Ucrânia restringe música e livros russos em “desrussificação” do país

Kiev busca romper laços culturais remanescentes entre os dois países. O Parlamento ucraniano aprovou duas leis com restrições

Flávia Said
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O Parlamento da Ucrânia aprovou duas leis que colocarão severas restrições a livros e música russos, enquanto Kiev busca romper laços culturais remanescentes entre os dois países após a invasão do país pela Rússia.

Uma lei proibirá a impressão de livros por cidadãos russos, a menos que renunciem ao passaporte russo e assumam a cidadania ucraniana. A proibição só se aplicará àqueles que obtiveram a cidadania russa após o colapso do governo soviético em 1991.

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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra
A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro
Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta
Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território
Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território
Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado
O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles
Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo

Também haverá bloqueio à importação comercial de livros impressos na Rússia, Bielorrússia e território ucraniano ocupado. Para a importação de livros em russo de outros países, será necessária permissão especial.

Outra lei proibirá a reprodução de música por cidadãos russos pós-1991 na mídia e no transporte público, além de aumentar as cotas de fala e conteúdo musical em língua ucraniana nas transmissões de TV e rádio. As informações são do jornal The Guardian.

As leis receberam amplo apoio de toda a Câmara no domingo (19/6), inclusive de legisladores que tradicionalmente eram vistos como pró-Kremlin pela maioria da mídia e da sociedade civil da Ucrânia.

Para entrarem em vigor, elas ainda precisam ser assinadas pelo presidente Volodymyr Zelensky, mas não há indicação de que ele se oponha a elas.

“Desrussificação”

A Ucrânia tem buscado se descolar da influência russa, em um processo anteriormente chamado de “descomunização”, agora mais frequentemente apelidado de “desrussificação”. As medidas buscam desfazer séculos de políticas destinadas, na visão dos ucranianos, a esmagar a identidade ucraniana.

Moscou discorda, dizendo que as políticas de Kyiv para consolidar a língua ucraniana no dia a dia oprimem o grande número de falantes de russo da Ucrânia, cujos direitos ela afirma defender no que chama de “operação militar especial”.

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