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Crítica: Dom vai além do mundo do crime e toca em drama familiar

Primeira produção brasileira da Amazon supera o thriller policial e embarca em uma perspectiva humana na guerra contra as drogas

atualizado

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Dom
1 de 1 Dom - Foto: Divulgação

Em Dom, as primeiras cenas em meio a um baile funk na favela podem fazer achar que os episódios seguintes serão previsíveis, ainda mais se considerado o fato de que a série é inspirada em um crime real, que aconteceu no Rio de Janeiro. Contudo, a primeira produção brasileira da Amazon, com estreia nesta sexta-feira (4/6), surpreende e pode despertar sentimentos inesperados em quem acredita estar diante de mais uma “série sobre tráfico no Brasil”.

De forma eletrizante, mas sensível ao mesmo tempo, o showrunner Breno Silveira entrega uma produção que perpassa o tradicional thriller policial e embarca na perspectiva humana envolvida na guerra contra as drogas.

A vida do traficante Pedro Dom, interpretado pelo jovem e talentoso Gabriel Leone, é contada sob uma ótica sensível, onde a dor e o sofrimento que a família de um dependente é submetida durante a batalha contra o vício entra em primeiro plano.

A intensidade observada nos conflitos desenvolvidos no seio familiar – e a própria guerra interna que Pedro enfrenta consigo mesmo, em muitos episódios, é capaz de captar maior atenção do espectador que as esperadas cenas de trocas de tiros e perseguições.

O fato de o pai de Pedro, Victor Dantas, ser um policial que atua na luta contra as drogas, torna esse conflito ainda mais envolvente. É o amor paterno, contra a retidão de um trabalho executado a anos para conter o crescimento do tráfico no Rio de Janeiro.

Mesmo com a história contada em espaços temporais diferentes na vida de Pedro e Victor, um vai e volta sem fim na trama, a série não se torna cansativa. Com tantos detalhes, é possível notar que o roteiro tem profundidade para falar sobre a trajetória dos protagonistas de uma forma rica em detalhes.

A relação de Dom com Jasmin (Raquel Villar) e Viviane (Isabella Santoni) é de uma química indiscutível. O chamado “bonde” é quem faz a vida de Pedro desenrolar, ou se enrolar ainda mais. Ele experimenta o poder, sexo e ostentação oferecidos pelo mundo do crime, ao passo que, em outros momentos, prova o amargor das internações para controlar a dependência química.

A série levanta uma série de conflitos sociais presentes no cotidiano brasileiro, como a desigualdade social e o racismo. Contudo, uma das maiores lições de Dom é mostrar que o tráfico de drogas não é, em sua totalidade, formado por pessoas “que vem do Morro”. Assim como Pedro, muitos membros da classe média optam pelo caminho do crime, ainda que tenham família, acesso à boa educação e moradia.

Quando a última cena chega ao fim, fica difícil digerir que aquele é o término da primeira temporada. Quanto tempo se passou até Dom chegar aquele túnel sem saída? Seria esse o prenúncio de uma continuação da série? Aguardemos.

Avaliação: Ótimo

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