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As quatro crises

Com o coronavírus, Brasil enfrenta desafios em quatro grandes áreas: saúde, social, econômica e política

Autor Flávia Arruda

atualizado

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Está muito claro que estamos diante de quatro graves crises superpostas. A primeira é a crise da saúde pública. Com o coronavírus sendo transmitido numa velocidade impressionante no mundo inteiro, os sistemas de saúde entram em colapso. Faltam aparelhos de respiração artificial, faltam leitos de UTI, não temos remédios para esse tipo de vírus e também ainda não foram desenvolvidas vacinas.

Os profissionais de saúde se desdobram e se arriscam sem equipamentos mínimos de proteção individual e sem estruturas compatíveis com a dimensão da pandemia. É uma crise tão grave quanto a gripe espanhola, que 100 anos atrás matou mais de 30 milhões de pessoas no mundo inteiro e, no Brasil, levou a morte até o presidente eleito à época, Rodrigues Alves.

A segunda crise é social. Moradores de rua estão abandonados e sem alimentos. Moradores de regiões carentes e trabalhadores informais estão sem dinheiro para suas necessidades básicas. Aumentou rapidamente o número que já era enorme de desempregados e o subemprego desapareceu com a diminuição de pessoas nas ruas. As pessoas mais humildes sentem fome e pedem socorro.

A terceira crise é econômica. Com a necessidade do isolamento social, a produção econômica cai a níveis baixíssimos. O setor de serviços está paralisado, o comércio de portas fechadas, e as empresas sem ter como cumprir seus compromissos com o Estado , com seus fornecedores e com os empregados.

Pais de família não têm como pagar suas contas. Essa diminuição drástica da cadeia produtiva gera desemprego,
inadimplência, falências e, brevemente, leva à falta de produtos essenciais e ao aumento de preços.

E, por último, temos a crise política. As três primeiras crises, que se superpõe, exigem decisões compatíveis e harmônicas entre todos os níveis de poder. O Executivo federal, Legislativo, Judiciário, governadores e prefeitos trabalhando em harmonia já teriam um enorme desafio pela frente. Em completa desarmonia, como assistimos
hoje no Brasil, gera falta de confiança na população, ineficiência nas providências tomadas, perda de tempo e de dinheiro, e podem gerar ainda maiores danos à convivência democrática, que está sendo testada mais uma vez.

O que fazer? O ideal é que governantes de todos os níveis de poder tivessem o diálogo necessário para avaliarem juntos a gravidade das crises, as experiências dos outros países  – onde o vírus chegou antes ; seus erros e acertos, e pudessem, juntos, sinalizar para a população um só caminho, diminuindo as margens de erro de suas decisões.

Espera-se, afinal, que se prepare o sistema de saúde para o pico das contaminações, previstas para os meses de abril e maio. Espera-se também que projetos de complementação de renda e de abonos emergenciais sejam adotados de forma eficiente para chegar na ponta, onde estão os mais pobres.

Esperam-se medidas econômicas de socorro aos que estão perdendo seus empregos, aos que já eram subempregados ou trabalhavam na informalidade, e apoio às empresas, para que elas possam cumprir seus compromissos, minimizando tanto quanto possível os inevitáveis danos de uma parada tão brusca na economia do país.

Esse parece ser o quadro de desafios a ser enfrentados. A população, atingida por essa pandemia, perplexa com as informações desencontradas de diferentes líderes e níveis de poder, tende a manifestar sua revolta com panelaços e manifestações nas redes sociais. Na verdade, a população parece bem mais equilibrada e consciente da crise e de suas consequências do que os líderes que deveriam dar o exemplo.

E, com isso, as quatro grandes crises, inevitáveis, que poderiam estar mais espaçadas no tempo, acabam se superpondo, aumentando a vulnerabilidade da sociedade, e concentrando seus efeitos terríveis sobre todos nós.
Pode haver uma minoria que aposta no caos para ter a chance de aplicar medidas excepcionais e antidemocráticas, mas isso ainda não aparece a luz do sol. Se existem esses devaneios, estão camuflados, ainda.

A prevalecer a voz da sensatez, ainda é tempo de que todo o governo federal tenha o equilíbrio que tem pautado o Ministério da Saúde, e que a sensatez que tem sido própria dos presidentes da Câmara, do Senado, do STF e da justiça de um modo geral, possam contaminar a todos que têm responsabilidade neste momento muito grave da vida brasileira.

Flávia Arruda é deputada federal pelo PL do Distrito Federal

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