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Ameaças de Trump e demora no resultado deixam EUA em alta tensão

Presidente vê as chances de reeleição encolhendo e investe contra o sistema eleitoral norte-americano

atualizado

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Drew Angerer/ Getty Images
donald trump
1 de 1 donald trump - Foto: Drew Angerer/ Getty Images

Cenários pessimistas pintados por alguns comentaristas antes da eleição presidencial nos Estados Unidos estão se cumprindo. A corrida é mais acirrada do que o esperado e a decisão sobre o vencedor se arrasta. É um drama embalado pelos efeitos da pandemia, como o crescimento exponencial de votos pelo correio. Ao ver, com o decorrer da apuração, as chances de ser reeleito encolhendo, o presidente Donald Trump resolveu não facilitar a vida do adversário democrata, Joe Biden. E está tendo sucesso em mergulhar a apuração dos votos em um véu de desconfiança e ameaças de uma longa batalha judicial, que pode durar ainda bastante tempo.

A situação se agravou após pronunciamento realizado por Trump na noite dessa quinta-feira (5/11), no qual o presidente dos Estados Unidos denunciou fraudes na eleição no país sem apresentar nenhuma prova, apenas reclamações sobre estados em que liderava a apuração, mas acabou ultrapassado quando os votos pelo correio começaram a ser contados.

De acordo com o republicano, ele ganha “facilmente” se apenas os “votos legais” forem contados. “Se contarem os votos ilegais, podem roubar a eleição de nós”, disse, insuflando seus seguidores e causando protestos veementes dos adversários.

Contagem

Na madrugada desta sexta-feira (6/11), seis estados ainda contavam os votos: Nevada, Arizona, Alasca, Pensilvânia, Carolina do Norte e Geórgia.

Na Geórgia, no fim da madrugada, Biden e Trump estavam em uma corrida cabeça a cabeça, cada um com 49,4% – a diferença pró-Trump era de 665 votos, faltando menos de 14 mil votos para serem contados. E a diferença caía constantemente desde a manhã dessa quinta-feira (5/11).

Na Pensilvânia, com 95% dos votos apurados e restando basicamente áreas expressivamente pró-democratas, a diferença havia caído para 18.229 votos. Biden vinha tendo média de 78% nos resultados. Mantido esse desempenho, o democrata também ganhará o estado e seus 20 delegados, o que selaria a vitória.

O The New York Times projetou que o presidente Donald Trump ganhou em Arkansas, Kentucky, Kansas, West Virginia, Carolina do Sul, Oklahoma, Tennessee, Mississippi, Missouri, Alabama, Indiana, Iowa, Nebraska, Dakota do Sul, Dakota do Norte, Utah, Wyoming, Montana, Idaho, Louisiana, Texas e Ohio.

O rival democrata, Joe Biden, levou Vermont, New Hampshire, Colorado, Massachusetts, Virgínia, Nova Jersey, Illinois, Maryland, Delaware, Connecticut, District of Columbia, Rodhe Island, Nova York, Novo México, Maine Oregon, Washington State, Havaí, Minnesota, Michigan, Wisconsin e Califórnia.

Isso deixa o democrata com 253 delegados e o republicano, em busca da reeleição, com 214. Para vencer, um candidato precisa chegar a 270 votos no Colégio Eleitoral.

Se vencer a Geórgia, Biden vai a 269. Se levar a Pensilvânia, é o vencedor. O democrata também seguia liderando em Arizona e em Nevada. Para ter chance de vencer, Trump tem que levar ao menos três desses estados.

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O comportamento de Trump, alegando fraudes sem apresentar provas e atacando todo o sistema eleitoral, desconcertou até colegas de seu próprio partido. O governador republicano de Maryland, Larry Hogan, que havia criticado o presidente em outras oportunidades, tuitou na noite dessa quinta-feira (5/11) que “não há defesa para os comentários desta noite, atacando nosso processo democrático. A América está contando os votos e devemos respeitar o resultado, como sempre fizemos. Nenhuma eleição ou pessoa é mais importante do que a nossa democracia”, escreveu ele.

Veja a postagem original:

O silêncio de outras lideranças republicanas sobre as reclamações de Trump também chamou atenção da imprensa norte-americana.

As palavras de Trump, porém, tiveram força entre seus seguidores mais fanáticos. Nas redes sociais e fóruns on-line, militantes trumpistas estão dedicando suas vidas a investigar e divulgar denúncias de fraudes.

O esforço desses militantes que levam ao pé da letra as acusações que Trump joga ao vento é acompanhado de perto por alguns influenciadores digitais brasileiros ligados ao bolsonarismo. Ligados, mais especificamente, ao olavismo.

Bolsonaristas, como o influenciador Allan dos Santos, que foi para os EUA recentemente alegando perseguição por ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos inquéritos sobre atos antidemocráticos, estão embarcando na narrativa de fraude e “traduzindo” a conspiração para o português.

Nos comentários dos seguidores de Olavo de Carvalho está sempre presente o temor de que as ditas fraudes venham a se repetir em eleições brasileiras, vitimando principalmente o presidente Jair Bolsonaro em seus esforços pela reeleição, em 2022.

Veja um exemplo de postagem conspiratória que rompeu as fronteiras:

Postagem do bolsonarista Allan dos Santos

O próprio presidente brasileiro Jair Bolsonaro chegou a mostrar preocupação nessa quinta-feira (5/11) com o sistema eleitoral brasileiro, trazendo de volta, em sua live semanal pelo Facebook, um velho fantasma. “Já está bastante avançado o estudo [para propor o voto impresso]. A gente espera, no ano que vem, entrar, mergulhar na Câmara e no Senado, para que a gente possa, realmente, ter um sistema eleitoral confiável em 2022”, disse o presidente.

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As notícias nos EUA

O lento caminhar dos resultados favoráveis a Biden, como na Geórgia e na Pensilvânia, levou os veículos de imprensa dos EUA a pintarem um favoritismo mais claro para o democrata. Na madrugada desta sexta-feira (6/11), a manchete do The Washington Post era: “Caminho de Biden fica mais claro à medida que o voto avança em estados decisivos”.

E nos EUA o tom belicoso de Trump não repercute apenas na web. Segundo o mesmo Washington Post, grupos não muito numerosos seguem protestando nas cercanias de locais de contagem de votos em cidades como Phoenix, Philadelphia, Las Vegas, Atlanta e Detroit.

Em alguns casos, pessoas armadas com fuzis participam dos protestos ou ficam perto dos centros de contagem, com a desculpa de estarem protegendo os locais.

Não há, até o momento, casos graves de violência e confrontos nas ruas, como chegou a acontecer em algumas cidades durante a campanha. Em vários grandes centros, porém, lojas e prédios comerciais se prepararam para confrontos protegendo vidraças e vitrines.

Na noite dessa quinta-feira (5/11), a polícia informou que investigava uma denúncia de ataque planejado ao Centro de Convenções da Pensilvânia, na Filadélfia. Uma pessoa foi presa, mas não há informações claras sobre a acusação.

Os primeiros relatos dão conta de que a polícia recebeu a denúncia de que um grupo havia saído da Virgínia em um veículo com o objetivo de cometer o ataque no lugar, onde há contagem de votos sendo feita. Ao menos uma arma foi apreendida na operação.

A polarização também influencia a cobertura midiática. Após a fala de Trump na Casa Branca, o The New York Times, maior jornal do país, não usou eufemismos e disse que Trump mentiu sobre a contagem.

Mais cedo, no momento do pronunciamento, as três maiores redes de televisão do país —ABC, CBS e NBC— suspenderam a transmissão após o republicano começar a fazer uma série de alegações de fraudes eleitorais sem apresentar nenhuma prova.

O Twitter também censurou mais de 10 postagens do presidente norte-americano ao longo da quinta-feira, sob a justificativa de desinformação relativa às eleições.

Bolsas em alta

Casas de apostas e bolsas de valores pelo mundo parecem acreditar que a vitória de Biden está mesmo encaminhada. No momento em que este texto é escrito, as bolsas da Ásia abrem em boa performance, como fecharam os mercados europeus. A expectativa dos investidores, segundo analistas, é por um comportamento mais pragmático dos EUA sob o provável comando democrata.

Demora

A apuração está acontecendo há mais de 52 horas por conta dos 60 milhões de cédulas enviadas pelos correios antecipadamente. O Partido Democrata incentivou seus membros a votarem dessa maneira para evitar aglomerações devido à pandemia de Covid-19, enquanto Trump pediu aos seus eleitores para registrarem o voto presencialmente.

No país, não existe uma lei eleitoral nacional regulamentando como a contagem e os envios devem ser feitos. Cada estado define as regras de maneira diferente. Alguns, por exemplo, iniciaram o levantamento antes mesmo de as urnas serem fechadas na terça-feira (3/11). Outros só começaram assim que os votos acabaram. Há, ainda, quem permita a chegada das cédulas até esta sexta-feira (6/11), como a Pensilvânia.

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