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Marianne Peretti dama dos vitrais da Catedral chega a Brasília

Em entrevista ao Metrópoles ela se declara: “A catedral é muito importante para mim. Dediquei muita da minha vida e da minha saúde a esse trabalho.”

atualizado

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Quando pousar, no domingo, no Aeroporto Juscelino Kubitscheck, para acompanhar a abertura de exposição em sua homenagem, a artista plástica Marianne Peretti, 88 anos, terá que lidar com a emoção à espreita. Diante dos seus olhos, um detalhe inesperado pode iluminar cantos esquecidos da memória e trazer à tona o processo de vivência artística, que resultou em obras atreladas a monumentos públicos, como a Catedral.

É de Marianne Peretti o conjunto deslumbrante de 2 mil m² de vitrais azuis e verdes, que forma uma tênue interface entre o templo e o céu de Brasília. Ali, é possível orar enquanto se observa as nuvens correrem o espaço, sentir o raio de sol tocar na pele ou apreciar a gota de chuva que se choca contra o vidro fosco e temperado.

A catedral é muito importante para mim. Dediquei muita da minha vida e da minha saúde a esse trabalho. Tinha muita paixão pelo que fazia

Marianne Peretti

 

Divulgação

Ateliê gigante
Quando confeccionou o conjunto de vitrais, em 1990, Marianne Peretti fez do Ginásio Nilson Nelson seu ateliê. Desenhava os arcos em tamanho real, o que lhe rendeu o desafio de quebrar um modelo de criação que obedecia a linhas e cores num quadriculado que se repetia. Para romper com essa malha, inspirou-se nas curvas de Oscar Niemeyer para dialogar com sua arquitetura.

Procurava trazer movimento e leveza e sempre tive muita liberdade. Quando fiz os vitrais da Catedral, por exemplo, Oscar só esteve lá uma vez na quadra esportiva.  Foi uma visita rápida. Ele olhou aqueles desenhos enormes e me disse pra continuar. E não voltou mais pra falar nada

Marianne Peretti

Histórias da Catedral
Recentemente restaurados, os vitrais falam por si. Em torno dele, habitam histórias. Uma delas a de que o pároco da Catedral não teria gostado da criação de Marianne Peretti. Ele queria que ela desenhasse anjinhos. Tentou interferir e, por conta disso, foi transferido para uma igreja de tijolos.

Corria também à boca miúda que Niemeyer ficou com medo que os vitrais roubassem os olhares dos visitantes, deixando a obra arquitetônica assim meio coadjuvante. Conversas que alimentam o imaginário em torno de uma obra que projetou os dois artistas ao mundo.

Arte e arquitetura melhoram muito uma cidade, quando elas andam juntas. É muito bom conviver com o que é bonito. A beleza faz bem ao ser humano. E eu tenho muitos bons amigos aqui.  Lembro-me também que cada um contribuía de um jeito

Marianne Peretti

Brasília resiste
As histórias e as personagens que povoam a memória da artista franco-brasileira Marianne Peretti estão espalhadas por essa Brasília contemporânea que cresce engolindo aquele Plano Piloto bucólico dos anos 1960.  A artista percebe o agigantamento, mas não se assusta. Agarra-se ao fascínio da criação. O quão foi incrível o processo de construção, de como foi erguida, pensada e ocupada.

É incrível apreciar a paisagem ampla, pode-se ver a vastidão do céu e uma arquitetura única no mundo

Marianne Peretti

Exposição
Na terça-feira (05/04), parte da sua história estará exposta no Museu Nacional Honestino Guimarães. Marianne não viu ainda a montagem. Mas está preparada para passear por sua trajetória espalhada pela cidade, em espaços como a Câmara Mortuária de JK, com a força dos vitrais no teto da cripta; nos painéis do Panteão da República, do Palácio do Jaburu, do Senado; no grande olho do Supremo Tribunal Federal; no foyer, do Teatro Nacional Claudio Santoro, onde tem a escultura “O Pássaro Dourado”.

 Acho que vai ser muito bom, não é? As pessoas conhecessem as obras, mas muitas vezes nem sabem quem fez.  Já fiz muita coisa. E continuo fazendo

Marianne Peretti

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