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Força de movimentos antivacina marca história da Alemanha

País europeu tem longo histórico de ceticismo em relação aos imunizantes, com teorias conspiratórias e clichês antissemitas

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Peter Zelei Images/Getty Images
bandeira da alemanha com ilustrações do coronavírus
1 de 1 bandeira da alemanha com ilustrações do coronavírus - Foto: Peter Zelei Images/Getty Images

Muitos boatos circulam na Alemanha sobre vacinas contra a Covid-19. Alguns alegam que o imunizante causa doenças, outros propagam que a vacinação só serve ao Estado para coletar dados. Movimentos antivacina andam agitados, embora não haja no momento no país europeu a obrigatoriedade da vacina contra o coronavírus.

O debate sobre vacinação sempre foi “altamente político” na Alemanha, afirma o historiador Malte Thiessen à DW. “A imunização sempre foi mais do que uma picada. É também sobre uma visão de mundo.” Ela tem relação com o próprio corpo, o meio social e o Estado.

O debate acalorado em torno do tema não é novo. “Há 200 anos a vacinação já era controversa e gerava debates políticos intensos”, conta Thiessen.

O fato de os alemães, em comparação internacional, serem mais críticos a vacinas tem relação com a história da imunização desde o século 19. Muitos dos argumentos e estereótipos daquela época estão presentes até hoje.

Vacinação obrigatória contra a varíola

A lei imperial de vacinação entrou em vigor em 1874, como resultado do avanço da varíola em toda a Europa. Somente na antiga Prússia, a doença causou dezenas de milhares de mortes. A vacina contra a varíola tornou-se então obrigatória e causou controvérsia.

Nesta época, o chamado Movimento Reforma da Vida virou moda. Seus adeptos acreditavam em meios naturais para fortalecer o corpo, como tomar sol ou dietas especiais. As primeiras organizações antivacinas haviam sido fundadas em 1869 em Leipzig e Stuttgart – cinco anos antes da lei imperial. A Associação Imperial para o Combate à Vacinação Obrigatória reuniu em pouco tempo 300 mil integrantes.

Para eles, a imunização era “coisa do diabo”, conta Thiessen. “Algo artificial, químico, sendo injetado no corpo. Isso ajuda a explicar a enorme oposição a vacinas em círculos alternativos na Alemanha até hoje.”

Teorias de conspiração e clichês antissemitas desempenharam um papel desde o início das primeiras campanhas antivacina. De acordo com Thiessen, foi espalhado que vacinas eram parte de uma conspiração judaica global para prejudicar o corpo do povo alemão. Esses clichês antissemitas aparecem atualmente em tuítes e mensagens de seguidores de movimentos antivacinas.

Cético da vacinação

A crença em um Estado onipotente que estaria forçando a vacinação dos cidadãos não é nova, e também é possivelmente um dos motivos para a baixa prontidão de alemães em se vacinar. Numa pesquisa internacional realizada em dezembro pelo Fórum Econômico Mundial, a Alemanha aparece na metade inferior da lista dos países prontos a aceitar um imunizante.

Os números de idosos com mais de 65 anos que tomam a vacina da gripe no país mostra essa mesma disposição. Muitos alemães temem mais o imunizante do que o vírus. Em 2019, apenas 35% dos idosos alemães se vacinaram contra a influenza, contra 85% dos coreanos e 72% dos britânicos.

A prontidão para se vacinar é maior nos estados do Leste do que do Oeste, mostrou uma pesquisa do Instituto Robert Koch (RKI). E há uma razão histórica para essa diferença.

Guerra Fria da vacina

Na antiga República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista, a vacinação contra difteria, tuberculose e varíola era obrigatória. Quem se recusasse, poderia levar uma multa de até 500 marcos orientais.

Na Alemanha Ocidental, ao contrário, a obrigatoriedade foi em grande parte abolida e se passou a dar ênfase em campanhas educacionais e na vacinação voluntária.

Nos anos 1960, a Alemanha Oriental, por exemplo, foi muito mais rápida do que a Ocidental em implementar um programa de vacinação sistemático contra a poliomielite, que causa paralisia infantil. O resultado: os casos da doença caíram rapidamente na RDA, enquanto do lado capitalista a epidemia se espalhava.

Na corrida pela “saúde pública”, a Alemanha Oriental estava na liderança e fez propostas generosas à inimiga. Segundo Thiessen, em 1961, a RDA ofereceu 3 milhões de doses da vacina contra a pólio à Alemanha Ocidental devido ao suposto fim da epidemia em seu território.

“Isso teria sido um sucesso propagandístico para o Leste”, completa Thiessen. O então chanceler federal Konrad Adenauer recusou educadamente a oferta.

Obrigatoriedade como último recurso

No início desta semana, o governador da Baviera, Markus Söder, provocou furor com uma proposta. Após muitos profissionais de saúde estarem se recusando a se vacinar contra a Covid-19, ele sugeriu que a vacinação passasse a ser obrigatória para esse grupo.

Thiessen alerta contra a ideia, argumentando que a imunização obrigatória de determinados grupos deveria ser “o último recurso”. Uma opção melhor seria um apelo para o senso ético da profissão. “Sanções não adiantam se alguém se recusa a tomar uma vacina”, acrescenta o historiador.

Thiessen aponta ainda um problema secundário comprovado pela história: a falsificação de comprovantes de vacinação. “Isso tornaria a equipe médica potencialmente contagiosa, mas não identificável como tal”.

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