Os brasileiros passaram a se alimentar pior durante a pandemia de Covid-19. As pessoas mais vulneráveis socialmente foram as mais prejudicadas, segundo mostra o novo estudo Covitel – Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia –, divulgado nesta quarta-feira (27/4). As informações estão disponíveis na Uname, plataforma de dados sobre saúde.
A partir de 9 mil entrevistas feitas por telefone fixo e celular nas capitais e em cidades do interior das cinco regiões do país, os pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Vital Strategies avaliaram os impactos da pandemia na qualidade de vida, saúde mental e diagnósticos de doenças crônicas não transmissíveis. As enfermidades deste tipo têm causas relacionadas aos hábitos de vida e são responsáveis por 70% dos casos de mortalidade e morbidade no Brasil.
De acordo com o estudo, houve uma redução de 12,5% do consumo regular de legumes e verduras entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2022. As mudanças alimentares foram mais expressivas entre as pessoas que perderam o emprego no período (-37,6%), as pessoas de menor escolaridade (-20,4%) e as pessoas pretas e pardas (-16,2%).
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O consumo regular de frutas (cinco vezes por semana ou mais) manteve-se estável no país, com redução maior no Norte (-15,6%). Novamente as pessoas que perderam o emprego foram as mais prejudicadas, com redução de 37,6% do consumo, seguido pelas de menor escolaridade (-17%) e pretas e pardas (-15,9%).
Os pesquisadores avaliam os dados como um reflexo da desigualdade social do país, escancarada durante a pandemia. “As mudanças mais negativas nos fatores de risco foram para as populações mais vulneráveis, com menor escolaridade, pretos e pardos, pessoas que perderam o emprego na pandemia e nas regiões Norte e Nordeste”, destacou o pesquisador Pedro Hallal, da UFPel.
A pandemia fez com que os brasileiros se exercitassem menos. Os dados mostram a redução de 21,4% da prática de atividade física suficiente no tempo livre. O parâmetro equivale a ao menos 150 minutos por semana de atividades moderadas ou vigorosas.
Os que perderam o emprego, os idosos, as pessoas de menor escolaridade e as mulheres foram os que mais abriram mão do hábito de se exercitar. As regiões com maiores reduções foram a Norte (-27,6%), Centro-Oeste (-27%), e Nordeste (-22,2%).
Mais da metade dos brasileiros (52,6%) está com excesso de peso, com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 25. O problema é mais prevalente entre os adultos com idade entre 35 e 44 anos (60,7%) e entre 45 a 54 anos (60,2%). Cerca de 20% dos entrevistados estão na faixa da obesidade, com IMC igual ou superior a 21,7%.
“Esses dados são um retrato muito atual da população brasileira por regiões. Queremos colocá-los a serviço da sociedade para que isso possa fomentar o surgimento de estudos, de projetos mais adequados e mais assertivos em endereçar os desafios e os pontos mais críticos para a população mais vulnerável e que mais precisa”, disse a superintendente da Umane, Thais Junqueira.
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