“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”
Nando Reis e Tony Bellotto (Titãs) vão alinhar as guitarras para tocar pelos índios, pelas matas e pela consciência ambiental, em show gratuito, na Esplanada
atualizado
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O rock quer mudar o mundo. Está em sua gênese. Dos palcos, os gritos das guitarras sempre ecoaram por outra ordem que não a vigente. Talvez, por essa natureza contestadora, tantos astros sucumbiram (tão jovens…) pelo meio do caminho por não saber lidar com a face quase imutável de um planeta movido pelo poder político e econômico.
Nascidos da mesma matriz da rebeldia brasileira dos anos 1980, Nando Reis e os Titãs afinam os versos cortantes que vão ecoar, na Esplanada, no dia 10 de outubro, na quarta edição do Green Move Festival.NANDO REIS – O Brasil parece que não gosta de si. O Brasil joga contra o Brasil. É absurda falta de consciência sobre o desmatamento para fazer pastagem. O país tem um número indecente de cabeça de gado por metro quadrado. E Belo Monte (a usina)? O desvio do rio, o impacto na biodiversidade, nos ribeirinhos… E os índios? Foram massacrados, são desrespeitados e humilhados.
TONY BELLOTTO – O Brasil trata as florestas e os índios com bastante descaso. Mas há muita gente boa empenhada em mudar essa situação.
Numa série de ações de conscientização, o Green Move Festival vai colocar, na ordem do dia, temas urgentes e abafados pelo barulho dos escândalos de corrupção. Ao lado do Jota Quest e da Orquestra Sinfônica de Brasília (a face mais pop das atrações), Nando Reis e Titãs vão soar as guitarras pela proteção das matas, dos índios e por uma posição protagonista do Brasil na defesa do clima global.
“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Confira Nando Reis e Os Infernais interpretando Relicário
O pulso? Ainda pulsa…
Três décadas se passaram desde que o rock brasileiro virou trilha de novela das oito e embalou um dos maiores sucessos comerciais da indústria fonográfica. Ah, aqueles anos 1980, hoje embalsamados em festas temáticas, não foram em vão. Sem experimentar o mesmo boom, a cena rocker chega ao ano de 2015 amadurecida, diversificada e menos visível. A força, no entanto, pode ser medida pelos grupos que souberam envelhecer sem se tornar “escravos” dos antigos hits (mesmo que obrigatórios nos shows). O tempo fez bem a eles.
TONY BELLOTTO – O tempo, nosso aliado. Tanto é que estamos lançando um DVD de show inédito, com material de um disco relevante: o “Nheengatu”, que, aliás, é uma palavra indígena (que designa uma língua derivada do tupi-guarani). Como diziam os Stones: “Time is on my side…”.
NANDO REIS – O tempo é irreversível. Não sei se posso dizer que é um aliado, mas de certa maneira acho que sei lidar com isso. Minha carreira tem trajetória ascendente. E, talvez, um dos poucos benefícios do envelhecimento seja a consciência adquirida em relação ao trabalho. Gosto dos meus discos. Especialmente do que estou fazendo e será lançado no ano que vem. Vivo no presente, pensando e desejando. Desenhando? O futuro.
E Brasília, a capital que um dia foi do rock?
TONY BELLOTTO – Acho que Brasília continua bastante rock n’roll. Talvez o governo atual esteja dando uma brochada na galera, como no resto de todo o país. Mas o rock está agindo nos subterrâneos. Como diziam os Sex Pistols: “Never mind the bollocks!”.
Titãs em “A Face do Destruidor”, um clássico contra o crescimento desordenado
AGENDE-SE
Green Move Festival
Dia 9 de outubro
Seminário Compromisso Brasileiro com o clima global (Museu Honestino Guimarães)
Estandes de informação, oficinas Green, ecobrinquedoteca, BSB Verde, food trucks, DJs e cinema.
Dia 10 de outubro
16h – Orquestra Sinfônica de Brasília
17h – Nando Reis
20h – Jota Quest
22h – Titãs