Covitel: hábitos alimentares pioraram no Brasil durante pandemia

Dados mostram redução de 12,5% no consumo de legumes e verduras desde 2020. Pessoas que perderam emprego foram as mais prejudicadas

Bethânia Nunes
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Os brasileiros passaram a se alimentar pior durante a pandemia de Covid-19. As pessoas mais vulneráveis socialmente foram as mais prejudicadas, segundo mostra o novo estudo Covitel – Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia –, divulgado nesta quarta-feira (27/4). As informações estão disponíveis na Uname, plataforma de dados sobre saúde.

A partir de 9 mil entrevistas feitas por telefone fixo e celular nas capitais e em cidades do interior das cinco regiões do país, os pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Vital Strategies avaliaram os impactos da pandemia na qualidade de vida, saúde mental e diagnósticos de doenças crônicas não transmissíveis. As enfermidades deste tipo têm causas relacionadas aos hábitos de vida e são responsáveis por 70% dos casos de mortalidade e morbidade no Brasil.

De acordo com o estudo, houve uma redução de 12,5% do consumo regular de legumes e verduras entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2022. As mudanças alimentares foram mais expressivas entre as pessoas que perderam o emprego no período (-37,6%), as pessoas de menor escolaridade (-20,4%) e as pessoas pretas e pardas (-16,2%).

Veja melhores opções de dietas para comer de maneira saudável:

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Dieta Dash – A sigla significa, em português, Métodos para Combater a Hipertensão e foca não só em diminuir a quantidade de sódio ingerida, mas em alimentos ricos em proteínas, fibras, potássio, magnésio e cálcio. A dieta tem 20 anos e é reconhecida por várias publicações científicas pela eficiência em reduzir a pressão arterial e controlar o peso
Dieta Mediterrânea – Baseada em alimentos frescos, escolhidos conforme a estação do ano, e naturais, é interessante por permitir consumo moderado de vinho, leite e queijo. O cardápio é tradicional na Itália, Grécia e Espanha, usa bastante peixe e azeite, e, desde 2010, é considerado patrimônio imaterial da humanidade. Além de ajudar a perder peso, diminui o risco de doenças cardiovasculares
Dieta Flexitariana – Sugere uma redução de até 70% do consumo de carne, substituindo a proteína animal por vegetais, frutas, sementes, castanhas e cereais. Com o regime, o organismo ficaria mais bem nutrido e funcionaria melhor. É recomendado começar trocando a carne vermelha por frango ou peixe e procurar um nutricionista para acompanhar a necessidade de suplementação de vitamina B12, encontrada em alimentos de origem animal
Dieta MIND – Inspirada nas dietas Mediterrânea e Dash, a MIND é feita especificamente para otimizar a saúde do cérebro, cortando qualquer alimento que possa afetar o órgão e focando em nozes, vegetais folhosos e algumas frutas. Um estudo feito pelo Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos descobriu que os pacientes que seguiram a dieta diminuíram o risco de Alzheimer de 35% a 53%, de acordo com a disciplina para seguir as recomendações
Dieta TLC – Criada pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, pretende cortar o colesterol para melhorar a alimentação dos pacientes. São permitidos vegetais, frutas, pães integrais, cereais, macarrão integral e carnes magras. Há variações de acordo com cada objetivo, como melhorar o colesterol e perder peso
Dieta Nórdica – Como o nome sugere, a dieta é baseada na culinária de países nórdicos e dá bastante enfoque ao consumo de peixes (salmão, arenque e cavala), legumes, grãos integrais, laticínios, nozes e vegetais, além de óleo de canola no lugar do azeite. Segundo a OMS, o regime reduz o risco de câncer, diabetes e doenças cardiovasculares
Dieta Volumétrica – Criada pela nutricionista Barbara Rolls, a ideia é diminuir a quantidade de caloria das refeições, mas mantendo o volume de alimentos ingeridos. São usados alimentos integrais, frutas e verduras que proporcionam saciedade e as comidas são divididas pela densidade energética
Vigilantes do Peso – O programa existe há mais de 50 anos e estabelece uma quantidade de pontos para cada tipo de alimento e uma meta máxima diária para cada pessoa, que pode criar o próprio cardápio dentro das orientações. Além disso, há o incentivo a atividades físicas e encontros entre os participantes para trocar experiências
Dieta Mayo Clinic – Publicada em 2017 pelos médicos da Mayo Clinic, um dos hospitais mais reconhecidos dos Estados Unidos, o programa é dividido em duas partes: perca e viva. Na primeira etapa, 15 hábitos são revistos para garantir que o paciente não desista e frutas e vegetais são liberados. Em seguida, aprende-se quantas calorias devem ser ingeridas e onde encontrá-las. Nenhum grupo alimentar está eliminado e tudo funciona com equilíbrio
Dieta Asiática – O continente é enorme, mas há traços comuns na gastronomia de toda a região. Uma ONG de Boston definiu uma pirâmide alimentar baseada nos costumes orientais: vegetais, frutas, castanhas, sementes, legumes e cereais integrais, assim como soja, peixe e frutos do mar são muito usados, enquanto laticínios, ovos e outros óleos podem ser consumidos em menor frequência. A dieta pede também pelo menos seis copos de água ou chá por dia, e saquê, vinho e cerveja podem ser degustados com moderação

O consumo regular de frutas (cinco vezes por semana ou mais) manteve-se estável no país, com redução maior no Norte (-15,6%). Novamente as pessoas que perderam o emprego foram as mais prejudicadas, com redução de 37,6% do consumo, seguido pelas de menor escolaridade (-17%) e pretas e pardas (-15,9%).

Os pesquisadores avaliam os dados como um reflexo da desigualdade social do país, escancarada durante a pandemia. “As mudanças mais negativas nos fatores de risco foram para as populações mais vulneráveis, com menor escolaridade, pretos e pardos, pessoas que perderam o emprego na pandemia e nas regiões Norte e Nordeste”, destacou o pesquisador Pedro Hallal, da UFPel.

Menos atividades físicas

A pandemia fez com que os brasileiros se exercitassem menos. Os dados mostram a redução de 21,4% da prática de atividade física suficiente no tempo livre. O parâmetro equivale a ao menos 150 minutos por semana de atividades moderadas ou vigorosas.

Os que perderam o emprego, os idosos, as pessoas de menor escolaridade e as mulheres foram os que mais abriram mão do hábito de se exercitar. As regiões com maiores reduções foram a Norte (-27,6%), Centro-Oeste (-27%), e Nordeste (-22,2%).

Os dados culminam com indicadores que mostram o aumento de sobrepeso e obesidade nos últimos dois anos.

Mais da metade dos brasileiros (52,6%) está com excesso de peso, com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 25. O problema é mais prevalente entre os adultos com idade entre 35 e 44 anos (60,7%) e entre 45 a 54 anos (60,2%). Cerca de 20% dos entrevistados estão na faixa da obesidade, com IMC igual ou superior a 21,7%.

“Esses dados são um retrato muito atual da população brasileira por regiões. Queremos colocá-los a serviço da sociedade para que isso possa fomentar o surgimento de estudos, de projetos mais adequados e mais assertivos em endereçar os desafios e os pontos mais críticos para a população mais vulnerável e que mais precisa”, disse a superintendente da Umane, Thais Junqueira.

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