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Se o coronavírus fosse doença do povão, ninguém estaria nem aí

Filas nos hospitais, falta de médicos, de remédios, de leitos e de medicamentos matam mais do que qualquer vírus

atualizado

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A prova e contraprova de que a epidemia do coronavírus é coisa de deputado, político, ministro de um desses 150 tribunais que foram inventados ao longo dos anos em Brasília, gente do “setor de mansões” e o resto dessa elite brasileira de quinta categoria é o estado de transe hipnótico da mídia em relação à epidemia. Se fosse doença do povão, como todas as demais, ninguém estaria nem aí.

Os milhões de brasileiros que têm de recorrer ao SUS para tentarem escapar vivos de alguma doença sabem, muito bem, que não é preciso vírus nenhum sair da China, atravessar o mundo e aparecer aqui para infernizar suas vidas. Sempre foram infernizados todos os dias, do parto ao caixão, por filas nos hospitais, falta de médicos, falta de exames, falta de remédios, falta de data para operações, falta de leitos, falta de medicamentos, falta de tudo. Essas coisas matam muito mais que qualquer vírus. Não há quarentena capaz de proteger o brasileiro delas.

Nenhum órgão de comunicação jamais gastou um centésimo do tempo que dedica ao coronavírus para falar dessas misérias. Falam, de tempos em tempos, quando a situação supera algum limite de horror – mas logo se esquecem e não voltam mais ao tema. Você sabe, todos os dias, quantos novos infectados pela epidemia há no Brasil. Sabe quantos mortos houve na véspera. Mas nunca viu alguém publicar o seguinte: “Mais X pessoas morrem na fila do SUS”.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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