Hipótese confirmada pela redução no número de requisições de exames laboratoriais para doença de Chagas em 2020 em comparação à média de 2017 a 2019. Essa queda impactou na distribuição do benzonidazol medicamento utilizado para o tratamento dos pacientes com Chagas.

O boletim também demonstra, a partir do relato de representantes estaduais da vigilância entomológica da doença de Chagas, que muitos não conseguiram realizar, mesmo que parcialmente, as atividades propostas para 2020, em decorrência da necessidade de readaptação das atividades para redução do risco de transmissão do Sars-CoV-2.

Apesar de limitações da análise, essa é uma das poucas, talvez a primeira, avaliação preliminar que permite a detecção dos padrões da morbimortalidade da doença de Chagas, para formulação de hipóteses quanto aos fatores causais nas variações observadas frente à Covid-19.

Além do Boletim de Chagas, outras iniciativas estão sendo implementadas pela SVS nos últimos dois anos como resposta à doença. Uma delas, culminou com a inserção da fase crônica da doença como notificação compulsória.

Também estão sendo feitos investimentos em projetos para combater a doença. Destacam-se o Integra Chagas que conta com aporte de R$ 6 milhões; e o consórcio, criado a partir de edital do Unitaid em 2020, que tem como contrapartida nacional a alocação de US$ 4 milhões. As duas iniciativas têm a Fiocruz como parceiras da SVS.  Está previsto para o segundo semestre curso voltado para profissionais da atenção primária, com investimento de R$ 200 mil.

Todas essas estratégias visam ampliar o escopo da vigilância para garantir acesso, aumentar a detecção e consequentemente o tratamento oportuno da doença de Chagas no âmbito da atenção primária integrada à vigilância em saúde, aumentando assim a possibilidade de cura e evitando a evolução para formas mais graves; além de promover e aumentar a qualidade de vida das pessoas que já vivem com a doença.

*Arnaldo Correia de Medeiros, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

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