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União Química nega lobby para liberação da Sputnik V: “A empresa não tem lobista”

Diretor da farmacêutica, Rogério Rosso foi apontado como lobista junto à Anvisa e parlamentares. Ele é ex-governador e ex-deputado federal

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Vacina Sputnik V
1 de 1 Vacina Sputnik V - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Após reunião com representantes do Ministério da Saúde, na manhã desta sexta-feira (5/2), o presidente da União Química, Fernando Marques, negou lobby da empresa para liberação da Sputnik V, vacina russa contra a Covid-19 que será produzida no Distrito Federal.

“A empresa não tem lobista. Nós temos profissionais envolvidos em um projeto chamado Sptunik V, para atender essa tragédia que está assolando o mundo inteiro”, declarou aos jornalistas que estavam na porta do órgão federal.

O dono da União Química saiu em defesa do diretor de Negócios Internacionais, Rogério Rosso. Ex-deputado federal e ex-governador do DF, Rosso foi apontado como lobista da Sputnik V junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e parlamentares.

“É executivo da nossa companhia desde março de 2019. Foi executivo de grandes companhias, inclusive, da Fiat. Só no ano de 2019, fez mais de 18 viagens internacionais. Não se trata de um lobista. É um executivo que, por acaso, entrou na política e agora voltou de forma efetiva a trabalhar na iniciativa privada”, disse Fernando Marques.

Marques e Rosso integraram a mesma coligação partidária nas eleições de 2018. Candidato mais rico, com R$ 667,9 milhões declarados, o empresário concorreu ao Senado, enquanto o ex-deputado disputou o Governo do Distrito Federal. Eles não foram eleitos.

A coluna Grande Angular questionou Rosso sobre sua atuação em relação à Sputnik V (confira a entrevista abaixo). O diretor da empresa declarou que “todas as regras exigidas estão sendo cumpridas pela empresa”. “Para salvar vidas, até com o papa, se for necessário, temos que falar”, destacou.

“Fui contratado pela União Química, em março de 2019, para a função de diretor de Negócios Internacionais, tendo como objetivo principal abrir redes de distribuição de nossos produtos em todo o mundo e buscar oportunidades internacionais para a empresa”, assinalou.

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Leia a entrevista com o diretor de Negócios Internacionais da União Química, Rogério Rosso:

O senhor foi contratado pela União Química pra fazer lobby?

Fui contratado pela União Química, em março de 2019, para a função de diretor de Negócios Internacionais, tendo como objetivo principal abrir redes de distribuição de nossos produtos em todo o mundo e buscar oportunidades internacionais para a empresa. Fiz mais de 15 viagens internacionais, só em 2019, para a Rússia, os Estados Unidos [EUA], México, Colômbia, Equador, Argentina, Uruguai, China, Chile, Paquistão, Quênia, África do Sul, entre outros países. Para os EUA e o Paquistão, fui mais de duas vezes. Em 2020, com o surgimento da pandemia, iniciamos as tratativas com a Rússia para produção e disponibilização da Sputnik V no Brasil.

No intervalo em que trabalhou na Caterpillar, Mercedes-Benz, Fiat e agora na contratação pela União Química, o senhor teve experiência política, tendo sido governador do DF e candidato à presidência da Câmara dos Deputados. A carreia política ajuda nas negociações envolvendo a vacina?

Ajuda sobretudo a compreender que, para salvar vidas nesta pandemia, cada dose de vacina que não chega ao Brasil é a tristeza de mais mortes. A compreender que, para salvar vidas, até com o papa, se for necessário, temos que falar. Me ajuda a compreender que somos um só Brasil e que nosso inimigo comum é o vírus, mas infelizmente nem todos compreendem isso.

A empresa está fazendo pressão para pular etapas e apressar a liberação da Sputnik V?

Todas as regras exigidas estão sendo cumpridas pela empresa. Entretanto, o vírus não respeita prazos nem regras.

Entenda

O Ministério da Saúde manifestou interesse na aquisição de 10 milhões de doses da Sputnik V, durante reunião com a União Química, nesta sexta-feira. A compra, contudo, depende da liberação de uso emergencial pela Anvisa.

Em janeiro, o órgão chegou a devolver a documentação à União Química por falta de requisitos para o processo, como a ausência do estudo clínico da fase 3 em andamento no país.

O cenário mudou nesta semana. A Anvisa anunciou, na última quarta-feira (3/2), a simplificação das regras para uso emergencial das vacinas contra a Covid-19. Para solicitar o registro pela modalidade, não será mais necessário que as indústrias interessadas submetam suas fórmulas à terceira fase do estudo em território brasileiro.

As empresas, porém, deverão se comprometer a entregar todos os dados, terminar o desenvolvimento do imunizante e apresentar o medicamento para registro completo no futuro.

No dia seguinte ao comunicado da Anvisa, o Senado Federal aprovou medida provisória que agiliza autorização temporária de vacinas para uso emergencial. A MP estabelece que a liberação de produtos com autorização em determinados países deve levar até cinco dias. O texto ainda incluiu a Rússia na lista de órgãos internacionais que devem ser considerados para a aprovação no Brasil.

Questionado se houve alguma negociação de representante da empresa com parlamentares para aprovação da MP, Marques respondeu: “De jeito algum. O Legislativo representa a população. É do povo. O nosso Legislativo tem que funcionar e cobrar o Executivo”.

O empresário disse que a medida provisória aprovada pelo Legislativo é “necessária”. “Ninguém fez pressão para senador nem para deputados. Quem faz pressão é a população. Eles estão lá para legislar e atender a ansiedade da população”, pontuou Fernando Marques.

A União Química iniciou no Brasil o processo de produção do IFA [Insumo Farmacêutico Ativo], que é a matéria-prima do imunizante, para fins de teste-piloto. A previsão da empresa é de que a fabricação da Sputnik V comece entre março e abril e chegue a 8 milhões de doses por mês até maio.

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