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Carta de mãe de pacientes do Hospital da Criança ao MPDFT

“Por favor, coloquem-se em nossos sapatos neste momento de tanta gravidade”, suplica a jornalista Daniela Guimarães

Autor Daniela Guimarães Teixeira Migliari

atualizado

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JP Rodrigues/Metrópoles
Hospital da Criança 1
1 de 1 Hospital da Criança 1 - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Em junho de 2012, escrevi uma carta para Ilda Peliz, então presidente da Abrace. Eu não imaginava que, somente seis anos depois, aquela doce realidade, da qual fui testemunha, estaria sob risco iminente.

Como jornalista, algum tempo mais tarde, Ilda me convidou para assumir a diretoria de comunicação da instituição, na qual atuo voluntariamente até hoje. Nossos filhos gêmeos, Noah e Theo, agora têm 7 anos e seguem em controle anual no Hospital da Criança. A cada visita, percebo que o hospital está mais lotado e, ainda assim, incrivelmente organizado e eficiente.

Como mãe de dois pacientes, desde que estavam retirando os plásticos dos móveis do hospital, quero registrar um pouco do sentimento que passa pelo coração de todos que vivem histórias como a da minha família:

Essa carta expressa nossa gratidão pelo dia de hoje: após quase dois anos, nosso querido filho Theo teve alta do tratamento com infusões de imunoglobulina no Hospital da Criança, devido à prematuridade. Descobrimos quando ele tinha 4 meses e chegamos ao Hospital de Base para avaliação da equipe de imunologia. Era dezembro de 2010. Sabíamos que os melhores especialistas da área estavam no atendimento público, então, abrimos mão de usar nosso plano de saúde privado.

Não foi fácil o começo do tratamento no Hospital de Apoio. Mesmo ali, com tantas limitações de estrutura, sempre fomos cuidados e o Theo sempre recebeu muito carinho e atenção. Após quatro meses, soubemos da transferência para o Hospital da Criança. Um lugar incrível, humanizado, alegre. E pensei comigo: “Que decisão acertada essa! Agora estamos com atendimento de primeiro mundo, e num hospital público!”

Quando entramos lá pela primeira vez, as lágrimas rolaram no meu rosto. Nove anos antes, ainda sem filhos, eu e meu esposo havíamos atuado como voluntários da Abrace, sem nunca imaginar que um dia precisaríamos usufruir dos mesmos serviços. Nos sentimos recebendo um retorno do pouquíssimo que tínhamos dado. O tratamento acontecia na sala de infusões de medicamentos para crianças com doenças do sangue, junto com o tratamento de quimioterapia infantil.

Num lugar assim, a gente coloca a vida em perspectiva. A gente se põe nos sapatos do outro, e agradece por tudo que tem. Temos a felicidade da questão do Theo ser transitória, só que muitas outras crianças têm síndromes complicadas que demandam esse tratamento pela vida toda. Rezo por elas, e agradeço a Deus de poderem ter o Hospital da Criança como refúgio no contexto que envolve tratamentos tão complexos.

Os funcionários chamam meus filhos pelo nome. Cada lugar: a recepção, a triagem, a entrega dos remédios, as consultas com enfermeiras e médicas, a sala de medicação. A nutricionista, a turma da cantina, as enfermeiras, os voluntários da Abrace que passeiam pelas salas oferecendo Reike ou risadas com seus narizes de palhaço. É tudo tão bonito que me emociono só de escrever.

Ver o recurso financeiro bem empregado na assinatura de cada ala do hospital faz a gente acreditar na vida, nas pessoas e no poder da mobilização social. Recebam nosso abraço, admiração e gratidão. Parabéns por transformar sua dor em alívio e cuidados em horas difíceis para tanta gente!

Que Deus a abençoe, abençoe todos os funcionários do hospital e seus pacientes.”

Reservo profundo respeito aos profissionais do Ministério Público, e não desejo menosprezar suas decisões. No entanto, tenho um pedido a lhes fazer: visitem o hospital, conversem com os pais, observem as filas lotadas, verifiquem a movimentação intensa, desde cedo na manhã até o final da tarde!

Existe algum instrumento de bom senso, conciliação, ajuste de conduta que possa sanar essa questão? Alguma sinalização de boa vontade, visando manter vivo o instrumento público que representa chance de cura na vida de milhares de crianças e suas famílias? Realmente vale fazer essa cruzada contra uma gestão que tem alcançado resultados muitíssimo significativos até o ponto de esmagá-la e invalidá-la por completo?

Como diz uma amiga juíza: “A lei é morta e o juiz é vivo”. Que o coração de vocês seja o juiz neste momento e que possa dar vida à lei, ao encontrar um instrumento adequado de formalização que viabilize aquilo que tem sido uma luz na saúde pública do Distrito Federal. Por favor, coloquem-se em nossos sapatos neste momento de tanta gravidade. Obrigada!

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