Jacket, Gentil e Koppe: um giro pelos novos cafés da Asa Sul

Este lado do Eixo Monumental agora abriga boas (e outras nem tanto) surpresas

Guilherme Lobão
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Nunca dei lá muita bola para o bairrismo planopilotense que divide o avião de Lucio Costa entre asa-sulistas e asa-nortistas. Primeiro porque parece piada. Segundo, esta simplificação na divisão dos “bairros” brasilienses não contribui para uma melhor compreensão das idiossincrasias de cada banda separada pelo Eixo Monumental. Digo isso pois recebo dos leitores, amigos e seguidores uma reiterada indagação: “E aí, qual é o melhor lugar para se tomar café em Brasília: Asa Norte ou Asa Sul?

Pois bem. Pelo menos desde 2010 percorro ativamente as não-esquinas de Brasília, sem me furtar a respirar os ares das demais regiões administrativas, em busca das mais legais biroscas do DF. As cafeterias, mais ou menos no raiar desta década, deixaram o posto de coadjuvante da padaria e da lanchonete para criar um ambiente profissional. O tal do café especial não pode prescindir de um serviço especializado de baristas ao passo que rompe com as commodities da cafeicultura nacional em nome de uma agricultura responsável, sustentável e, em maior medida, com mais qualidade.

Da primeira leva de especialistas em métodos de coa, filtragem e extração, ainda prosperam na capital a Objeto Encontrado, o Ernesto Café e a padaria Belini (agora com uma loja específica para trabalhar com café, The Coffee Experience). O Grenat, outrora meu favorito, saiu de cena, restando um quiosque da marca no Iguatemi, mas que não mais trabalha com moagem etc..

Depois vieram Clandestino, Los Baristas, Seu Patrício (agora de volta à Octogonal, com o Treze em seu lugar) – mais recentemente surgiram meus novos xodós, Salve Café Maravilha e Antonieta Café. Tudo na Asa Norte. Talvez seja este o motivo dos brasiliense querer armar mais uma disputa para fins de “tretar”na internet – como se já não estivéssemos fartos de tanta polarização.

A Asa Sul dispunha de poucos lugares com um bom serviço. O Civitá, o Ernesto (que ainda se mantém uma boa referência mesmo fora das mãos da fundadora) e poderia citar o Dylan, que funciona como uma cafeteria, mas cujo serviço de café é medonho. Vá pelo incomparável pão sourdough, pelo sanduíche de pastrami e pelas focaccias e pizzas de fermentação natural.

Nos meus mais recentes giros, eis que me deparo com uma renovação da cena gastronômica “asa-sulista” pautada justamente pelas cafeterias. Em menos de um ano para cá, abriram o Gentil Café, na 410 Sul; o Koppe Cafés Especiais, na 403 Sul; e o Jacket Café, na 106 Sul. Todos com cardápios muito diferentes entre si, porém unidos por uma idiossincrasia bem específica desta Asa: o investimento mais atencioso e polpudo na decoração – adereços de cena, charmosos jogos de luz e até paisagismo.

Gentil Café

Loja da Gentil: bom investimento em decoração, equipe atenciosa e um cardápio vacilante

 

O atendimento atencioso, a disposição da equipe em informar sobre o cardápio e os cruzamentos entre microlotes e métodos de extração surgem como o grande diferencial dentro do cenário brasiliense. Bebe-se bem por aqui. Da última visita, trago a bela lembrança de um espresso da Mon Coffee (Augusto Borges Peaberry) com ótima acidez e oleosidade e de um Hario v60 (meu novo queridinho) filtrado a partir de um microlote da Together (Doce Caparaó, da serra de mesmo nome).

Virando as páginas do menu, não me surpreendo com a oferta quase exclusiva de combinações de comidinhas salgadas com pães, torradas ou bruschettas. Há um ótimo croissant com um duvidoso creme de baru com chocolate “barutela”, em referência à infame pasta à base de óleo de palma e açúcar da multinacional Ferrero. Embora aqui encontremos um produto superartesanal, a mistura não conseguiu uma boa homogeneidade, sobrando cristais de açúcar na composição.

Pedi uma omelete também. Confesso que estou para desistir de comer esta simples e clássica receita nesta nossa cidade. Ninguém acerta. É sempre um achatado de ovos ressecado (o mesmo ocorre no cardápio do Koppe, citado abaixo). O triunfo alimentício da casa seria o cardápio de sobremesas. Com receitas clássicas e a simplicidade vulgarmente chamada de caseira, apresenta um razoável bolo de laranja com calda de limão muito açucarada, a ponto de encobrir a fisgada ácida tão relevante para uma composição cítrica como esta.

Na 410 Sul, bloco B, loja 36. Tel: (61) 3546-8651. De segunda a sábado, das 12h às 21h. Ambiente externo. Desde 2018

 

Jacket Café

 

Situado numa entrequadra vocacionada à gastronomia, o Jacket promove inicialmente uma ilusão de ótica em sua impressionante decoração. Ao adentrar o local, contudo, você não pode fruir do grande esforço de design de interiores. Atravessa-se o corredor e acomoda-se na área externa, que não tem lá muita graça – muito típico das lojas brasilienses, com aluguéis caríssimos para espaços mínimos.

A diversão, no entanto, fica bem a cargo da proposta lúdica do menu desenvolvido pelo talentoso confeiteiro Edgar Filho. Um bolo de chocolate e mais outro colorido nas cores do arco-íris, servido com um naco de algodão doce por cima fizeram a alegria das crianças (e dos adultos também, vai).

Embora o visual impressione, a sobremesa mais bem equilibrada do cardápio é uma versão do pastel tres leches, o popular bolo leitoso originário da América Central. Ah, o tal algodão doce aparece ainda sobre o espresso (muito bem tirado – tomei um da Ahá!), em substituição ao petit fours que normalmente ladeia a bebida.

No menu de salgados, precisei superar a birra com a modinha mais uma vez para reconhecer uma boa torrada de abacate (esta temperada com balsâmico e sal defumado). Agora, respeito qualquer lugar que saiba fazer um bom pão de queijo servido quentinho. Boa pedida. Mas o exagero kitsch das sobremesas chega a dar nos nervos, sobretudo com a versão ultraexagerada do s’more norte-americano (biscoito com chocolate mais marshmallow). É muito doce – e não há como não sê-lo. A não ser deixando pra lá, como fiz após o primeiro mergulho da colher.

106 Sul, Bloco C, Loja 15. De terça a sábado, das 9h às 21h; domingo, das 13h às 21h. Desde 2018

Koppe Cafés Especiais

Koppe: uma casa com um espaço interno agradável, mas que precisa profissionalizar serviço de barismo

 

Esta casa, inaugurada na virada do ano, preenche um vácuo em uma das tradicionais ruas gastronômicas de Brasília. Faltava ali, na 402/3 Sul, um local mais apropriado para um serviço vespertino ou informal, para um lanche rápido ou para fomentar a produtividade do freelancer-de-cafeteria. Aliás, este é o espaço para tanto: wi-fi, tomadas, ambiente fechado e serviço um tanto ágil.

Há um problema grave, contudo, no conceito da Koppe: não está ainda apto a oferecer um serviço de cafés especiais. O espresso é mal tirado, não há uma variedade de métodos ou um trabalho que reitere a importância do grão para este processo. Vemos sim um monte de café misturado com um tanto de coisa: Nutella, chantili, doce de leite, sei lá. Mas a qualidade do ingrediente central da bebida é duvidoso.

Comi razoavelmente bem na segunda visita. A primeira foi um tanto espantosa: tapioca seca, ovos apressados, com muitas bolhas na clara e uma cheesecake muito densa, arrematada por uma quantidade exagerada de calda de amora. Falta equilíbrio entre a cobertura e a tortinha, com mais ar na composição do creme de queijo. Por outro lado, o bolo de cenoura tem a fofura desejada. Mais uma vez exagera-se na boa calda (de chocolate), mas como é servido à parte, há possibilidade de regrar a quantidade.

403 Sul, bloco D, loja 16. Tel: (61) 3546-6778. De terça a sábado, das 9h30 às 21h30. Domingo até 18h. Wi-fi. Ambiente interno e externo. Desde 2018

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