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Duas medalhas, duas histórias de luta e os argonautas de Caetano

Navegar é preciso, porque a realização do sonho é o que nos faz feliz, e a felicidade é a nossa razão de viver

Diretor-superintendente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira, dá orientações a quem pretende empreender

atualizado

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Laurence Griffiths/Getty Images
Rebeca Andrade, ouro
1 de 1 Rebeca Andrade, ouro - Foto: Laurence Griffiths/Getty Images

Os Jogos Olímpicos são muito mais do que conquistas de medalhas. O protagonismo de uma conquista olímpica retrata, além da disputa pontual, o ápice de uma história de vida de muita determinação. O esforço na busca da vitória é o resultado de uma longa caminhada, com percalços, como se fosse uma eterna prova de corrida com barreiras.

Com o passar do tempo, as barreiras se tornam mais difíceis, e o destino parece se esforçar em fazer desistir aqueles que buscam seus objetivos.

Mas os vencedores se alimentam das dificuldades. O estímulo para acreditar em si vem da superação das barreiras que o destino coloca no caminho. Quanto mais dificuldades, mais vontade de vencer. Nas Olimpíadas, conhecemos a história daqueles que nos representam, que, mais do que vencer as suas provas, mostram a garra do seu povo.

Com a pandemia mundial, com a alma adoecida, todos nós nos inspiramos naqueles que, apesar de tudo, vencem e nos enchem de orgulho, como se fosse cada um de nós naquele pódio.

Em 1969, logo após a sua prisão pelo regime militar, Caetano Veloso fez uma homenagem à cultura portuguesa com um fado inspirado em um poema de Fernando Pessoa. “Os Argonautas” foi uma belíssima obra de Caetano para ecoar o grito de que o valor da vida está no valor das próprias conquistas.

Desistir não pode ser a opção de quem enfrenta as tempestades ou as adversidades da vida. Afinal, navegar é preciso, viver não é preciso.

Se entregar, jamais! A vida é a oportunidade que temos de buscar nossos sonhos e, por eles, apenas por eles, viver valerá a pena. Não interessa a idade, muito menos a opção religiosa ou ideologia; navegar sempre será mais importante que viver.

A vida será a trilha que abriremos com as picadas feitas com a força da nossa consciência na busca pelo que nos fará feliz. É esse o recado: desistir, jamais!

Este ano foi a primeira vez que tivemos o surf como uma categoria olímpica. O primeiro medalhista dessa série foi um brasileiro, Ítalo Ferreira. Um nordestino, nascido no Rio Grande do Norte, de origem humilde. O pai era pescador que trazia do mar o sustento da família, e que mostrou ao filho que o mar poderia ser também o destino de suas conquistas.

Começou sua caminhada ainda criança, com todas as dificuldades de uma família desfavorecida de recursos materiais, mas de grande inspiração solidária. Assim como os argonautas, os marinheiros da mitologia grega que lutaram contra as tempestades para buscar o desejado velocino de ouro ou o talismã da prosperidade, Ítalo lutou contra as adversidades do mar e da terra, para realizar seu sonho.

A ginástica olímpica nunca havia dado uma medalha de ouro ao Brasil. A evolução dos atletas mostrou ao longo dos anos que esse pódio um dia chegaria, mesmo com outros países concorrentes que tinham equipes técnicas de excelência.

Nessa Olimpíada, a filha de uma trabalhadora doméstica que sustentou sozinha seus sete filhos mostrou que a perseverança e a disciplina são os ingredientes para a realização de um sonho. Rebeca Andrade, paulista, 22 anos, mostrou que a alegria, aliada à determinação, pode vencer as adversidades.

O sorriso de quem ama o que faz traz na alegria da missão a força da conquista. Como na obra os argonautas, o “sorriso solto perdido…o riso, o arco, da madrugada, o porto, nada”, tudo pode quem confia na alegria para a realização de seus sonhos, porque desistir não é opção.

Essa pandemia nos trouxe a desesperança. O medo, a incerteza e a perda de cada dia formam a armadilha para nos fazer desacreditar no amanhã, nos nossos sonhos. Mas não adianta viver passivamente no aguardo do amanhã se não construímos nossos sonhos, se não enfrentamos as barreiras e adversidades. Afinal, navegar é preciso.

Se a mitologia grega inspirou o poeta Fernando Pessoa, esse despertou em Caetano Veloso, na obra “Os Argonautas”, a mensagem de que lutar é preciso. Que a vida não é um mar de rosas e que seus sonhos não serão resultados do acaso.

Todos os dias, seremos confrontados pelo destino, testados pelo acaso para que possamos cair na armadilha da acomodação, da vitimização das agruras da vida. Mas nenhuma tempestade pode ser motivo para desistirmos de navegar. Nenhuma caminhada pode ser interrompida pelas pedras no caminho. “O barco, meu coração não aguenta, tanta tormenta…. O porto não”.

Navegar é preciso, porque a realização do sonho é o que nos faz feliz, e a felicidade é a nossa razão de viver.

* Valdir Oliveira, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal

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