Covid envelhece o cérebro de pacientes graves, sugere estudo

Pesquisadores encontraram marcadores no cérebro de pacientes que morreram devido à Covid-19 grave que são encontradas em idosos

Eline Sandes
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Pesquisadores dos Países Baixos e dos Estados Unidos identificaram que pacientes de todas as idades com Covid-19 grave têm alterações no cérebro encontradas apenas em idosos. O estudo foi publicado nessa segunda-feira (5/12) na revista científica Nature Aging e se soma às evidências de perda cognitiva e envelhecimento cerebral causados pelo coronavírus.

A análise contou com dezenas de amostras cerebrais de pessoas mortas. Ela revelou que as atividades genéticas relacionadas às mudanças cerebrais eram mais extensas em pessoas com infecções graves pela Covid-19.

Em comparação, pacientes com outras condições, mas que também precisaram ser internados em unidade de terapia intensiva (UTI) ou colocados em ventiladores para ajudar na respiração, tinham menor atividade relacionada às alterações no cérebro.

Os cientistas também analisaram, paralelamente, o tecido cerebral de outras 20 pessoas não infectadas: 10 com 38 anos ou menos no momento da morte, e 10 com 71 anos ou mais. A comparação revelou que as pessoas do grupo mais velho tiveram alterações cerebrais semelhantes às observadas em pessoas com Covid-19 grave.

“Nosso estudo abre uma infinidade de questões importantes não apenas para entender a Covid-19, mas para preparar a sociedade para as consequências da pandemia a longo prazo”, afirmou a neuropatologista Marianna Bugiani, do Amsterdam University Medical Centers, na divulgação da Nature.

A neurobióloga Maria Mavrikaki, do Beth Israel Deaconess Medical Center em Boston, nos Estados Unidos, iniciou a pesquisa há cerca de dois anos. Ela se deparou com um estudo de caso descrevendo o declínio cognitivo após a Covid-19 e decidiu acompanhar e ver se conseguia encontrar alterações no cérebro que pudessem desencadear os efeitos observados.

O grupo estudou amostras retiradas do córtex frontal (região do cérebro intimamente ligada à cognição) de 21 pessoas que morreram após ter Covid-19 grave e de um paciente que morreu assintomático. A equipe os comparou com amostras de 22 pessoas sem histórico conhecido de infecção pelo vírus Sars-CoV-2.

Havia ainda um segundo grupo de controle. Ele era formado por nove pessoas que não tinham histórico conhecido de infecção, mas haviam passado algum tempo com respirador ou na UTI. Essas intervenções podem causar efeitos colaterais graves.

A equipe descobriu que os genes associados à inflamação e ao estresse eram mais ativos nos cérebros das pessoas que tiveram Covid-19 grave do que no grupo de controle. Por outro lado, os genes ligados à cognição e à formação de conexões entre as células cerebrais eram menos ativos.

Possíveis causas

Mavrikaki suspeita que os efeitos da infecção pelo coronavírus na atividade genética são causados ​​indiretamente pela inflamação, e não pela presença do vírus no cérebro. Ela e os colegas descobriram que expor neurônios cultivados em laboratório a proteínas de inflamação afetou a atividade de genes relacionados ao envelhecimento.

Mas é possível que a resposta também seja desencadeada por outras infecções. O grupo da pesquisadora ainda pretende realizar novos estudos para descobrir outras causas e relacioná-las a outras condições que podem aumentar as chances de uma pessoa desenvolver Covid-19 grave e apresentar as alterações no cérebro.

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