Conheça filmes do DF que disputam o Candango no Festival de Brasília
Longa New Life S.A. e curta Aulas que Matei representam a capital na mostra competitiva do evento cinematográfico mais antigo do Brasil
atualizado

Encontro de cinema mais antigo e tradicional do Brasil, o Festival de Brasília retorna em 2018 para a sua 51ª edição, de 14 a 23 de setembro, no Cine Brasília. No páreo, 21 filmes concorrem ao troféu Candango. O longa New Life S.A., de André Carvalheira, e o curta Aulas que Matei, assinado pela dupla Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia, representam o Distrito Federal na principal seção do evento, a mostra competitiva.
Ambientadas na cidade e filmadas com elencos de maioria brasiliense, ambas as produções usam Brasília como pano de fundo para histórias, personagens e temáticas diversos. Dirigido por um estreante em longas, New Life S.A. parte do arquiteto Augusto (o paulista Renan Rovida) para mostrar pessoas envolvidas pelas relações entre espaços privados e sociedade.
Aulas que Matei, como o título já adianta, apresenta uma realidade escolar em mais um dia de colégio. Mas nem todos os alunos conseguirão chegar a tempo.

O diretor André Carvalheira: longa New Life S.A. também concorre ao Troféu Câmara Legislativa na Mostra Brasília, segmento local do Festival de Brasília Divulgação

New Life S.A. será exibido em 16 de setembro, às 21h: filme tem trama multiplot e acompanha o arquiteto Augusto, vivido por Renan Rovida Divulgação
New Life S/A: uma crônica sobre espaços interiores
Aos 47 anos, André Carvalheira construiu uma carreira importante como um dos diretores de fotografia mais requisitados de Brasília. Participou de filmes como Rock Brasília: Era de Ouro (2011), Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa (2013) e O Último Cine Drive-in (2015). Até pelos constantes compromissos com trabalhos de outros cineastas, foi deixando seu primeiro longa sempre para depois. A espera durou mais de dez anos.
Antes intitulado Triz, o projeto ganhou fôlego quando Carvalheira conquistou prêmio do FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Dividiu a primeira versão do roteiro com o amigo Pablo Gonçalo, professor da UnB. O filme ficou parado um tempo e voltou quando o produtor Alisson Machado o inscreveu em outro edital. Aurélio Aragão entrou para dar o último trato no texto. Era hora de filmar.
“Não é exatamente um filme de protagonista, mas multiplot”, define o diretor. A experiência com fotografia obviamente impactou no visual do longa. Carvalheira dispensou o uso de planos e contraplanos e se esmerou em planos-sequência, por exemplo. A direção de fotografia de New Life S.A. ficou a cargo de Krishna Schmidt, que trabalhou em A Última Estação (2012), longa de Marcio Curi.
Procuramos uma imagem, um enquadramento que atendesse narrativamente ao que o filme estava se propondo. Tentamos buscar uma força muito grande na imagem, quase como se ela falasse por si só
André Carvalheira, diretor
Apesar de envolver arquitetura, Carvalheira quis fugir da Brasília clichê, aquela dos monumentos e cartões postais. “Envolve muito mais um espaço menor, interior do que exterior. A cidade sempre foi muito marcante desde os meus primeiros curtas e inspiradora para pensar cinema”, explica.

Aulas que Matei: realidade de uma escola pública no Distrito Federal Pedro Garcia/Divulgação

Curta será exibido em 19 de setembro, às 20h30 Pedro Garcia/Divulgação
Aulas que Matei: quando o cinema encontra a escola
O curta de Amanda Devulsky, de 27 anos, e Pedro B. Garcia, 28, partiu da experiência do diretor com projetos envolvendo cinema e educação. Ele realizou várias iniciativas assim ao lado de Camila Shinoda, produtora do filme. “É olhar a escola para além do ensino de conteúdos, mas através das relações humanas que constroem esse lugar”, diz ele.
Com elenco formado por pessoas da comunidade escolar, Aulas que Matei trouxe um senso de coletividade que ajudou na própria construção da obra. De certa maneira, segundo a cineasta, o trabalho dialoga com questões do momento, ainda que indiretamente.
“Acho que no nosso atual momento essa dimensão pública tanto da educação como da vida em geral tem um papel central politicamente falando. Isso a gente pôde ver na importância das ocupações de secundaristas ou no projeto autoritário Escola sem Partido”, reflete a diretora, uma das criadoras do site feminista Verberenas e curadora do Cine Cleo.
A dupla trabalha em parceria já há alguns anos e recentemente produziu outro curta, Fantasma Cidade Fantasma, exibido em festival francês.