metropoles.com

Arcabouço é “frágil” e deixa “pontos de interrogação”, diz economista

Gabriel Barros, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), diz que projeto só se sustentará se houver arrecadação “extraordinária”

atualizado

Compartilhar notícia

Vinícius Schmidt/Metrópoles
Haddad fala a prefeitos no CNM
1 de 1 Haddad fala a prefeitos no CNM - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A proposta do novo arcabouço fiscal, anunciada nesta quinta-feira (30/3) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “frágil”, de “baixa qualidade” e só será bem sucedida se houver um “crescimento extraordinário” da arrecadação do governo. A avaliação é de Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, ex-diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), com passagens por BTG Pactual e RPS Capital.

O arcabouço fiscal, que deve substituir o teto de gastos, é uma combinação de limitação de crescimento de despesas e de metas para o resultado primário. Segundo o projeto apresentado, o governo estabelecerá metas para o resultado primário (diferença entre a arrecadação e as despesas, descontado o custo da dívida federal). As metas atenderão a um regime de banda – ou seja, haverá um intervalo percentual para o cumprimento do primário.

Para 2023, por exemplo, a meta será de um déficit primário entre 0,25% e 0,75% do PIB, com o centro da meta em um déficit de 0,5%. Já para 2024, o objetivo principal será zerar o déficit, mas, pelo intervalo, será permitido um déficit de 0,25% ou um superávit de 0,25%.

“É um arcabouço frágil, ancorado totalmente no ganho de receita. A despesa, em momento algum, cai. Ela só cresce menos quando você tem um cenário econômico mais desafiador, mas sempre cresce. Isso é um problema”, afirmou Leal de Barros, em entrevista ao Metrópoles.

“Na prática, o que eles estão propondo só fica de pé e só é crível se houver um crescimento extraordinário da arrecadação de forma recorrente. Só dá para cumprir essa regra se a arrecadação tiver uma performance extraordinária. Para que não haja descumprimento de promessas de campanha, vai haver uma busca enorme por aumento de arrecadação”, projeta o economista.

Segundo Leal de Barros, o projeto apresentado por Haddad deixa “vários pontos de interrogação”. “Por exemplo, como a banda do primário vai operar e quais são os gatilhos para essa banda de primário. É importante lembrar que o conceito de banda de primário já foi tentado em um passado recente, no governo Dilma, e deu muito errado. Foi a origem do fim do resultado primário como âncora fiscal. Eu vejo essa a ideia de ter bandas de primário com muito ceticismo”, afirmou.

Leal de Barros também criticou a decisão do governo de manter gastos com saúde e educação (como o piso da enfermagem e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, o Fundeb) excluídos dos limites de gastos e submetidos a regras constitucionais específicas.

“Estão colocando um piso para investimento público, que vai crescer a cada ano. Estão dizendo para a gente que o Estado vai induzir o crescimento da economia. Além disso, optaram por manter o gasto com saúde e educação vinculado à receita. A despesa sempre cresce quando a economia cresce”, diz o economista.

“A regra é ruim, de baixa qualidade. Esses componentes de saúde e educação vão produzir uma expansão de gastos bastante grande na composição de despesa. Além disso, o piso de investimento é uma pressão adicional”, conclui.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNegócios

Você quer ficar por dentro das notícias de negócios e receber notificações em tempo real?