Coronavírus: entenda por que Norte e Nordeste têm mais mortes proporcionais

Estados dessas regiões registram mais óbitos a cada 100 mil habitantes do que unidades federativas como São Paulo

Juliana Contaifer ,
Lucas Marchesini
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O ex-ministro da Saúde Nelson Teich repetiu, várias vezes após assumir a pasta, que o Brasil não podia ser tratado como um todo. O país é um continente cheio de peculiaridades, principalmente quando nos referirmos ao coronavírus: cada estado está sendo atingido pela epidemia de maneira diferente.

De acordo com levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, quando analisados os números de mortos a cada 100 mil habitantes, os estados do Norte e Nordeste são os mais atingidos. Entre as cinco unidades da Federação com mais casos da doença, com base em informações do Ministério da Saúde, três estão nessas regiões. Completam o ranking, São Paulo e Rio de Janeiro — áreas populosas e portas de entrada para visitantes internacionais.

O Amazonas é o quinto estado com mais infectados e óbitos registrados em decorrência da Covid-19 e, por isso, preocupa: são 29,8 falecimentos a cada 100 mil habitantes por causa do novo coronavírus.

Na segunda posição, vem o Ceará, com 15,47 mortes a cada 100 mil habitantes. Pernambuco está no terceiro lugar do ranking, com 13,58 óbitos na mesma faixa populacional, seguido pelo Rio de Janeiro (13,01), Pará (12,36) e Amapá (11,94). São Paulo (9,40) ocupa a 7ª colocação, apesar de ter a maior população do país e ser o local com mais casos e óbitos confirmados.

Em seguida, estão Maranhão (6,64), Acre (6,24), Espírito Santo (6,20), Roraima (6,11), Alagoas (5,30), Paraíba (3,98), Rio Grande do Norte (3,34), Rondônia (3,15), Sergipe (2,04), Piauí (1,83) e Bahia (1,76).

Só então aparecem as unidades federativas que compõem as regiões Centro-Oeste e Sul, que, apesar de terem população idosa maior do que a do Norte e a do Nordeste, têm mortalidade a cada 100 mil habitantes menor. Na lista, constam Distrito Federal (1,69), Tocantins (1,46), Santa Catarina (1,09), Rio Grande do Sul (1,05), Paraná (1,04), Goiás (0,91), Mato Grosso (0,66), Minas Gerais (0,66) e Mato Grosso do Sul (0,5).

Veja a comparação geral entre óbitos, no gráfico:

Explicações

Segundo o consultor Leonardo Weissmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia, uma das respostas possíveis para explicar o porquê dessa diferença é o critério social. Embora o coronavírus tenha chegado ao país por meio de brasileiros de maior poder aquisitivo, que estiveram na Europa e nos Estados Unidos, a doença se espalha rapidamente em regiões mais pobres.

“Nesses locais, temos brasileiros vivendo em condições precárias de água e esgoto, em moradias com muitas pessoas. É impossível falar em lavagem frequente das mãos e distanciamento físico”, destaca o infectologista.

Além disso, de acordo com o médico, essas regiões têm sistemas de saúde mais frágeis, ou seja, sem condições de absorver toda a demanda extra ocasionada pela grande quantidade de pacientes com Covid-19. “Tal situação evidencia as desigualdades sociais”, frisa o consultor.

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, afirmou em algumas coletivas de imprensa que o coronavírus vem se comportando de maneira semelhante a outras doenças gripais também responsáveis por síndrome respiratória aguda grave (Srag), como a Covid-19. Historicamente, esses vírus (como o influenza da gripe) circulam em meses diferentes em cada região.

De acordo com dados do sistema InfoGripe, da Fiocruz, compilados pelo Metrópoles, os casos de Srag acontecem primeiramente no Norte e Nordeste. Por isso, no momento, essas regiões são as mais afetadas.

O estado do Amazonas tem, em média, maior circulação do vírus entre as semanas epidemiológicas 10 e 19 (entre março e começo de maio). O Ceará passa a ter alta nos casos normalmente entre as semanas 13 e 20 (final de março até o fim de maio), e Pernambuco, entre as semanas 14 e 24 (final de março até o início de junho).

O Distrito Federal tem alta em notificação de síndromes gripais entre as semanas 12 e 23 (meio de março a começo de junho). O Mato Grosso do Sul, último colocado no ranking de morte a cada 100 mil habitantes por Covid, apresenta aumento expressivo entre as semanas 20 e 28 (meio de maio até o início de julho).

No Sudeste, o Rio de Janeiro aponta maior circulação de vírus entre as semanas 16 e 25 (meio de abril a meio de junho), e São Paulo entre as semanas 18 e 28 (final de abril e meio de julho), com pico na semana 21 (meio de maio).

Já na Região Sul, o Rio Grande do Sul registra altas entre as semanas 18 e 30 (final de abril até o fim de julho).

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