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Novos vazamentos: “Moro viola o sistema acusatório”, disse procuradora

Nos diálogos divulgados pelo The Intercept Brasil, membros da força-tarefa da Lava Jato ainda se preocupam com a ida do ex-juiz para o MJ

atualizado

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O site The Intercept Brasil publicou na madrugada deste sábado (29/06/2019) mais uma reportagem com vazamentos de integrantes que compunham a força-tarefa da Lava Jato. Em um chat privado do Telegram, segundo o veículo de comunicação, dois procuradores do Ministério Público Federal (MPF) teceram duras críticas a Sergio Moro, então juiz federal e atual ministro da Justiça e Segurança Pública.

“Moro sempre viola o sistema acusatório”, disparou a procuradora Monique Cheker, em diálogo travado no dia 1º de novembro de 2018 com  Antônio Carlos Welter,  outro procurador da operação, que responde à colega: “Cara, eu não confio no Moro”.  De acordo com The Intercept Brasil, a troca de mensagens ocorreu uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro (PSL) para integrar o alto escalão do Executivo.

Conforme a publicação, o alinhamento de Moro com a política despertou descontentamento até mesmo de grandes apoiadores do ex-juiz. “Mesmo o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol (que sempre defendeu Moro), e o decano do grupo, Carlos Fernando dos Santos Lima, íntimo do então juiz, confessaram preferir que ele não aderisse ao governo Bolsonaro”, diz o texto assinado por Glenn Greenwald, Rafael Moro Martins, Leandro Demori e Victor Pougy.

Num dos textos publicados pela página, Deltan Dallagnol mostra-se preocupado com a ida de Sergio Moro para Ministério da Justiça. “Jan, não sei qual sua posição sobre a saída do Moro pro MJ, mas temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública. Na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e LJ [Lava Jato] estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a LJ [Lava JAto] e vice-versa”, escreveu Dallagnol, em 6 de novembro de 2018, a Janice Agostinho Barreto Ascari, Procuradora da República da 3ª Região (MS e SP).

Em outra conversa de procuradores em um grupo batizado de “MPF Gilmar Mendes”, o procurador José Augusto Simões Vagos classifica o movimento de Sergio Moro de “inoportuno”, opinião corroborada pelo colega Sergio Luiz Pinel Dias: “Pessoalmente acho ruim para o legado da LJ [Lava Jato], por melhor que sejam as intenções dele de tentar influir por dentro. Para mim, a LJ, além de ser um símbolo, é um método de atuação das nossas instituições, que nos permitiu, até aqui, surfar juntos em uma excelente onda”, analisou.

 

Irritação com a esposa de Moro

Conforme revelado pelo The Intercept Brasil, um grupo de procuradores teria se irritado, ainda, com o comportamento da esposa de Sergio Moro, Rosângela Wolff, ao comemorar explicitamente a vitória de Bolsonaro nas urnas. Em tom jocoso sobre Bolsonaro, ao qual chama de “Bolso”, o procurador-chefe do MPF do Pará, Alan Mansur, teceu o seguinte comentário no grupo: “Esposa de Moro comemorando a vitória do Bolso nas redes”.

Na sequência, o ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) José Robalinho Cavalcanti responde: “Erro crasso. Compromete Moro. E muito”. Logo abaixo, outra procuradora se irrita: “Como perde a chance de ficar de boa, pqp”, escreveu Janice Agostinho Barreto.

Veja:

Confira todos os diálogos vazados neste sábado (29/06/2019) pelo The Intercept Brasil:

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Mensagens secretas

As conversas entre Moro e Dallagnol foram reveladas pelo The Intercept Brasil no dia 9 de junho. A publicação traz uma série de mensagens privadas, fotos, documentos judiciais e outros itens compartilhados entre os dois.

Em conversas privadas, o magistrado teria sugerido ao procurador que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrado agilidade em novas operações, dado conselhos estratégicos e pistas informais de investigação e sugeriu recursos ao Ministério Público.

Segundo a publicação, as conversas fazem parte de um lote de arquivos secretos enviados por uma fonte anônima há algumas semanas, antes da notícia da invasão do celular do ministro Moro, divulgada nesta semana, na qual ele afirmou que não houve captação de conteúdo. “O único papel do Intercept foi receber o material da fonte, que nos informou que já havia obtido todas as informações e estava ansioso para repassá-las a jornalistas”, diz o site.

Material ilegítimo
Por meio de nota, a força-tarefa da Lava Jato disse que o material publicado é ilegítimo e salienta a origem criminosa. “O seu uso [publicação] caracteriza total irresponsabilidade do órgão de imprensa. A sua divulgação não traz qualquer interesse público subjacente, mas apenas visa constranger as autoridades públicas mencionadas”, apontou em nota.

“O trabalho da força-tarefa foi analisado e validado por diferentes instâncias do Judiciário. A análise de fatos e provas, a seu tempo, em fundamentação robusta e detalhada pelas diferentes instâncias, tornam inquestionável a imparcialidade e independência com que a Lava Jato foi conduzida. Lamentamos ataques a autoridades que trabalham no combate à corrupção”, respondeu.

Colaborou Fernando Caixeta

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