Ascensão e queda da pré-candidatura de Sergio Moro à Presidência

Raphael Veleda

O sonho presidencial do ex-juiz da Lava Jato começou a se materializar em setembro de 2021, quando ele viajou dos EUA para o Brasil e se reuniu com o Podemos. O senador Álvaro Dias abriu mão de sua própria pretensão para abrir espaço a Moro no partido

Moro encerrou seu contrato com a consultoria Alvarez & Marsal em outubro de 2021, quando já tinha a filiação ao Podemos encaminhada. Inicialmente, o contrato iria até 31 de outubro de 2022

Com festa, a filiação de Moro ao Podemos aconteceu em 10 de novembro de 2021. Ao falar da "estreia" na política, o ex-juiz se definiu como uma pessoa em quem se pode confiar

A pré-candidatura de Sergio Moro foi um fato novo na política brasileira e, na primeira pesquisa eleitoral em que seu nome foi incluído, o ex-juiz alcançou os dois dígitos: 11%

O momento de alta, porém, foi breve. Já os problemas, muitos. Moro virou o ano na mira do TCU e precisou revelar seu salário nos EUA: U$S 24 mil por mês – ou R$ 128,8 mil

Os aliados não ajudaram. Em fevereiro, Moro teve de classificar como "erro brutal" declaração de Kim Kataguiri sobre criminalização do nazismo. A essa altura, rejeição do ex-juiz já superava os 60% nas pesquisas

O ex-juiz da Lava Jato bem que tentou romper o isolamento ao se reunir com políticos experientes, como Michel Temer, do MDB, em fevereiro. Dois meses depois, o ex-presidente disse que Moro "desastrou a vida dele"

Aposta de Moro para candidato ao governo de São Paulo, onde lhe daria palanque, Arthur do Val, o Mamãe Falei, jogou lama na campanha do ex-juiz em março, ao insultar refugiadas ucranianas

Ainda em março, Moro já tinha encolhido dos dois dígitos para cerca de 7% de intenções de votos nas pesquisas e precisava reafirmar a cada entrevista que não pretendia desistir da pré-candidatura

Em 31 de março, sem deslanchar no pequeno Podemos, Moro migrou para o União Brasil como última tentativa de ter condições de fazer uma campanha forte, mas encontrou forte resistência no novo partido, sobretudo da ala do antigo DEM

O sonho presidencial de Sergio Moro sofreu o golpe final em 14 de abril, quando o União oficializou a pré-candidatura de seu presidente, Luciano Bivar, ao cargo. Sem revelar seus novos planos, Moro só disse que seguiria "um soldado da democracia"

Fiéis ao ditado de que a esperança é a última que morre, porém, aliados de Moro ainda mantém articulação para tentar levar o ex-juiz ao menos para a vaga de vice numa chapa "puro sangue" com Bivar, apostando no fracasso dos outros nomes da terceira via

TEXTO:
Raphael Veleda

IMAGENS:
Rafaela Felicciano e Igo Estrela/Metrópoles