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Pais aguardam julgamento de motorista que provocou morte dos filhos

Há 6 anos, Marcos e Vyviane perderam os filhos Pedro, 7, e João, 3, em um acidente de trânsito. O responsável nunca foi preso

atualizado

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Giovana Bembom / Metrópoles
vyviane campos de moraes e marcos campos de moraes
1 de 1 vyviane campos de moraes e marcos campos de moraes - Foto: Giovana Bembom / Metrópoles

As roupas usadas deixadas no cesto ainda tinham o cheiro das crianças. Os brinquedos agora eram de ninguém, mas seguiam espalhados pela casa. O ar tinha o peso do silêncio e do futuro planejado. 

Quando saíram do apartamento na 304 Norte, em 17 de dezembro de 2010, os brasilienses Marcos e Vyviane Campos Moraes eram os pais felizes de Pedro Lucas, 7 anos, e João Marcos, 3. Ao retornar, dias depois, tinham a vida e os braços vazios. Haviam sido transformados pelo acidente de trânsito que matou as duas crianças e os deixou com graves ferimentos.

No DVD do carro, a animação infantil “Nem que a Vaca Tussa” mantinha Pedro Lucas e João Marcos concentrados durante a viagem. Sentados em cadeirinhas e devidamente protegidos, os dois iam com os pais, Marcos e Vyviane Campos Moraes, de Brasília a Rio Verde (GO) para visitar os avós.

 

Arquivo Pessoal
Pedro Lucas e João Marcos

 

Perto de Goiânia, no Km 179 da BR 060, zona rural de Abadia de Goiás, uma Saveiro em alta velocidade ultrapassou num local proibido e bateu de frente com o carro da família.

Marcos dirigia o Idea e tentou desviá-lo jogando-o para o acostamento. O condutor do outro veículo, Fabrício Camargos Cunha Rodovalho, teve a mesma reação.

Marcos desmaiou e Vyviane ficou consciente, mas muito machucada. João Marcos gritava com dores na barriga e Pedro Lucas morreu na hora. O mais novo faleceu dois dias depois no hospital.

O sepultamento das crianças ocorreu enquanto os pais ainda estavam internados. Eles foram enterrados com as roupas que levavam na mala de viagem, para a formatura de uma prima.

“Quando os paramédicos me levaram, eu vi o Pedro morto na cadeirinha. O momento mais difícil é deixar um filho para trás”, lembra Vyviane.

 

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Em 2016, completarão seis anos desde aquele 17 de dezembro. Vyviane, hoje com 40 anos, deixou de ser professora, devido às sequelas do acidente. Ela fraturou a vértebra L5 da coluna, teve o pé estraçalhado e os tendões das pernas e braços rompidos. Foi readaptada na Secretaria de Educação e trabalha em funções de apoio na escola onde Pedro estudava.

Como alguém com ódio no coração pode ser mãe? Tenho duas crianças para dar amor e só quero justiça

Vyviane Campos Moraes

Marcos, 47 anos, é gerente do Banco do Brasil e se dedicou cada vez mais ao trabalho, para amenizar a dor. Ele e Vyviane redescobriram a razão de viver ao ter outros dois filhos, Mateus, 4 anos, e Marcos Júnior, 1 ano. “É por eles que eu continuo vivendo. Quando olho para eles dormindo me lembro dos meninos no carro, desacordados. Sinto a respiração deles para confirmar que estão bem”, relata a mãe.

Vítimas da burocracia
A família corre o risco de passar mais um Natal sem justiça. Fabrício Camargos Cunha Rodovalho não teve julgamento e permanece em liberdade. O advogado dele, Roberto Serra da Silva Maia, informou que o cliente está viajando e não daria entrevista.

O processo já devia ter sido encerrado há muito tempo, mas teve atrasos causados pela burocracia. Em novembro de 2015, Fabrício Rodovalho prestou o último depoimento (no vídeo abaixo). Negou que estivesse em alta velocidade. O resultado da perícia e do relato de testemunhas, porém, dizem o contrário. Rodovalho teria ultrapassado um carro a mais de 140km/h, segundo uma pessoa que viu o acidente.

Nessa data, faltou luz no fórum de Guapó (GO), onde corre a ação, e não foi possível gravar a fala do réu com o equipamento do tribunal. A juíza, Rita de Cássia Rocha Costa, registrou a conversa no próprio celular, mas a justiça teve dificuldades para inserir o vídeo nos autos e isso atrasou o prazo em quase um ano.

Agora, o Ministério Público de Goiás está com a papelada e um promotor fará as alegações finais sobre o caso. Até 18/11, deve recomendar que Fabrício vá a júri popular por homicídio qualificado — os agravantes ainda serão definidos.

Em seguida, a juíza receberá também os argumentos finais da defesa e pode aceitar ou não a recomendação do promotor. A depender da decisão dela, o acusado ainda pode recorrer. Portanto, não há data marcada para o julgamento.

Uma causa como essa, em Goiás, demora cerca de 4,7 anos para ser julgada, segundo dados do relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A falta de magistrados aumentou em muito a espera da família Campos Moraes por um desfecho.

A juíza Rita de Cássia Rocha Costa tem 10 mil processos em sua mesa à espera de uma decisão. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás, 50 magistrados passaram recentemente em um concurso e devem ser contratados para desafogar essa fila.

Enquanto isso, a família Campos Moraes segue sem data para colocar um ponto final nesse triste capítulo de suas vidas. “Meus filhos perguntam pelos irmãos que morreram. Quero poder dizer a eles que o responsável por isso pagou pelos erros”, diz Vyviane.

Joelson Miranda/Metrópoles

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