metropoles.com

“Lampião da Esquina”, um belo filme sobre o primeiro jornal LGBT do país

Sucesso nos anos 1980, Lampião da Esquina quebraria paradigmas ainda hoje

atualizado

Compartilhar notícia

Reprodução/YouTube
lampiao capas
1 de 1 lampiao capas - Foto: Reprodução/YouTube

Tem gente que acha que a imprensa gay no Brasil nasceu com as páginas da Katylene e do Hugo Gloss. Eu acreditava que ela havia nascido com as colunas “GLSs” nos jornais impressos após o advento da Aids. Mas o documentário “Lampião da Esquina” mostra que estamos todos errados.

O longa busca rememorar a primeira publicação, homônima do filme, inteiramente voltada para o público LGBT – sobretudo gays, diga-se de passagem. O jornal alcançou reconhecido sucesso, conquistando por um bom tempo até independência financeira (vitória inesperada devido às circunstâncias em que ele era lançado).

O jornal nasceu da reunião de jornalistas “viados”, como eles fazem questão de se apresentar ao longo de todo o filme. Pois a polícia os perseguia exatamente por esse motivo. Durante os interrogatórios o delegado perguntava:

– Como eu posso chamar o senhor?

– Pode chamar de viado mesmo – respondia bem afrontosa o escritor José Silvério Trevisan.

Na reunião de concepção do veículo também foi decidido o tom da escrita e todos acharam que o mais adequado era o do deboche. Se a sociedade já não achava a homossexualidade uma questão séria, não valeria a pena um jornal gay querer escrever como a imprensa careta que não lhes dava espaço. O negócio era escrachar.

Portanto, o pajubá e o dito humor gay nas colunas atuais vêm das primeiras publicações da temática que se tem registro. Como eu já escrevi aqui e torno a repetir: o movimento político LGBT é o único que tem a alegria como posicionamento das suas reivindicações. Por isso as suas marchas são verdadeiras festas e o joi de vivre é uma bandeira nossa.

Aliás, no documentário percebemos que nem a direita militar, nem a esquerda revolucionária, queriam segurar esta bandeira junto com esses qualiras. Quer dizer, a política tinha que ser feita por nós mesmo – não sei se é muito diferente do que vivemos hoje em dia.

Grandes personalidades da época passaram pelas páginas do Lampião. Ou escancarando a porta do armário, ou negando qualquer homossexualidade na cara dura, ou caindo nas piadas de duplo sentido, quem importava dava entrevista para o jornal e, com frequência, pagava pela ousadia.

O filme nasceu durante uma aula do professor da Unicamp Noel Carvalho, que termina por assinar a codireção do documentário, e apesar de ter um ótimo conteúdo e uma estética linda, colorida e superengraçada.

Na equipe do filme também está o músico brasiliense PC Azeviche, que já foi tema da coluna. Azeviche assina a pesquisa musical para o filme e é responsável por várias pérolas que ficam rodando na sua cabeça depois quando o filme acaba.

Lampião da Esquina quebraria paradigmas ainda hoje. Se você olhar à sua volta, além de algumas colunas temáticas, que mídia de conteúdo e formato LGBT nós temos? Se o obscurantismo está crescendo também nos meios de comunicação, o melhor é relembrar o colorido do Lampião para nos inspirar.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?

Notificações