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Freixo: Marielle nunca andou só, por isso ela é e sempre será essa potência

Deputado federal pelo PSol do Rio relembra trajetória da vereadora que, há um ano, foi brutalmente assassinada a tiros

Autor Marcelo Freixo

atualizado

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Reprodução/Facebook
Marielle Franco
1 de 1 Marielle Franco - Foto: Reprodução/Facebook

A execução de Marielle Franco e Anderson Gomes, crime político que hoje completa um ano sem resposta, fez com que os representantes da barbárie saíssem definitivamente de suas tocas. No dia da prisão dos suspeitos pelo assassinato, na Câmara Federal, um deputado do PSL do Rio Grande do Sul tentou interromper, com gargalhadas de deboche, a homenagem da bancada do PSol à vereadora e ao motorista. Não conseguiu.

Lamentavelmente, ele não é o único. Outras autoridades também tentaram diminuir a importância de Marielle e o significado político do crime de que ela foi vítima. Alguns, inclusive, chegaram a questionar quem foi Marielle Franco, de forma vil e desrespeitosa. Uso este espaço não só para responder aos representantes do ódio sobre quem foi Marielle, mas principalmente para, neste dia de dor, celebrar a sua vida e memória.

Estive com Marielle pela primeira vez no fim de 2002, durante a formatura de Anielle, sua irmã, que estava concluindo o ensino médio. Eu lecionava história numa escola particular e, naquele ano, fui o professor homenageado pelas turmas. Não chegamos a ser apresentados, mas lembro de toda a família reunida: ela, Ani, dona Marinete, sua mãe, e Toinho, seu pai.

Nós só nos conhecemos de fato e pudemos conversar algum tempo depois, num evento chamado Domingo é Dia de Cinema, que reunia alunos de cursos pré-vestibulares comunitários de todo o Rio de Janeiro no Cine Odeon, na Cinelândia, no Centro da cidade, com exibição de filmes e debates. Marielle era uma dessas estudantes: ela fazia parte de um pré-vestibular na Maré.

Anielle também estava na atividade e me disse que a irmã queria me conhecer, mas estava acanhada – algo inacreditável para quem a conhece. Naquele momento, eu não podia imaginar que as inquietações e sonhos em construir um mundo mais justo fariam com que a minha caminhada se cruzasse de maneira definitiva com a daquela menina um tanto envergonhada e de sorriso enorme.

Mari estava começando a sua militância quando se engajou em minha campanha para deputado estadual, em 2006.  Ela foi uma das pessoas que ajudaram a organizar a militância na Maré, onde nasceu e se criou. Após nossa vitória, pedi que toda a equipe que se envolvera nessa luta dentro da favela indicasse duas pessoas, que assumiriam o papel de promover o diálogo do nosso mandato com as comunidades do Rio. As escolhidas foram Marielle e Renata Souza, hoje deputada estadual pelo PSol, eleita em 2018.

Eu e Marielle chegamos juntos à Assembleia Legislativa (Alerj). Ao longo de 10 anos, passamos por três CPIs, que investigaram as milícias, o tráfico de armas e as execuções praticadas por policiais; enfrentamos e denunciamos a corrupção do MDB; aprovamos leis que melhoraram a vida dos mais pobres; atendemos por meio da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, coordenada por ela, mais de 6 mil pessoas que tiveram seus direitos violados.

Marielle construiu e se construiu em nosso mandato. Nesse processo todo que compartilhamos, vi como ela foi se transformando, mudando o cabelo, os gestos, o jeito de falar, as roupas, até se tornar a potência que se elegeu vereadora do Rio em 2016 com 46.502 votos

Lembro perfeitamente o dia em que Marielle, no início de 2016, entrou em minha sala, sentou diante de mim e disse: vou te deixar. Brinquei: como assim você vai me deixar? Eu sabia que havia um grande movimento para que ela disputasse uma vaga na Câmara Municipal, mas preferi esperar que ela amadurecesse a ideia e viesse me comunicar sua decisão quando estivesse segura dela.

Quando Mari me falou que seria candidata, respondi que ela estava pronta, que havia chegado a hora de ela voar e continuar construindo o seu caminho, que seria brilhante e trilhado ao lado de muita gente que sempre andaria com ela.

Marielle nunca andou só, por isso ela é e sempre será essa potência. Ela sempre será gigante. É isso que os escravocratas nostálgicos com suas chibatas imaginárias não aceitam. Eles não toleram serem menores do que uma mulher negra, nascida e criada na favela, que foi mãe muito jovem e trabalhou desde cedo para ajudar a família, que passou por um pré-vestibular comunitário na Maré e se formou socióloga, se elegeu vereadora e se tornou referência na luta por um país mais justo. A esses escravocratas digo: vocês passarão, Marielle passarinho. E seus ideais continuarão voando e inspirando. Querem saber quem foi Marielle Franco? Perguntem ao mundo!

*Marcelo Freixo é deputado federal pelo PSol-RJ

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