Olívia Meireles

Quem é Clarissa Ward, a corajosa jornalista que ainda está em Cabul?

Após os Estados Unidos retirarem as tropas do Afeganistão, o Talibã invadiu o palácio presidencial abandonado pelo primeiro escalão do governo. A tomada de poder pelo grupo conservador deixou os afegãos apavorados, e milhares foram ao aeroporto para pedir asilo a países vizinhos. As imagens chocaram o mundo

Apesar da tentativa de fuga em massa de estrangeiros e afegãos, a repórter americana Clarissa Ward continua no Afeganistão produzindo reportagens para a CNN

A jornalista já apareceu na televisão sendo ameaçada por guerrilheiros, trocou as roupas normais pela burca e também tentou ajudar diversos afegãos a obterem visto para outros países, durante transmissões ao vivo

Mas, afinal, quem é a corajosa Clarissa Ward?

A jornalista tem 41 anos e atua como chefe dos correspondentes internacionais da CNN. Ela assumiu o cargo em 2018, no lugar da também renomada repórter Christiane Amanpour

Ela já cobriu guerras na Síria, no Irã, no Iraque, no Iemen e na Ucrânia pelas principais redes de TV americanas, como ABC, CBS e Fox

Apesar de ter nascido em Londres, Clarissa morou a maior parte da vida em Nova York. Ela se formou em literatura comparada na Universidade de Yale, umas das mais prestigiadas dos EUA

A jornalista fala seis línguas: inglês, francês, italiano, árabe, russo, espanhol, além de ter algum conhecimento em mandarim

Clarissa já venceu sete Emmys. Em 2019, ela recebeu o troféu por uma série de reportagens sobre uma milícia criada por Putin e sobre como o presidente da Rússia financiava "exércitos paralelos" em países africanos

No livro On All Fronts: The Education of a Journalist (sem tradução para o português), ela contou suas principais experiências em coberturas em zonas de conflito

Algumas dessas histórias são tão perigosas quanto a cobertura de Cabul. Dois meses após o golpe em Myanmar, por exemplo, ela foi a primeira jornalista a receber autorização para entrar no país. Na ocasião, ela denunciou a truculência usada pelos militares para impedir protestos contra o novo governo

Clarissa também recebeu autorização do Talibã para permanecer em Cabul durante a tomada. Ela se aproximou do grupo em 2019, quando passou 36 horas com a cúpula do grupo extremista para produzir uma reportagem. O contato naquela época a ajudou na realização da cobertura em 2021

Mesmo com a autorização da cúpula para permanecer no país, a jornalista sofreu ameaças ao vivo. Do lado de fora do aeroporto de Cabul, um guerrilheiro ameaçou disparar uma metralhadora para o alto, ao lado dela. A jornalista precisou gritar para salvar o produtor e o cinegrafista da emissora

"A tomada de Cabul é uma das experiências mais extraordinárias da minha carreira. Estou sem dormir há dias e, por isso, ainda não encontrei as palavras corretas para descrever a situação", escreveu Clarissa no Instagram

A jornalista primeiro chocou o mundo depois de aparecer de burca no dia seguinte após a tomada do Talibã. Até então, a americana estava usando roupas ocidentais para realizar as reportagens no país, coberta por um véu, sem deixar o cabelo totalmente coberto

Em uma reportagem para a CNN, ela comentou que passou a usar a abaya para ser "o mais discreta possível". "Não quero chamar muita atenção para mim. A história é o que está ao meu redor. A história é o que os afegãos estão sentindo nesse momento incerto e desesperador."

Ward se mantém firme na cobertura, enquanto seu marido, o alemão Philipp von Bernstorff, cuida dos dois filhos — de 1 e 3 anos — do casal, em Londres

TEXTO:
Olívia Meireles

IMAGENS:
Reprodução, CNN