Os idiotas velhos foram idiotas jovens

Sobre o episódio das calouras que zombaram de uma mulher de 44 anos que começou a estudar: a idade só realça as boas qualidades da juventude

atualizado 14/03/2023 19:46

Foto colorida de mulher acompanhando paciente idoso - Metrópoles iStock

Três calouras de biomedicina de uma universidade de Bauru, no interior de São Paulo, foram parar nos jornais. Zombaram, em vídeo publicado no Instagram, de uma colega de 44 anos que começou a estudar neste ano. A mulher só agora teve condição econômica de fazê-lo. O motivo do deboche é que ela seria velha para frequentar uma universidade.  O caso está sendo tratado como etarismo ou velhofobia, que é a discriminação contra pessoas de mais idade.

Como estou para fazer 61 anos, ainda sem me acostumar com a ideia de ter feito 60, a princípio fiquei espantado que alguém de 44 anos pudesse ser considerado velho. O espanto logo passou, no entanto, ao me lembrar de que, quando tinha lá os meus 20 anos, também considerava velho quem tinha o dobro da minha idade. Mas, no meu caso, eu era um jovem que ambicionava o que julgava ser a maturidade dos velhos, a sabedoria dos velhos, a experiência dos velhos. Não demorei a descobrir, contudo, que os imaturos também envelhecem, assim como os idiotas e os despreparados. Para não falar, obviamente, dos canalhas.

Não há que se idealizar a velhice e muito menos a juventude.

Idade só realça boas qualidades de quem já as tem desde muito cedo, com a passagem dos anos que as coloca à prova, aprimorando-as. No mais, a idade apenas piora o que já temos de ruim na juventude. Se formos capazes de aprender com os nossos erros ou de atenuar algum aspecto detestável da nossa personalidade, é porque já tínhamos essa boa propensão lá atrás, quando achávamos que nunca teríamos rugas nem no rosto, nem na alma.

Sim, sou um determinista: o menino é pai do homem; o jovem é pai do velho.

Dito de outra forma, os idiotas velhos foram idiotas jovens.

Velhice e juventude. Sêneca é autor de máximas que, ainda hoje, inspiram um monte de gente. Há citações dele para tudo. Esse episódio na universidade de Bauru me lembrou uma frase de Sêneca que julguei perversa quando li, em um dicionário de provérbios latinos comprado na Itália quando eu era jovem. A frase é a seguinte: “Coisa feia e ridícula é ver um velho aprendendo a ler: na juventude, deve-se acumular saber e, na velhice, fazer uso dela”.

Relativizei a afirmação, visto que Sêneca queria enfatizar, com esse comentário sobre os velhos, a necessidade de os jovens estudarem. Quando peguei o livro, para citá-la com exatidão, encontrei outra frase dele: “O que é mais triste do que um velho que começa a saber viver?” Mais uma vez relativizei, porque ele estava sendo sarcástico com velhos que bancam os jovens na aparência e nos modos, depois de desperdiçar a juventude. Isso já existia na Roma Antiga e é mesmo ridículo.

Com essas calouras de Bauru, não preciso relativizar nada. O destino delas já está traçado.

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