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Centro Administrativo: Como nasce um elefante branco da cor do pecado

José Roberto Arruda colocou em prática um de seus grandes projetos: a transposição da burocracia do centro da capital federal para um endereço entre Taguatinga, Ceilândia e Samambaia

atualizado

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Kacio Pacheco/Metrópoles
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1 de 1 elefante - Foto: Kacio Pacheco/Metrópoles

A ideia de construção do Centro Administrativo do Distrito Federal (CADF) foi concebida durante a conturbada gestão de José Roberto Arruda, que acabou banido do governo depois de se tornar protagonista da Operação Caixa de Pandora, já no ocaso de 2009. Antes, porém, de ser afastado da chefia do Executivo, Arruda colocou em prática o que era um de seus grandes projetos, a transposição da burocracia do centro da capital federal para um endereço entre Taguatinga, Ceilândia e Samambaia.

Com o governo bem avaliado antes de vir a público o escândalo de corrupção da Pandora, Arruda conseguiu, à época, emplacar o seu projeto sem grandes contestações públicas, mesmo diante de argumentos frágeis. A economia de gastos com locação é um deles. O governo deixará de pagar parte dos aluguéis atualmente devidos, mas assumirá um boleto mensal a partir de R$ 17 milhões e por longos 22 anos, a titulo de contraprestação do serviço da Odebrecht e da Via Engenharia. A primeira, está no epicentro da Lava Jato. E a construtora candanga tangencia o escândalo que já tragou dezenas de empresas nos últimos dois anos.

Embora o governo tenha tentado evangelizar a população de que a troca é vantajosa, fica difícil botar fé no discurso oficial. Não dá para falar em diminuição de gastos, já que itens essenciais do projeto ainda não foram contabilizados. É o caso do mobiliário para atender o CADF. Estima-se, por baixo, um valor de R$ 200 milhões na compra dos móveis. Sem falar nos acessórios tratados fora dos holofotes da opinião pública. Em 2013, durante a administração de Agnelo Queiroz (PT), o governo tentou viabilizar junto ao consórcio do Centro Administrativo um aditivo do contrato no valor de R$ 34 milhões. A intenção, à época, era acrescentar à obra a colocação de vidros blindados, grades, novas paredes, salas mais espaçosas para os secretários de Estado e até uma suíte privativa para o governador e a primeira-dama.

Outro ponto do discurso oficial difícil de parar em pé é a tese da melhoria do trânsito com a mudança da burocracia para Taguatinga. Quando o governo quis convencer a população sobre a importância do projeto, disse que a alteração diminuiria os congestionamentos no Plano Piloto, pois inverteria o fluxo de carros. A comunidade chegou a experimentar o que seria um protótipo do novo centro administrativo, com a inauguração do Buritinga nas dependências de um quartel desativado bem na entrada de Taguatinga. A inversão na época não aliviou para o cidadão comum e criou transtornos para secretários de governo e seus assessores que não escondiam a insatisfação com o endereço afastado do centro de Brasília.

Nesta sexta-feira (1º/7), o Metrópoles revelou que integrantes da força-tarefa da operação Lava Jato avançaram nas investigações sobre a contratação de uma suposta consultoria de fachada para amparar as obras do Centro Administrativo do DF. A parceria foi firmada em 2008 entre a Via Engenharia e a CSA Project Finance, empresa do doleiro Alberto Youssef. A reportagem aponta que os promotores de Justiça encontraram fortes indícios de que o trabalho foi fajuto e teria servido para justificar pagamento de propina. Um ano depois da consultoria, em abril de 2009, a Via, em parceria com a Odebrecht, acabou vencendo a licitação para construir o Centro Administrativo do DF.

A suspeita de pagamento de propina nas origens do projeto do Centro Administrativo do DF pode ajudar a explicar o porquê um dia um governante tentou convencer a população da necessidade de se construir um centro administrativo custoso e afastado de Brasília. Pode ajudar a explicar também por que o governo subsequente insistiu no projeto. E ainda dar sinais de qual a razão encorajou a administração de Rodrigo Rollemberg (PSB) a contratar consultoria milionária para apontar o rumo do elefante branco que caminha para assumir a cor do pecado capital da corrupção.

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