Após apagão, moradores do Amapá pegam água às margens de esgoto: “É o que tá salvando”
População enfrentará esta semana rodízio no abastecimento de energia. Justiça Federal deu prazo de três dias para serviço ser restabelecido
atualizado
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Enviados especiais a Macapá (AP) – O Amapá vive uma crise de abastecimento hidráulico e de energia elétrica há seis dias, provocada por um apagão. Com as torneiras secas em casa, moradores do bairro Perpétuo Socorro, em Macapá, a capital do estado, passaram a coletar água de uma tubulação às margens do esgoto da cidade.
O mau cheiro é forte. Sob a luz do sol e o calor na casa dos 30ºC, Edelson Ferreira explica que essa é a única forma de colocar água dentro de casa. Mas ele ressalta que essa reserva serve apenas para lavar louça e roupa.
A Justiça já deu prazo de três dias para que os serviços sejam retomados. Neste domingo (8/11), foi divulgado o cronograma de rodízio de fornecimento de energia elétrica nas 13 cidades do Amapá atingidas pelo apagão na noite de terça-feira (3/11). São 765 mil pessoas afetadas. O revezamento será feito até o restabelecimento total no estado, previsto pelo Ministério de Minas e Energia para o próximo fim de semana, sem data definida.
A Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) fez a divisão para que o sistema funcione com duração de pelo menos 6 horas para cada região. Isso porque, segundo a empresa, só cerca de 70% da capacidade do sistema elétrico foi restabelecida. Em alguns locais, a luz ainda não retornou.
O bairro Perpétuo Socorro é um dos mais atingidos. Na região, a coleta da água é feita a partir de uma tubulação quebrada da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa), localizada a menos de um metro da rede de esgoto. A água começou a vazar do local na manhã seguinte ao incêndio que atingiu a subestação de energia na Zona Norte do estado.
“Por enquanto, é o que tá salvando a gente”, diz Edelson, que divide uma casa de madeira com a mãe e mais dois sobrinhos.
Ele explica que, após coletar a água em vários baldes, inicia um processo de distribuição dentro da própria casa por meio de duas caixas d’água, mas isso só é possível quando a energia é fornecida no bairro — o que ocorre de seis em seis horas.
“Apesar de fazer um tratamento com água sanitária e outros produtos, essa água eu uso apenas para limpeza. Não serve para alimentação nem para beber. Além dela ser coletada em um local de contaminação, eu não tenho certeza se a companhia está tratando essa água vinda da tubulação direito”, relata.
“A gente não tem como fazer nada sem água. A criança vai no banheiro e os dejetos vão ficar acumulados. Tem que tirar de lá manualmente. Eu vou lavar uma louça que preciso usar, tá totalmente sujo, sem água eu não consigo fazer”, prossegue.
Prejuízos
Para Edelson, o maior prejuízo está sendo a perda de alimentos. “Na minha casa, a comida congelada se desfez toda. O mesmo aconteceu no comércio que precisou baixar preço, senão ia jogar fora”, diz.
Esse é o caso do comerciante Edson Souza, dono de um açougue. Segundo ele, foi perdida mais de uma tonelada de carne, o equivalente a R$ 18 mil. “Quem vai me ressarcir desse prejuízo que tive?”, indaga Edson, reivindicando ação do governo estadual para arcar com os custos.

Carne estragou, prejuízo aos comerciantes Hugo Barreto/Metrópoles

Açougue em Macapá: falta comida Hugo Barreto/Metrópoles

Freezer vazio em comércio Hugo Barreto/Metrópoles

Açougue em Macapá Hugo Barreto/Metrópoles

Falta comida Hugo Barreto/Metrópoles

Carnes em açougues estragam Hugo Barreto/Metrópoles
O comerciante ainda explica que, desde o desabastecimento, compra apenas pequenas peças de carne para vender em um único dia, já que a energia está sendo fornecida em esquema de rodízio entre os municípios, de seis em seis horas.
“A energia fica oscilando. A gente está tentando refrigerar a carne porque precisa continuar a trabalhar”, afirma.
Início do apagão
Na noite de terça-feira (3/11), enquanto ocorria uma forte tempestade em Macapá, uma explosão seguida de incêndio atingiu os três únicos geradores de energia de uma subestação da Zona Norte.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, as causas do incêndio ainda são desconhecidas. Uma investigação foi aberta para apurar a responsabilidade.

Moradores do bairro Macapaba, no Amapá, sofrem com a falta de luz e água Hugo Barreto/ Metrópoles

Lorena Cardoso Hugo Barreto/ Metrópoles

Moradora carrega balde d'água Hugo Barreto/ Metrópoles

Falta d'água em Macapá Hugo Barreto/ Metrópoles

Cidades estão sem água Hugo Barreto/ Metrópoles

Silvano Santos, morador de Macapá, fala sobre o apagão Hugo Barreto/Metrópoles

Chegada de carga da FAB a Macapá Hugo Barreto/Metropoles

Avião da FAB chega com geradores Hugo Barreto/Metropoles

Hugo Barreto/Metropoles

Hugo Barreto/Metropoles

Apagão afeta 13 dos 16 municípios do estado do Amapá GABRIEL PENHA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Governo enviou equipamentos para tentar contornar o problema GABRIEL PENHA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

População sofreu com o apagão no estado GABRIEL PENHA/PHOTOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
O fogo danificou um transformador e atingiu os outros dois — um deles já estava inoperante por causa de uma manutenção realizada desde dezembro de 2019.
De acordo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que está no Amapá desde sábado (7/11) para monitorar de perto a situação, até o final da próxima semana a energia do Amapá deve ser restabelecida totalmente.
“Geradores termoelétricos chegarão nos próximos dias a Macapá para reforçar a segurança energética do estado e também estamos fazendo obras de manutenção na Coaracy Nunes (usina hidrelética), para que possa aumentar a carga do estado. Como eu disse, nós vamos restabelecer a energia do Amapá gradualmente. Chegamos já próximo a 70%, vamos chegar a 80% e na próxima semana a 100%”, afirmou.
Enquanto isso, a Justiça Federal no Estado determinou na noite desse sábado (7/11) que a solução completa para a falta de energia ocorra em até três dias a partir da intimação, sob pena de multa de R$ 15 milhões para Isolux – companhia responsável pela subestação atingida pelo incêndio.