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Covid: ex-funcionária da Casa Branca não defendeu ineficácia da vacina

Na verdade, Deborah Birx disse que as pessoas devem continuar se vacinando para ficarem protegidas de casos graves e hospitalizações

atualizado

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Reprodução/Projeto Comprova
Imagem colorida de postagem enganosa sobre Covid-19
1 de 1 Imagem colorida de postagem enganosa sobre Covid-19 - Foto: Reprodução/Projeto Comprova

Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.

Conteúdo investigado: tuíte com trecho em vídeo de uma entrevista da emissora de televisão americana Fox News com Deborah Birx, ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à Covid-19, alegando que ela teria confessado a ineficiência das vacinas contra o coronavírus e afirmado que metade dos óbitos pela variante Ômicron envolveria vacinados.

É ENGANOSO que a ex-coordenadora da Casa Branca para resposta à Covid-19 Deborah Birx tenha confessado, em entrevista de 22 de julho à Fox News, a ineficácia das vacinas contra a doença. Ela, na verdade, defendeu a vacinação, afirmando que evita casos severos e hospitalizações.

Birx disse que as pessoas “devem” se vacinar, inclusive com a dose de reforço, porque “nós realmente acreditamos que isso protegerá você, especialmente se você estiver acima dos 70 anos”.

Ela apenas reafirmou não acreditar que as vacinas, por si só, impedem a contaminação, uma tese que ela já defendia desde, pelo menos, 2020. “Eu sabia que essas vacinas não protegeriam contra a infecção”, disse Birx na entrevista à Fox News. A ex-coordenadora, porém, conclui o raciocínio defendendo, novamente, a eficiência da vacinação contra casos graves e hospitalização: “Acho que superestimamos as vacinas [quanto a impedir a contaminação], e isso fez com que as pessoas se preocupassem com [elas] não protegerem contra doenças graves e hospitalização. Elas os protegerão.”

A segunda parte dessa declaração é ignorada em um título descontextualizado no site da própria Fox News — “Dra. Birx sabia que as vacinas Covid não protegeriam contra a infecção” —, no qual o conteúdo aqui verificado muito provavelmente se baseou.

A postagem checada também distorceu declarações de Birx em relação a óbitos pela variante Ômicron entre os imunizados. A ex-coordenadora da Casa Branca disse que metade das mortes na “alta da Ômicron” envolveu “os mais velhos e vacinados”, e não o público imunizado “de uma forma geral”, como afirma a publicação investigada. Birx ressaltou que a idade é determinante na vulnerabilidade das pessoas face à Covid-19.

Ela não especifica a qual período essa estimativa se refere, usando apenas a expressão “Omicron surge”, traduzível para “alta da Ômicron”. Reportagem da CNN americana, considerando a alta da Ômicron nos Estados Unidos entre janeiro e fevereiro de 2022, mostra que mais de 40% das mortes por Covid envolviam vacinados.

Porém, a matéria, de 11 de maio, destaca que, desse grupo, menos de um terço havia tomado a dose de reforço: um indicativo, segundo a matéria, da necessidade da aplicação de uma terceira dose.

Alcance da publicação

O vídeo checado tinha 108,4 mil visualizações, 4,2 mil retuítes, 11,9 mil curtidas e 118 comentários até o dia 21 de setembro de 2022.

O que diz o autor da publicação

O Comprova tentou entrar em contato com o perfil que publicou o vídeo alvo da checagem, mas ele não aceita mensagem direta no Twitter. Não encontramos em outras redes sociais nenhum perfil do autor da publicação.

Como verificamos

Buscamos, no Google, pelas palavras-chave “Deborah Birx” e “Fox News”. Obtivemos, como segunda resposta, a versão original da entrevista, concedida à emissora de televisão americana, e, como sétima, um artigo do serviço de checagem de fatos americano Politifact desmentindo a alegação reproduzida pelo conteúdo verificado.

O que Deborah Birx disse à Fox News

O conteúdo verificado mostra o apresentador Tucker Carlson, da Fox News, reproduzindo um trecho de uma entrevista de Birx, datada de 22 de julho de 2022, ao jornalista Neil Cavuto, da mesma emissora de televisão.

Nela, a partir do sexto minuto, a ex-coordenadora reafirmou acreditar que a vacina não impediria a contaminação do vírus, mas, mesmo assim, diminuiria os casos graves da doença. “Eu sabia que essas vacinas não protegeriam contra a infecção. Acho que superestimamos as vacinas [quanto a impedir a contaminação], e isso fez com que as pessoas se preocupassem com [elas] não protegerem contra doenças graves e hospitalização. Elas os protegerão”, disse.

A ex-coordenadora de resposta à Covid-19 da Casa Branca afirmou que 50% das pessoas que morreram pela variante Ômicron eram idosos e vacinados. Ela não especifica a qual período essa estimativa se refere, usando apenas a expressão “Omicron surge”, traduzível para “alta da Ômicron”. Segundo reportagem da CNN americana, que analisou dados oficiais dos Estados Unidos entre janeiro e fevereiro de 2022, considerado período de alta da Ômicron, mais de 40% das mortes por Covid foram de vacinados. Desse grupo, menos de um terço havia tomado a dose de reforço.

O efeito protetivo das vacinas contra o vírus

As vacinas atuam no corpo humano induzindo a criação de anticorpos pelo sistema imunológico. Elas têm a capacidade de diminuir o impacto do vírus prevenindo casos graves e óbitos. Além disso, todas as vacinas licenciadas são rigorosamente testadas e consequentemente seguras.

O processo de criação dos imunizantes passou por estudos que comprovaram a segurança e a eficácia das vacinas. A Organização Mundial de Saúde (OMS), das Nações Unidas, recomenda que todas as pessoas se vacinem, com “muito poucas condições que excluiriam alguém de ser vacinado”, como estar com febre acima de 38,5 °C no dia da vacinação.

O combate a novas variantes que podem ser resistentes às vacinas existentes também se dá pela imunização coletiva e medidas de higiene protetivas.

Quem é Deborah Birx

A doutora Deborah Birx é uma médica e diplomata estadunidense que atuou como coordenadora de resposta à Covid-19 durante parte do governo do ex-presidente estadunidense Donald Trump (2017-2021). Especialista de renome mundial, seu trabalho é conhecido na área da imunologia, sobretudo no combate ao Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV na sigla em inglês). Além disso, tem atuação na seara de pesquisa de vacinas, saúde global, entre outros segmentos.

Durante a atuação na pandemia, Birx auxiliou na tomada de decisões e colaborou com autoridades estaduais americanas, fornecendo orientações. Ela também já atuou como Coordenadora das Atividades do Governo dos Estados Unidos para o combate ao HIV/Aids e como Representante Especial dos Estados Unidos para a Diplomacia da Saúde Global.

De 2005 a 2014, Birx atuou como Diretora da Divisão Global de HIV/Aids (DGHA), vinculada ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. De acordo com informações do governo americano, a médica publicou mais de 200 manuscritos em periódicos revisados ​​por pares, é autora de quase uma dúzia de capítulos em publicações científicas, bem como de pesquisas sobre vacinas desenvolvidas e patenteadas.

Por que investigamos

O Comprova investiga conteúdos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, as eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal. Peças de desinformação, como a verificada nesta checagem, desencorajam as pessoas a se vacinar contra a Covid-19, expondo-as ao risco de desenvolver casos graves da doença e prejudicando o combate ao vírus.

Outras checagens sobre o tema

Em julho deste ano, a agência de checagem americana PolitiFact desmentiu a alegação reproduzida pelo vídeo que foi alvo desta checagem. O Comprova fez outras verificações sobre conteúdos que distorcem informações relacionadas à pandemia. Dentre elas, mostrou que a vacina contra Covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live; que mutações do vírus não descartam eficácia e segurança das vacinas e que é enganoso que estudo de Harvard comprovou eficácia de hidroxicloroquina na prevenção da doença.

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