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Crônica de domingo. A alma penada do urso de pelúcia que assustou a Asa Sul

Por que aquele brinquedo de estimação voltou para atormentar a vida dos moradores daquele apartamento?

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urso de pelúcia
1 de 1 urso de pelúcia - Foto: iStock

Esta é uma história de fantasma que ocorreu em alguma quadra da Asa Sul, num bloco J e em apartamento original da fundação de Brasília. Os nomes dos envolvidos, Haroldo e Reginaldo, são fictícios para evitar àquela invasão ao Facebook dos rapazes.

Tudo começou numa decisão que mudaria as vidas de Haroldo e Reginaldo. O primeiro médico ortopedista; o outro, cirurgião dentista. Namorados, os dois resolveram unir as rendas, os livros de arte e as camisas polos. Procuram um apartamento para alugar e encontraram um sob medida. A cozinha com armários originais, laqueados de vermelho, era um luxo retrô. Mudaram-se em plena semana de Natal.

Era noite quando fenômenos estranhos começaram a acontecer. Na cozinha, Haroldo preparava um filé de peixe Saint Peter ao molho de damascos, enquanto Reginaldo escolhia um vinho verde para o jantar inaugural. Estavam concentrados quando as luzes da sala piscaram. Em seguida, os dois sentiram uma energia pesada correr de um cômodo ao outro como se fosse uma bola de luz, que se refugiou no quarto de hóspede. Assustados, correram para lá. Abriram a porta devagarinho e viram, acredite, o espírito de um urso de pelúcia gigante a dar tchauzinho para o casal.

Até hoje, os dois não sabem com que pernas sumiram dali. Chegaram à sala esbaforidos e, para o desespero, encontraram o ursão tomando uma taça de vinho verde à mesa. Não havia mais o que fazer. O ectoplasma de pelúcia tinha se instalado de vez naquele apartamento e demonstrava total intimidade com o imóvel, caminhando livremente da geladeira ao banheiro. Não havia outra alternativa a não ser clamar algum místico. Haroldo lembrou de um bruxo que despachava em escritório oracular da Asa Norte. Ainda naquela madrugada, o mago estaria presente diante da cena inusitada. Encontrou o casal sentado e o ursão com iPod descobrindo o som do Coldplay.

O caso era grave. Nunca, em toda a lida com entidades, aquele médium tinha visto nada tão bizarro. Dócil, o fantasma urso aceitou participar de sessão em grupo. Ali, toda a verdade foi estabelecida. Aquele ser desgarrado do mundo físico sofreu uma brutal violência ainda, em 1961, quando o chefe de família daquele apartamento o destroçou, não sobrando um enchimento sequer para contar a história de intolerância.

Aquele bichinho era o principal confidente de um menino diferente, que não gostava de brincar de futebol, nem desbravar uma Brasília quase inabitada. Só queria saber de brincar com o ursinho. O pai do garoto olhava aquilo com desconfiança. Um dia, perdeu a estribeira ao encontrar o urso e o menino vestidos de coquetes como se fossem a um baile de carnaval. Arrancou a roupa dos dois com violência masculina nunca vista. Em estado de choque, o filho tentou chorar diante da imagem daquele homem a estraçalhar o ursinho querido.

Haroldo e Reginaldo choravam feito meninos amparados pelo urso amigo, que agora, envolto por aquele amor, partia livre para outra vida num raio de luz multicor. O bruxo abençoou a casa e, naquele Natal, os dois deram ursinhos um para o outro.

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