“Corra!”, o filme de terror sobre o monstro chamado racismo

Filme de estreia do comediante e roteirista Jordan Peele chega ao Brasil nesta quinta-feira (18/5)

Felipe Moraes
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“Corra!” estreia no Brasil nesta quinta-feira (18/5) com a já manjada credencial de “filme de terror do momento”. Toda temporada tem a sua parcela de sustos, espíritos malignos, gritos no escuro e assassinos em série. Mas “Get Out” (“Saia”, como é chamado originalmente) adere de maneira desconcertante ao momento em que vivemos.

Descrito como um filme de terror sobre racismo – ou sobre o horror de viver em um mundo racista –, “Corra!” acompanha as experiências de um jovem negro na casa dos pais da namorada branca. Chris, vivido por Daniel Kaluuya (“Black Mirror”), visita o lugar em que Rose (Allison Williams) cresceu.

Os pais, interpretados por Bradley Whitford e Catherine Keener, são excessivamente educados. O “sogrão” faz até questão de dizer que, se pudesse, votaria no Obama para um terceiro mandato. Mas tudo ali parece deslocado. Os funcionários da casa, todos negros, revelam gestos e olhares inexpressivos. Parecem robôs.

O racismo em discussão: entre o terror e a comédia
O que torna “Corra!” um sucesso de público e quase unanimidade entre os críticos é como o filme se situa entre gêneros: o terror propriamente dito, com sangue, clima macabro, subtextos sociais, e a apropriação de situações autênticas que replicam o nosso infeliz racismo de cada dia.

Se você já ouviu algum patrão branco dizer que um empregado negro “é tão próximo que já faz parte da família”, sabe o que esperar do filme. Com tantas boas sacadas, “Corra!” chama a atenção por ser apenas o filme de estreia de Jordan Peele, 38 anos, que escreve e dirige.

Peele: do humor ao terror
Ele vem de uma geração de humoristas negros pós-Chris Rock que também se interessa em discutir, por meio do entretenimento, o racismo e as situações constrangedoras, tristes e traumáticas que o preconceito provoca.

Peele não é tão conhecido no Brasil, mas vem há tempos fabricando um humor sobre questões raciais que constrange, diverte e faz refletir. Entre as várias séries que já fez, como “MADtv”, destaca-se “Key and Peele” (2012-2015), dividida com o amigo Keegan-Michael Key. Um programa de esquetes sobre variados temas, sobretudo o racismo.

“Keanu: Cadê Meu Gato?!” (2016), estrelado por Peele e Key, parecia ser só mais uma comédia inofensiva. No fim das contas, é um filme que também se propõe a brincar com estereótipos sobre jovens negros – na trama, ambos são nerds desengonçados que desbravam o mundo do crime em busca de Keanu, o pet fofinho.

1/8
Jordan Peele, 38 anos: dirigiu, escreveu e produziu "Corra!", filme de estreia
Chris (Daniel Kaluuya) e a namorada Rose (Allison Williams)
Dean (Bradley Whitford) e Missy (Catherine Keener), os pais de Rose: excessivamente polidos
Daniel Kaluuya em Get Out (Corra)
Georgina (Betty Gabriel), uma das empregadas dos Armitage: gestos, olhares e falas que parecem de um robô
Chris e o "sogrão": racismo nas entrelinhas

 

“Corra!”: números que impressionam
Para além do que vemos na tela, “Corra!” também é um filme que se impõe do ponto de vista comercial. Por ser mais um longa de terror da Blumhouse, produtora especialista em lucrar com produtos de orçamento curto (franquias “Atividade Paranormal” e “Invocação do Mal”, por exemplo), o longa de Peele custou US$ 4,5 milhões.

Até o momento, já rende mais de US$ 214 milhões nas bilheterias mundiais. A princípio, é mais um tiro certeiro da Blumhouse, que recentemente revitalizou a carreira de Shyamalan com “A Visita” (2015) e, em especial, o hit “Fragmentado” (US$ 275 milhões).

Mas “Corra!” também é um sucesso do ponto de vista da representatividade. É o primeiro filme de estreia de um cineasta negro a arrecadar mais de US$ 100 milhões. Tanto que Peele garantiu distribuição (via Universal) de seu próximo “thriller social”, como ele próprio classificou.

Já se fala em “Corra!” no Oscar 2018, uma especulação que ganha bom argumento diante da vitória de “Moonlight” neste ano. Seria um belo retorno dos filmes de terror a uma premiação que claramente os despreza – “O Silêncio dos Inocentes”, em 1992, ainda é o primeiro e último horror oscarizado.

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