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Livro revela que Honestino Guimarães nunca participou da luta armada

A vida e morte do estudante da UnB são apresentados na obra “Paixão de Honestina”, que será lançada nesta terça-feira (28/3)

atualizado

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Kácio Pacheco/Metrópoles
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1 de 1 honestino-quimaraes - Foto: Kácio Pacheco/Metrópoles

Com o objetivo de revelar história de Honestino Guimarães, estudante da Universidade de Brasília (UnB) morto durante a ditadura militar, Betty Almeida escreveu o livro “Paixão de Honestino”. A obra também mergulha no contexto político da época, faz um panorama do movimento estudantil de Brasília e dos efeitos negativos da intervenção militar.

Na obra, a trajetória de Honestino é revisitada de forma a resolver os silêncios impostos pelo ditadura, que geraram informações desencontradas sobre o estudante. O livro tem lançamento marcado para esta terça-feira (28/3), às 15h, no Auditório Roberto Salmeron da Faculdade de Tecnologia da UnB.

1 – O estudante não atuou na luta armada

A Honestino, fiel a seus ideais de fraternidade e humanismo, no íntimo não agradava seguir o caminho da luta armada

Uma das pontes de Brasília se tornou alvo de polêmica quando teve o nome “Costa e Silva” trocado por “Honestino Guimarães”. Muitos dos que defendiam a permanência da homenagem ao ditador diziam que o estudante era um terrorista e, por isso, não deveria receber gratificações.

Daniel Ferreira/Metrópoles

 

Betty Almeida afirma, em sua obra, que o estudante nunca pegou em armas durante sua militância. “Embora ele fosse socialista e acreditasse que uma revolução nunca seria possível por vias pacíficas, ele nunca atuou pela luta armada”, explicou.

2 – Ele não era brasiliense e não chegou a formar na UnB

Divulgação

Nascido em Itaberaí (GO), Honestino tinha 13 anos quando se mudou para a capital recém-inaugurada em 1960. Ele fez colegial no Elefante Branco (Asa Sul) e, em 1965, passou na UnB em 1º lugar no vestibular geral (fez 257 pontos de 260) e começou o curso de Geologia.

Em 1968, entrou para a clandestinidade por sua atuação no movimento estudantil, fugindo para o Rio de Janeiro (RJ) e paralisando suas atividades na UnB. Em 1973, ele foi levado ao Centro de Informações da Marinha (CENIMAR) e, logo em seguida, dado como desaparecido.

Ou seja, dos 26 anos de vida, oito foram vividos na capital. “Foi o momento mais importante da vida de Honestino. Aqui ele teve seus melhores amigos e leu os livros que fizeram parte de sua formação política”, conta Betty.

3 – Honestino foi morto pelos militares na prisão?

No dia 12 de março de 1996, Maria Rosa (mãe do estudante) recebeu uma certidão de óbito que não indicava a causa da morte, nem o médico atestante, nem o local do sepultamento. (…) O óbito é dado como ocorrido em 10 de outubro de 1973 (a data de sua prisão). (…) Com a emissão do documento, o Estado reconhece formalmente a morte e admite ser responsável por esse fato

Paixão de Honestino (p. 370)

O atestado saiu apenas em 1996, mas Maria Rosa já havia recebido a informação de que seu filho tinha sido morto pelos militares ainda no ano de 1974. Em janeiro, a mãe de Honestino conheceu a militante Maria Aparecida, que havia sido presa no ano anterior.

Essa mulher teria ouvido de um dos agentes que o estudante tinha sido morto. “Ela não o conhecia e nem chegou a vê-lo pessoalmente, mas era a única pessoa que tinha uma informação concreta sobre o que tinha acontecido com Honestino. E, pelo visto, estava certa”, relata Betty.

Outras reportagens e relatos de ex-militares dão informações desencontradas. Entre elas, a de que o corpo de Honestino Guimarães teria sido jogado no Buraco das Araras, ponto turístico de Formosa (GO). Nada foi encontrado até hoje.

4 – Ele foi torturado duas vezes e, sua família, impedida de vê-lo na prisão

Divulgação

Em agosto de 1968, a UnB foi invadida pelos militares, cercando 500 estudantes e prendendo 60 deles no mesmo dia. Um deles foi Honestino Guimarães. Uma reportagem citada no livro afirma que o universitário passou o dia incomunicável e que “teve o braço fraturado pela ação policial”. Essa foi a primeira tortura que Honestino viria a sofrer.

Libertado quatro meses depois, o jovem se mudou imediatamente para o Rio de Janeiro. Em 1973, após sua captura, Honestino teria sido trazido de volta à Brasília – pois era aqui que havia processos contra ele. Mas “um erro em uma sessão de tortura teria resultado na morte” do estudante.

O fato foi apresentado pela sede brasiliense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), mas o processo desapareceu em 1992. A escritora relembra que, apesar de ser pouco conhecida, a repressão em Brasília era violenta. “A tortura ali nada tinha de científica, muitas vezes era pancadaria pura, indiscriminada, que deixava marcas, quebrava”.

Em dezembro de 1973 – apenas dois meses depois da prisão de Honestino – sua mãe havia recebido autorização para visitá-lo na Papuda, presídio de Brasília. Após passar uma tarde no local, os militares avisaram que ele não estava no local. Maria Rosa, então, não recebeu mais notícias de seu filho.

“Impedir a visita da família teria sido apenas um capricho das autoridades militares de Brasília? Ou justamente naquele momento seu destino tinha sido decidido pelos executores da limpeza política que precedia a abertura lenta, gradual e segura de Geisel?”, questionou Betty.

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