Excluídos de eventos liberados no DF, circos temem não sobreviver até 2021
GDF autorizou volta de cinemas, teatros, bares e restaurantes, mas circos seguem sem previsão. Drama tem levado artistas a trabalhar na rua
atualizado
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Após o Governo do Distrito Federal (GDF) liberar o funcionamento de teatros, museus, bares e restaurantes, entre outras atividades no DF, artistas da capital viram, enfim, a chance de recomeçar. Esse, porém, não é o caso dos profissionais circenses. Fechados há mais de seis meses devido à pandemia do novo coronavírus, os circos seguem sem previsão de reabertura e vivem forte drama para sobreviver até 2021.
O setor de eventos corporativos foi autorizado a retornar de forma gradual, segundo consta no Diário Oficial do DF (DODF) da última terça-feira (22/9). Isso significa a retomada de congressos, convenções, seminários, simpósios, feiras e palestras na capital. Atividades para até 100 pessoas serão permitidas a partir de 6 de outubro. Em 27 de outubro, o público autorizado sobe para 300 e, em 17 de novembro, chega a 500. A partir de 8 de dezembro, o número de participantes pode ser de até mil pessoas. As restrições vão até 5 de janeiro de 2021.
A ampliação das atividades que podem ser retomadas, contudo, não contemplou as atividades circenses. Conforme a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), esse segmento está entre os estabelecimentos e atividades que exigem licença eventual de funcionamento. E, “como a concessão dessas permissões ainda estão suspensas pelo GDF, os circos continuam sem poder funcionar”.
Segundo a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec-DF), há cinco circos instituídos formalmente no DF. Desses, somente um conseguiu permanecer funcionando após o começo da pandemia, mas na modalidade drive-in.
Doações da população
O Circo Vitória, no Guará II, é um dos que estão sobrevivendo de doações desde março. Conforme acredita a filha dos proprietários, Michele Mocellin de Almeida, 38 anos, o grupo de artistas não deve voltar a se apresentar neste ano.
Atualmente, para tentar algum retorno financeiro, eles comercializam lanches, como algodão-doce e pipoca, e itens usados no circo, como bolas coloridas. “Vendemos produtos nas redes sociais ou diretamente na rua. O pessoal se veste de palhaço e vai para a rua vender. Mas isso é muito inviável financeiramente”, relata.
Os artistas do Guará ainda tentaram alternativa para retomar as apresentações, mas não tiveram sucesso. “Tentamos o drive-in, mas o nosso circo não se enquadra no decreto, porque não estamos em área asfaltada de estacionamento, ficamos em área verde”, lamenta Michele.
“Estamos brigando para o circo ser liberado também, mas, mesmo quando pudermos voltar, não sabemos como vamos custear esse retorno. Nossa estrutura ficou parada por meses, e não temos dinheiro nem para a manutenção do espaço”, acrescenta.
Veja imagens do Circo Vitória:

Michele (de azul) e a família vivem drama Hugo Barreto/Metrópoles

GDF não liberou volta dos circos Hugo Barreto/Metrópoles

Estrutura do Circo Vitória está desgastada Hugo Barreto/Metrópoles

Vitória, filha de Michele Hugo Barreto/Metrópoles

Artistas não sabem quando voltarão a se apresentar Hugo Barreto/Metrópoles

Circo segue fechado desde março Hugo Barreto/Metrópoles

No local, trabalham 20 pessoas Hugo Barreto/Metrópoles

Michele acredita que o circo não deve voltar com as atividades neste ano Hugo Barreto/Metrópoles
Vendas na ruas
No Dubai Circus, no Areal, o cenário se repete. Segundo o trapezista Jeferson Benhur, 21, o local também conta com ajuda de brasilienses para sobreviver. “Estamos vendendo balão, maçã do amor. Ficamos cada um em uma região do DF, rodando pelas ruas, para tentar ganhar um dinheirinho com isso, mas está fraco demais”, lamenta o profissional.
Para Jeferson, a crise que a categoria vive agora é algo sem precedentes. “Nunca passamos por algo assim. E não temos nem ideia de quando poderemos voltar a trabalhar”, desabafa.
Alternativa drive-in
Localizado no estacionamento do Estádio Elmo Serejo, em Taguatinga, o Circo Real Português foi o único do DF que conseguiu manter as apresentações, no formato drive-in. Há uma década na capital, ele é fonte de renda para 10 famílias e, mesmo com a alternativa encontrada, vive “a maior crise desta geração”, segundo a trapezista Juliana Portugal, 32.
Com a possibilidade de retomada dos eventos em geral, o que ainda não ocorreu, pois só os corporativos estão autorizados, os artistas chegaram a fazer um plano de retorno. Quando descobriram que não estavam inseridos na autorização mais recente, a preocupação se intensificou. “Ficamos três meses parados, sem renda. Quando liberaram a modalidade drive-in, tivemos a ideia de trazer para o circo”, narra Juliana.
“No início foi legal, teve um movimento bacana. Agora, caiu de novo, porque já abriu tudo e as pessoas têm opções além do drive-in do circo”, lamenta. “A gente briga há muitos anos por reconhecimento, e não temos incentivo para atuar no DF”, completa a trapezista.
Veja imagens do Circo Real Português:

Circo Real Português Hugo Barreto/Metrópoles

Foi o único do DF que conseguiu manter as apresentações Hugo Barreto/Metrópoles

Eles fazem shows no formato drive-in atualmente Hugo Barreto/Metrópoles

Local é fonte de renda de 10 famílias Hugo Barreto/Metrópoles

Circo está na capital há 10 anos Hugo Barreto/Metrópoles

Artistas vivem forte crise Hugo Barreto/Metrópoles

Eles ficaram três meses sem renda Hugo Barreto/Metrópoles

Hoje, lutam para reabrir Hugo Barreto/Metrópoles

Artistas estão sem alternativa Hugo Barreto/Metrópoles

Trapezista em ação Hugo Barreto/Metrópoles

Artista se prepara para apresentação: formato drive-in foi mantido, mas público não comparece Hugo Barreto/Metrópoles
Auxílio emergencial
Em nota, a Secretaria de Cultura do DF informou que, junto à Secretaria de Desenvolvimento Social, iniciou em 15 de setembro “o atendimento às famílias dos artistas circenses com ações de proteção social básica”. “Com o auxílio dos CRAS das regiões administrativas que possuem circos em suas localidades, já estão sendo fornecidos o auxílio-calamidade e o Prato Cheio”, registrou a pasta.
Ainda conforme a secretaria, uma alternativa de ajuda aos circos será o auxílio oferecido pela Lei Aldir Blanc. Ela tem como objetivo estabelecer recurso emergencial para artistas, coletivos e empresas que atuam no setor cultural durante a pandemia.
“Os circos se encaixam na Linha 2 da lei, que vai pagar três parcelas de R$ 6 mil aos espaços culturais. Os artistas circenses, se não receberam os recursos do auxílio emergencial federal, podem receber os recursos da Linha 1. Caso o circo tenha problemas com as exigências da Linha 2, poderá recorrer à Linha 3 (editais)”, registrou a pasta.
No entanto, o pagamento só deve ser feito em outubro. De acordo com a Secretaria de Cultura, os inscritos no cadastro aberto desde 19 de agosto que foram avaliados “já estão com seus CPFs/CNPJs incluídos na plataforma Mais Brasil para cruzamento de dados e homologação pela Dataprev. Depois desse resultado, serão avaliados para o recebimento do valor, que já se encontra repassado para o DF”.