Redes sociais podem desencadear 5 gatilhos de saúde mental. Entenda

O psicólogo Luiz Mafle dá detalhes de como o uso constante dessas ferramentas pode prejudicar o psicológico de seus usuários

Raphael Costa
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O consumo constante e cada vez mais recorrente das redes sociais mudou a forma como as pessoas se comunicam e se relacionam. Durante a pandemia, com a população forçada a se manter isolada para evitar o contágio pelo coronavírus, o uso das redes sociais aumentou significativamente em todo mundo.

O psicólogo Luiz Mafle, professor de psicologia e doutor pela PUC Minas e Universidade de Genebra, na Suíça, explica que a situação alterou a configuração dos aplicativos.

“A ideia começou a ser fazer com que se passe o máximo de tempo possível diante da tela para o consumo de propaganda. Para isso, desenvolveram a estratégia dos algoritmos, likes e engajamentos, que ativam o mecanismo de recompensa em nosso cérebro. Por conta do impulso constante para checar se recebemos uma mensagem, nos sentimos desconfortáveis e impelidos a olhar a todo instante o celular”, explica o psicólogo.

Essa alteração da função da rede, no entanto, pode trazer malefícios para a saúde mental de seus usuários. De acordo com Mafle, ao menos cinco gatilhos podem ser ativados por conta dessa relação dos usuários com os aplicativos.

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A ansiedade é uma espécie de condição psíquica caracterizada por preocupação constante e excessiva de que algo negativo possa acontecer. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é, ainda, uma sensação difusa de desconforto carregado por sentimento frequente de apreensão que pode desencadear transtornos
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo, e registrou ainda mais casos da condição durante a pandemia da Covid-19. Além de adultos, a ansiedade também pode se manifestar em crianças por diversos motivos, como divórcio dos pais, provas ou problemas na escola, por exemplo
Apesar de ser considerada relativamente comum, uma vez que pode atingir qualquer pessoa por qualquer motivo, a ansiedade se torna um verdadeiro problema quando tudo vira motivo de preocupação exagerada e o paciente passa a apresentar crises
A crise de ansiedade é uma situação que causa grande sensação de angústia, nervosismo e insegurança, como se algo de muito mau, e que foge completamente do controle, fosse acontecer a qualquer momento
A crise surge, normalmente, devido a situações estressantes específicas e que geram gatilho, como precisar fazer uma apresentação, ter prazo curto para entregar um trabalho, estar em algum lugar que não gostaria ou ter sofrido uma perda, por exemplo
Entre os sintomas de uma crise de ansiedade estão: batimentos cardíacos acelerados, sensação de falta de ar, formigamento no corpo, sensação de leveza na cabeça, dor no peito, náuseas, transpiração excessiva, tremores, entre outros
Estes sintomas ocorrem devido ao aumento do hormônio adrenalina na corrente sanguínea, algo normal quando a pessoa enfrenta um momento importante. Contudo, se os sintomas se tornarem constantes, podem sinalizar um transtorno de ansiedade generalizada
O que se deve fazer durante uma crise de ansiedade depende da gravidade e da frequência dos sintomas e, por isso, o ideal é sempre receber aconselhamento especializado, de um psiquiatra ou psicóloga
Apesar disso, realizar exercícios de respiração, ingerir chá calmante, tentar conversar com alguém de confiança, descansar, desligar a mente, fazer atividades físicas que goste ou tentar manter o pensamento em algo que dê conforto são algumas dicas que podem ajudar a aliviar o problema
Quando a crise de ansiedade acontece pela primeira vez, ou não se tem certeza do que está acontecendo, é importante procurar um hospital para garantir que não seja outro problema mais grave, como o infarto
De qualquer forma, caso as crises sejam frequentes, um especialista deve ser procurado para identificar a causa e iniciar um tratamento
A ansiedade pode desencadear problemas que, dependendo dos sintomas, podem ser classificados como Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), fobia social, síndrome do pânico, entre outros. Esses problemas podem gerar impacto na vida pessoal e profissional do paciente, por isso o quanto antes for diagnosticado, menos problemas serão enfrentados

Confira os cinco gatilhos que as redes sociais podem desencadear

1 – Idealização de vida perfeita e comparação

“Como somos levados a ver a vida dos outros a todo instante, vendendo uma rotina de realização e felicidade constante, comparamos com as nossas vidas e nos sentimos piores por não conseguirmos determinados status sociais ou alegria sem fim”, detalha.

“Nesse processo de comparação, somos acometidos por pensamentos de desvalorização e tentamos buscar soluções (nas próprias mídias sociais) para solucionar os problemas que elas estão gerando. Nesse looping, vamos aumentando a nossa ansiedade: nos sentimos insuficientes por não darmos conta de atingir a suposta felicidade que os outros nos apresentam”, afirma o psicólogo.

2 – Uso excessivo das redes sociais

Mafle explica que quase todos os usuários acabam sofrendo com as consequências da dopamina liberada pelo uso dos aplicativos. O hormônio está ligado com o mecanismo de recompensa desencadeado pelas curtidas tradicionais nas redes sociais.

“O que podemos pensar é em uma redução de danos, estipular horário para uso do celular, se mantendo longe dele nos momentos de desuso e retirando as notificações. O hábito e a facilidade de acesso ao celular fazem com que o acionemos com mais frequência. Se o alcance ficar mais difícil, tendemos a pensar mais se iremos buscá-lo ou não”, aponta.

3 – Cyberbullying

Alguns estudos afirmam que o uso constante das redes sociais diminui a capacidade de empatia entre as pessoas, justamente pelo afastamento que existe entre elas. Pela tela do celular, é difícil uma ideia da verdadeira reação emocional do indivíduo diante de determinadas situações.

“Normalmente, quando expostos ao sofrimento que a pessoa sentiu, quem realizou a agressão tende a se arrepender por esse mecanismo de empatia. Pela falta de percepção da reação do outro, o cyberbullying se torna mais fácil de se realizar e, por conta do volume de mensagens negativas que se pode receber, os efeitos também são potencializados. Esse volume pode ser ainda maior devido ao efeito manada, pois para se sentir incluído, o ser-humano tende a repetir o comportamento do grupo”, completa Mafle.

4 – Comparação em relação a corpos

“É inevitável vermos pessoas mais bonitas ou com corpos mais definidos que os nossos. E isso não é um problema. Só que, quando vemos demais, ou consumimos em excesso essas imagens, a nossa mente incorpora essa imagem como padrão, como uma verdade a ser imitada. Ao passar por esse processo, passamos a nos comparar e nesta hora, nos sentimos inferiores. Um processo de desintoxicação destas imagens ajuda, evitando personagens que apresentam esse padrão de beleza, e vendo mais as pessoas reais ao seu entorno, no trabalho, na escola, nos espaços públicos, etc”, alerta o psicólogo.

5 -Ansiedade e depressão

Com a monetização das redes sociais, muitas pessoas que dependem da internet para pagar as contas acabam mesclando o que é postado com o que realmente acontece na vida real. Durante esse processo, Mafle aponta que o indivíduo pode se sentir forçado a estar constantemente feliz.

“Como a alegria vende mais que a tristeza, ele precisa se mostrar feliz, mesmo quando isso não é verdade. Neste momento, ele está negando parte da sua própria personalidade, o que é uma agressão contra si mesmo. Esses sintomas patológicos só são superados quando podemos viver mais livremente todas as emoções, como a alegria, a tristeza, a raiva e o medo”, completou.

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