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Pesquisadores criticam método e conteúdo de slides do governo de SP

Segundo pesquisadores, os slides têm problemas metodológicos, erros conceituais e fazem uma má contextualização das informações

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1 de 1 imagem colorida mostra slide do governo de são paulo convidando alunos a usarem celulares para acessar texto - metrópoles - Foto: Reprodução

São Paulo – Os slides fornecidos pela Secretaria Estadual da Educação contém problemas metodológicos, erros conceituais e fazem uma má contextualização das informações para os alunos, segundo uma análise de pesquisadores da Rede Escola Pública e Universidade (REPU).

O grupo de pesquisadores divulgou uma nota técnica em que apontam uma série de problemas encontrados no material digital feito pela Secretaria da Educação. O conteúdo, fornecido pela pasta para os professores da rede, funciona como uma espécie de “roteiro” a ser seguido nas classes.

Um dos slides questionados, por exemplo, é o da aula “Juventude e tempo”, da disciplina de Sociologia, apresentado aos alunos do 1º ano do Ensino Médio. O material solicita que os estudantes apontem seus celulares para um QR Code disponibilizado na tela e façam a leitura do texto disponibilizado no link.

“O roteiro estimula a leitura aligeirada na tela do celular e assume que todos os estudantes possuem smartphones e acesso a internet rápida nas unidades escolares”, afirma a nota.

Em outro slide, indicado para uma aula de química também do 1º ano, os alunos são convidados a responder se as mudanças climáticas têm alguma relação com a termoquímica. O problema, neste caso, é que o conceito de termoquímica não tinha sido apresentado à turma até aquele momento, já que só aparece no roteiro da aula seguinte.

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Os pesquisadores da REPU afirmam que os erros no conteúdo sobre termoquímica continuam também na segunda aula sobre o tema. Os slides mostram setas saindo de uma imagem de fogo e outras setas apontando para uma imagem de gelo. Segundo os cientistas, o material induz uma concepção sobre calor “superada desde o século XIX”.

“Abordagens desse tipo são contraindicadas na literatura científica sobre Ensino de Química há pelo menos 25 anos”, afirmam os pesquisadores.

Outro ponto questionado é o conteúdo sobre “reações endotérmicas e exotérmicas”.

“O material didático da SeducSP sugere que tanto as reações químicas quanto as mudanças de fase poderiam ser considerados processos ‘termoquímicos’, o que é rigorosamente falso”, diz a nota.

“Além disso, algumas equações químicas são apresentadas de forma desbalanceada, o que viola o princípio fundante da Química moderna: a conservação das massas”, afirma o texto.

Outros problemas, como uma linguagem inadequada à idade dos estudantes e “um conjunto de atividades incompatível com o tempo de uma aula de 45 minutos” também são criticados.

“Não há argumento didático, pedagógico ou educacional que permita defender a adoção desse tipo de material didático no lugar das obras didáticas do PNLD”, diz a nota técnica.

Nessa quarta-feira (16/8), professores da rede estadual fizeram um protesto contra a recusa do governo estadual aos livros didáticos do PNLD. Em entrevista ao Metrópoles, educadores afirmaram que os slides oferecidos pelo governo são insuficientes e tiram a autonomia dos professores.

“A gente quer que eles [estudantes] se aprofundem, mas com o slide a gente tá caminhando para o contrário, tá caminhando para a superficialidade”, disse o professor de história Patrick Garcia Sanchez.

Priscila Perrun, que dá aula em uma escola periférica de Guarulhos, também criticou os slides: “Mata a imaginação, a criatividade em sala de aula”, afirma a educadora, que é responsável pela disciplina de Artes.

O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nessa quarta que o governo Tarcísio adquira os livros didáticos do Ministério da Educação, que haviam sido recusados para as escolas da rede estadual a partir do 6º ano.

Segundo o juiz Antônio Augusto Galvão de França, da 4ª Vara da Fazenda Pública, “a abruta desconstituição administrativa da adesão ao programa é, em tese, apta a gerar sérios prejuízos à formação escolar dos estudantes e, também, ao erário estadual, conforme explanado pelos autores”.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação disse que, desde 2009, a rede estadual de São Paulo utiliza material pedagógico próprio, alinhado ao currículo do estado. O conteúdo, informou a secretaria, é elaborado por uma equipe técnica multidisciplinar.

O órgão classificou a análise dos pesquisadores como “um material descontextualizado, subjetivo e que ignora as premissas e conceitos básicos que ancoram a produção de material didático”.

Por fim, segundo a secretaria, a pesquisa erra, ainda, “ao desconsiderar a existência de uma série de materiais físicos e digitais disponíveis aos estudantes para alegar superficialidade em matérias específicas”.

 

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