metropoles.com

Em 2017, GDF não gastou um centavo em medidas de combate ao racismo

Levantamento do Nosso Coletivo Negro aponta que a situação se repete desde 2015. Cerca de 56% dos habitantes do DF se declaram negros

atualizado

Compartilhar notícia

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles
1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O Governo do Distrito Federal não tem gastado os recursos destinados a políticas para promoção da igualdade racial. É o que aponta um levantamento feito pelo Nosso Coletivo Negro, grupo que atua pela defesa da diversidade étnica no DF, em parceria com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). De acordo com a pesquisa, entre 2015 e 2017, o Executivo reservou, na Lei de Diretrizes Orçamentárias, R$ 461,2 mil para políticas de promoção da igualdade racial. A maior parte desse dinheiro, no entanto, não foi efetivamente disponibilizada e, até agora, nenhuma quantia executada.

Em 2015, o orçamento do GDF previa a destinação de R$ 41,2 mil para a realização de políticas públicas de igualdade racial. Desse total, apenas R$ 35,2 mil foram efetivamente disponibilizados. Nenhum centavo do dinheiro, no entanto, foi gasto com o objetivo previsto. Situação parecida ocorreu no ano passado, quando o Executivo local previu orçamento de R$ 10 mil para a promoção de políticas do tipo, mas só disponibilizou R$ 2,5 mil. Desse total, nada foi executado.

Para este ano, as ambições do Governo do DF foram maiores. O orçamento previu a destinação de R$ 410 mil para políticas de promoção da igualdade racial. O dinheiro efetivamente concedido, no entanto, soma apenas R$ 122 mil, sendo que nenhum recurso foi gasto até agora. A única iniciativa realizada no DF nos últimos três anos foi a Caravana da Juventude Negra, organizada em 2015 em convênio com o governo federal, que custou R$ 750 mil. 

A situação preocupa defensores da causa negra na capital federal. Para Artur Antônio, representante do Nosso Coletivo Negro, “os dados constatam o apagão total das políticas de igualdade racial do GDF. É uma situação muito triste, mas coerente com o racismo institucional existente na máquina pública, composta por pessoas que não entendem a importância dessas ações”, explica.

Saúde, educação e segurança
O grupo decidiu fazer o levantamento após perceber o que chama de “visível insuficiência de ações governamentais” para a população negra na capital. No documento, o coletivo também faz críticas à falta de iniciativas do GDF em diversas áreas, como educação, saúde e segurança pública. 

De acordo com o Nosso Coletivo Negro, das 27.347 vagas oferecidas pela Secretaria de Educação do DF para cursos de formação de professores em 2015 e 2016, apenas 315 estavam relacionadas a aulas que abordavam a temática da educação nas relações étnico-raciais. O grupo aponta ainda a baixa quantidade de diretores de escolas negros no DF: apenas 47 de 672, o que representa 6% do total.

Já na saúde, o coletivo reclama da falta de efetividade do Comitê Técnico de Saúde da População Negra, instaurado em 2013. Segundo o grupo, o GDF apenas apresentou um planejamento de ações, sem resultado ou execução efetiva. O levantamento cita ainda a falta de ações de combate ao racismo entre os membros da força de segurança pública do DF.

Para Artur Antônio, a situação atual ajuda a aumentar as disparidades sociais entre os diferentes grupos étnicos.

Cerca de 56% dos habitantes do DF se declaram negros, mas o governo não possui políticas para atender essa população. Há uma miopia política que os impede de ver a necessidade social desses grupos.

Artur Antônio, representante do Nosso Coletivo Negro
4 imagens
Na educação, o coletivo critica a baixa quantidade de diretores de escolas negros e o reduzido número de cursos de preparação de professores ligados à temática racial
Já na área da saúde, o Nosso Coletivo Negro afirma que falta efetividade ao Comitê Técnico de Saúde da População Negra
O grupo afirma ainda que falta educação sobre a abordagem racial nas forças de segurança pública
1 de 4

O negro

Daniel Ferreira/Metrópoles
2 de 4

Na educação, o coletivo critica a baixa quantidade de diretores de escolas negros e o reduzido número de cursos de preparação de professores ligados à temática racial

Rafaela Felicciano/Metrópoles
3 de 4

Já na área da saúde, o Nosso Coletivo Negro afirma que falta efetividade ao Comitê Técnico de Saúde da População Negra

Rafaela Felicciano/Metrópoles
4 de 4

O grupo afirma ainda que falta educação sobre a abordagem racial nas forças de segurança pública

Daniel Ferreira/Metrópoles

 

Corte de gastos
De acordo com a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh), a falta de execução dos recursos tem um simples motivo: a crise econômica que assola o DF. A pasta afirma que, em 2015, propôs um projeto para o mês da consciência negra. No entanto, “com o contingenciamento dos recursos, e a perspectiva de reestruturação da pasta, a Subsecretaria de Administração Geral (Suag) informou da inviabilidade de executar o orçamento”.

Já em 2016, segundo a Sedestmidh, os R$ 2,5 mil disponíveis para promoção de políticas de igualdade racial deveriam ter sido utilizados para custear um coffee break durante o curso de conscientização contra racismo realizado na Universidade de Brasília (UnB). A pasta, no entanto, foi informada em novembro que não poderia contratar o serviço por meio de dispensa de licitação. Pela proximidade com o fim do exercício, os recursos não puderam ser realocados em outra iniciativa.

Para este ano, a Subsecretaria de Igualdade Racial (SIR) da Sedestmidh pretende realizar a IV Conferência Distrital de Igualdade Racial, em novembro. Segundo a pasta, o projeto está atualmente sob análise da Casa Civil e, caso aprovado, custará R$ 250 mil aos cofres públicos.

Críticas
A Sedestmidh também respondeu às críticas feitas pelo Nosso Coletivo Negro. Quanto à educação, a pasta afirma que os cursos de Promoção da Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo oferecidos a professores têm baixa adesão e que, das quatro turmas anunciadas, três foram canceladas por falta de interessados.

Em relação à saúde, a Sedestmidh afirmou que vai realizar o I Fórum de Saúde de Populações Vulneráveis em outubro, e que tem feito articulações para incluir a temática racial na capacitação dos docentes, discentes e servidores da SES. Ainda de acordo com a pasta, foi proposta uma campanha publicitária sobre a questão racial no sistema de saúde pública. No entanto, a iniciativa foi inviabilizada por falta de recursos.

Já quanto à segurança pública, a pasta afirma que a Escola de Governo do DF capacitou 50 servidores da Secretaria de Segurança Pública na temática racial e que a Subsecretaria de Igualdade Racial (SIR) já manifestou ao Núcleo de Direitos Humanos da Polícia Militar o interesse em contribuir com a capacitação e a formação de PMs. Segundo a Sedestmidh, a corporação informou que já trata do tema na formação e capacitação.

Compartilhar notícia

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?