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Propina percorreu calçadas, estacionamentos e a obra do Mané Garrincha

Delatores da Andrade Gutierrez revelam locais inusitados do DF onde era pago o dinheiro acertado em esquemas investigados pela Lava Jato

atualizado

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Portal da Copa/Divulgação
Brasília obra Mané Garrincha
1 de 1 Brasília obra Mané Garrincha - Foto: Portal da Copa/Divulgação

As delações fechadas no âmbito da Lava Jato revelam um hábito curioso de quem pagou, recebeu e negociou propina no Distrito Federal, nos últimos anos. Seja na calçada, no estacionamento de um prédio comercial, no Balão do Periquito, no Gama, e até no canteiro de obras do Estádio Mané Garrincha, os envolvidos encontravam maneiras de os acordos serem cumpridos de forma discreta e um tanto inusitada.

Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) no dia 1º de outubro do ano passado, um dos ex-executivos da Andrade Gutierrez Rodrigo Ferreira Lopes da Silva detalhou, por exemplo, ter pago, em 2008, R$ 50 mil a um interlocutor de Ulisses Assad, ex-diretor de Engenharia da Valec, empresa que também foi colocada no olho do furacão da Lava Jato por desvios na execução de obras em ferrovias.

O dinheiro, segundo o delator, foi entregue a um motorista de Assad, de codinome “Gordo”, no estacionamento público em frente ao Corporate Financial Center. O prédio espelhado no Setor Comercial Norte é onde funcionava o escritório da Andrade Gutierrez. Assad também recebeu Rodrigo Ferreira Lopes da Silva em sua casa, na SQS 111, para o acerto de R$ 500 mil, ainda conforme consta na delação do ex-executivo da Andrade.

Reprodução
Trecho da delação de Rodrigo Lopes, ex-executivo da Andrade Gutierrez

 

Os acertos também eram feitos em reuniões no Hotel Nacional, no centro da capital. Ulisses Assad teve destaque no cenário político local e nacional na década de 1990. Foi presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), no governo de Joaquim Roriz, por dois anos, entre 1988 e 1990. Presidiu ainda a Companhia de Água e Esgoto do Maranhão (Caema) por cinco anos, de 1990 a 1995.  A sua indicação para a Valec é atribuída a um dos principais caciques da política brasileira: o ex-presidente José Sarney (PMDB/AP).

Os delatores da Andrade também revelaram que, para acertar os pagamento de propina longe dos holofotes e lugares óbvios, se reuniam com os interlocutores de gestores do Governo do DF em espaços públicos, abertos e até inusitados. No caso do ex-governador José Roberto Arruda (PR), a negociação de R$ 2 milhões pela obra do Estádio Mané Garrincha ocorreu em uma calçada, na 114 Sul, em frente à Panificadora Belini.

Os detalhes do acerto foram revelados pelo ex-executivo da empreiteira Carlos José de Souza. O encontro, segundo afirmou, ocorreu em 2013 entre ele, Sérgio Lúcio Silva de Andrade — homem indicado por Arruda para receber o dinheiro –, e outro funcionário da Andrade Gutierrez, Flávio Machado.

“Em breve conversa na calçada, Flávio informou que Lúcio seria o interlocutor de Arruda, responsável por receber os R$ 2 milhões em nome do governador”, disse Souza, em colaboração premiada formalizada e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). E que os pagamentos seriam feitos à medida que a empresa conseguisse os recursos.

Já outro colaborador da Andrade Gutierrez, o ex-executivo da empreiteira Rodrigo Leite Vieira, disse que entregou em 2014, no canteiro de obras do Estádio Mané Garrincha, “vultosos valores de propina destinados ao ex-governador Agnelo Queiroz (PT) em mãos do interlocutor Jorge Luiz Salomão”.

Para os ex-dirigentes da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) Maruska Lima e Nilson Martorelli, os valores teriam sido repassados na casa deles. Segundo os delatores, cada um teria recebido R$ 500 mil pelo esquema nas obras do Mané. Em busca no dia 23 de maio, os investigadores da Polícia Federal acharam planilhas que seriam do pagamento ilícito, além de R$ 268.147,54 em espécie na residência de Martorelli.

Já o ex-secretário da Copa Cláudio Monteiro, conhecido como Cláudio “Buchinho”, ainda conforme os delatores, recebeu R$ 50 mil em um estacionamento do Living Park, no Guará, e no Balão do Periquito, no Gama. As defesas de todos os acusados negam a participação deles nos esquemas delatados pelos ex-executivos da Andrade Gutierrez.

Confira os casos de pagamento ou combinação de propina em locais inusitados:

 

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