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A volta do diretor elegante aos palcos brasilienses

Depois de fechar o charmoso Teatro Caleidoscópio e partir para estudar cinema na Europa, André Amaro retorna à sala de ensaio em texto inédito do escritor Geraldo Lima

atualizado

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Há dois anos, o espectador brasiliense ficou distante do trabalho de direção sensível de André Amaro. A última peça, Uma Cena para Lorca, trazia a delicadeza e a elegância, trabalhadas num método de criação desenvolvido e batizado de Caleidoscópio, inspirado naquele instrumento ótico que muda as imagens formadas a partir do giro de peças coloridas de vidros.

Com o objetivo de estudar direção de fotografia, André Amaro partiu para a Espanha. Antes, porém, teve que tomar uma decisão difícil. Encerrar as atividades do charmoso Teatro Caleidoscópio, localizado no Sudoeste.  Tudo foi feito sem alardes nas redes sociais.

Certas decisões não precisam ir a público

André Amaro

André Amaro é um homem discreto. Acabar com uma casa de espetáculos, gestada em cada detalhe, não foi fácil. Havia 11 anos que ele desenvolveu ali 13 das 23 montagens que criou em duas décadas de trabalho incessante. Findava ali um importante ciclo de sua vida. O diretor, no entanto, não gosta de falar de mortes.

Sou daqueles que acreditam que a espiritualidade é não deixar que o princípio da morte domine você

André Amaro

Impostos excessivos e o desejo enorme de estudar cinema empurraram o artista para outros horizontes. Era preciso seguir, desapegar e levar consigo o legado da experiência.

O Caleidoscópio, além de dar nome à sala, também é uma referência teórica e prática para a arte do ator e do encenador.  Fizemos, por exemplo, um longo trabalho para apurar padrões de energia e de expressividade que foram formatando alguns de nossos espetáculos

André Amaro

Sem olhar para trás, André Amaro partiu para Madri. Foram dois anos numa imersão acadêmica que o distanciou das salas de ensaio, mas o colocou em conexões com a pesquisa de imagens que fazia para criar as peças.

Escolhi a Espanha por que queria estar no âmbito da produção europeia. Me identifico mais com as vanguardas do cinema europeu.  Enfim, um período fértil de criação que se converteu no trabalho que hoje realizo. Sou diretor de fotografia da TV Câmara e já comecei a dirigir e filmar curtas-metragens

André Amaro

Atores íntimos
Emília Silberstein/Divulgação

A volta a Brasília veio com um convite imediato para voltar ao teatro dirigindo o texto “Trinta gatos e um cão envenenado”, que abre temporada no Teatro Goldoni. Cercado de atores íntimos, como Vanessa Di Farias, Pecê Sanváz, Lilian França e Flávia Neiva, André Amaro venceu o tempo curto de ensaios e se desafiou na construção de uma partitura sonora para a dramaturgia do escritor Geraldo Lima, que dialoga de forma urgente com o aqui-agora.

É uma resposta à essa onda abominável de violência contra a mulher. Quero me associar a esse grito, a mais essa denúncia. E faço isso por meio da arte, que é também meu espaço de disparo contra as injustiças do mundo, o meu espaço de maior ressonância

André Amaro

André já o conhecia o texto de um ciclo de leituras realizado no Teatro Caleidoscópio. Então foi fácil para ele aceitar o convite feito por mim e pelo elenco para assumir a direção do espetáculo e imprimir nele sua marca pessoal e os conceitos estéticos do Teatro Caleidoscópio

Geraldo Lima

andre

 

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