• Raphael Veleda

    Por Raphael Veleda

09/08/2020 05:30

A pandemia do novo coronavírus marca este tempo de maneira dramática, e ninguém duvida de que as próximas gerações vão contar, incansavelmente, em livros e filmes, o período em que um ser invisível quase paralisou a humanidade.

O “quase” é importante nessa sentença porque, apesar da calamidade sanitária que já tirou a vida de mais de 100 mil brasileiros e da crise econômica que deverá impor ao Brasil um tombo de quase -9% no PIB nas contas do FMI, freamos, mas não paramos.

Mesmo em um cenário no qual 80% das empresas transportadoras viram suas demandas caírem, continuamos a produzir e distribuir alimentos, remédios, insumos, energia e combustíveis – para evitar o fantasma do desabastecimento.

O volume de cargas transportadas em rodovias, a maioria por caminhoneiros autônomos, chegou a experimentar queda de 44,8% em abril, segundo levantamento semanal feito pela Associação Nacional de Transporte de Carga e Logística (NTC&Logística).

EVOLUÇÃO SEMANAL
Variação da demanda de carga – Geral
SEMANA 1 – 16 a 23/3

SEMANA 2 – 24 a 29/3

SEMANA 3 – 30 a 5/4

SEMANA 4 – 6 a 12/4

SEMANA 5 – 13 a 19/4

SEMANA 6 – 20 a 26/4

SEMANA 7 – 27 a 3/5

SEMANA 8 – 4 a 10/5

SEMANA 9 – 11 a 17/5

SEMANA 10 – 18 a 24/5

SEMANA 11 – 25 a 31/5

SEMANA 12 – 31 a 7/6

SEMANA 13 – 8 a 14/6

SEMANA 14 – 15 a 21/6

SEMANA 15 – 22 a 28/6

SEMANA 16 – 29 a 5/7

SEMANA 17 – 6 a 12/7

SEMANA 18 – 13 a 19/7

SEMANA 19 – 20 a 26/7

* Os volumes acima estão expressos em percentagem – %

Por outro lado, havia a necessidade de levar a todos os cantos do país materiais essenciais para os profissionais de saúde lidarem com a pandemia e com outras demandas da área, como cirurgias de transplante de órgãos. Além de alimentos para a população, em isolamento social.

Um contingente de heróis enfrentou o vírus e a insegurança para seguir carregando o Brasil sobre rodas, pelas águas, pelo ar e pelos trilhos.

Igo Estrela/Metrópoles
Igo Estrela/Metrópoles

Nesta reportagem, mostramos o impacto da Covid-19 no setor do transporte e ajudamos a contar a história de profissionais com trajetórias distintas, mas que sentiram em maior ou menor grau o impacto da pandemia em termos de saúde e perdas econômicas.

“São profissionais tão fundamentais quanto os médicos e enfermeiros”, reconhece o médico Ricardo Helege, vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

“Por isso, é papel da sociedade agir para protegê-los, a fim de que não haja risco de desabastecimento”, pontua Helege. E frisa ainda que a Abramet está engajada em fazer campanhas de informação para colaborar com a categoria.

Ações educativas e de distribuição de produtos de higiene são algumas das iniciativas voltadas a ajudar trabalhadores como o caminhoneiro Alexandre Batista Patrício. O autônomo vive em Paulínia (SP) e, atualmente, transporta combustível entre São Paulo e Mato Grosso, uma carga perigosa que demanda alto grau de especialização do profissional.

Alexandre afirma que não parou de trabalhar este ano em nenhuma semana. Por outro lado, frisa que tem enfrentado uma série de novos desafios. Há 20 anos na estrada, sendo 16 deles como patrão de si mesmo, ele conta que a pandemia bagunçou bastante sua rotina.

“Há semanas boas, mas também algumas bem difíceis, pouca carga e muita espera”, diz Alexandre Batista Patrício, caminhoneiro

No entanto, neste momento de crise, o que mais incomoda o profissional não é a insegurança com a saúde, e sim o preconceito nos estabelecimentos. “Estamos fornecendo comida, combustível e insumos. Mas, pelos olhares das pessoas nos pontos de entrega e restaurantes, parece que estamos levando a doença”, lamenta.

A situação se agravou na fase mais rígida do isolamento social, quando praticamente todas os pontos de parada na estrada estavam fechados. “É duro. Há quatro meses não sento em uma mesa para comer. É pegar a marmita e ir pra boleia do caminhão fazer a refeição sozinho”, desabafa. “Na maioria dos restaurantes, sequer podemos entrar para pegar o prato. As atendentes passam tudo por uma grade. Não acho lugar nem para tomar banho. Os banheiros disponíveis não têm nenhuma condição de uso”, destaca.

Mesmo diante de todas essas dificuldades e restrições, Alexandre admite que, às vezes, as medidas de proteção contra o coronavírus não são ideais. “Para falar a verdade, em muitas ocasiões, só resta o uso de máscara como cuidado para nós. A higienização completa indicada pelas autoridades é bem complicada de ser realizada na estrada”, salienta o profissional. “Temos sorte porque esse vírus não pegou muito entre a gente”, ressalta, num misto de esperança e confiança.

Alexandre afirma que, apesar das adversidades, não pensa em desistir da profissão. “Somos movidos pela fé em Deus. Ser caminhoneiro está no sangue. Já passei por muita dificuldade, sofri acidente, perdi caminhão, mas não consigo largar. Amo o que eu faço”, conclui.

Os primeiros a entrar em um navio

A situação sanitária de quem trabalha nas estradas é um tanto desafiadora quando comparada à de profissionais que atuam em modais mais restritos – nestes, foi mais simples criar e adotar protocolos de segurança. Mesmo assim, é impossível reduzir a zero, neste momento pandêmico, os riscos de contágio.

Os práticos da marinha mercante, responsáveis por manobrar navios em águas restritas, são as primeiras pessoas a ter contato com embarcações que chegam de longe. Tão logo entram nos veículos, interagem com tripulantes confinados há meses no mar. Por causa disso, desde janeiro, quando a maioria dos brasileiros só conhecia o coronavírus por meio do noticiário internacional, essa categoria já havia adotado medidas mais rígidas para lidar com cargas que partiam da Ásia, primeiro epicentro da Covid-19.

“Precisamos inserir itens nos nossos equipamentos de proteção individual. Luvas cirúrgicas, máscaras e até um macacão completo para casos de suspeita ou confirmação de infecção no navio”, assinala Otávio Fragoso, profissional com 30 anos de experiência em praticagem no Rio de Janeiro. Atualmente, ele faz testes de coronavírus ao menos a cada 15 dias e teve de adotar medidas de segurança mais rígidas, como evitar os elevadores nos navios – isso significa subir até 12 andares de escada para chegar ao local de trabalho, o passadiço.

Segundo a associação que representa a categoria, cerca de 30 profissionais, dos 600 que atuam no Brasil, pegaram coronavírus até agora. Pontua ainda que nenhuma morte foi registrada entre a classe.

Quando percebem que as medidas de emergência estão funcionando, os profissionais atuam com menos receio e, consequentemente, focam mais nas demandas da empresa. De acordo com Fragoso, não houve diminuição no volume de trabalho.

“Alguns portos tiveram redução nas demandas. Em contrapartidas, outros perceberam aumento. Os navios, entretanto, têm chegado e saído com a carga reduzida, os de contêineres principalmente. Os graneleiros e os de petróleo têm mantido a média”, conta o prático Otávio Fragoso

Segundo a CNT, o setor de transporte aquaviário apresentou queda de 1,7% em maio de 2020, na comparação com o mês imediatamente anterior, e aumento de 10,6% em relação ao mesmo período de 2019. O que significa uma boa notícia em meio a números tão negativos.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Pedido de socorro

Apesar de as empresas da área aquaviária terem tido bons resultados, o setor de transporte em todos os seus modais têm procurado ajuda nos bancos. Ainda de acordo com a CNT, mais da metade das empresas (52%) recorreram a instituições financeiras a fim de pedir créditos para se manterem – dessas, 54% tiveram resposta negativa até julho.

No caso das que procuraram o Pronampe, programa criado pelo governo como resposta aos problemas de pequenas e médias empresas durante a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus, expressivos 90,1% dos pedidos de transportadoras foram negados ou não respondidos.

“E, nesse cenário, 34% das empresas tiveram de apelar ao crédito rotativo, o pior que existe, o mais caro”, lamenta o diretor-executivo da entidade que representa os transportadores, Bruno Batista.

PERCENTUAL DE EMPRESAS QUE TIVERAM QUEDA NO FATURAMENTO
SEMANA 1 – 16 a 23/3

SEMANA 2 – 24 a 29/3

SEMANA 3 – 30 a 5/4

SEMANA 4 – 6 a 12/4

SEMANA 5 – 13 a 19/4

SEMANA 6 – 20 a 26/4

SEMANA 7 – 27 a 3/5

SEMANA 8 – 4 a 10/5

SEMANA 9 – 11 a 17/5

SEMANA 10 – 18 a 24/5

SEMANA 11 – 25 a 31/5

SEMANA 12 – 31 a 7/6

SEMANA 13 – 8 a 14/6

SEMANA 14 – 15 a 21/6

SEMANA 15 – 22 a 28/6

SEMANA 16 – 29 a 5/7

SEMANA 17 – 6 a 12/7

SEMANA 18 – 13 a 19/7

SEMANA 19 – 20 a 26/7

Para Bruno Batista, existe vontade e capacidade de adaptação, “mas são necessárias condições de mercado e financiamento mais bem ajustadas”. Ele aproveita para mandar um recado ao governo e às instituições financeiras: “Os bancos precisam parar de usar os métodos de análise de risco dos tempos pré-pandemia. Vivemos tempos excepcionais”.

“Se não houver medidas logo, o país sairá da pandemia com um número bem menor de empresas de transporte, e isso vai gerar impacto social e econômico em todas as regiões do país”, prevê o apreensivo executivo da CNT.

Divulgação
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O cenário só não é de total desesperança porque a atividade econômica no país dá leves sinais de recuperação. Em maio, o crescimento do setor de transportes, como um todo, foi de expressivos 4,6% em relação a abril, apesar de ter ficado 20% menor do que a alta registrada no mesmo período do ano passado.

No balanço de junho do Índice da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), que registrou expressiva redução no movimento nas estradas pedagiadas (22,1%), verifica-se que o trânsito de veículos pesados se manteve quase estável, com queda de apenas 0,3%.

Nos trilhos

No setor de transporte ferroviário de cargas, a pandemia avançou timidamente no orçamento das empresas. Segundo pesquisa da CNT, o volume de mercadoria conduzido pelos trens do país em maio de 2020 foi 4,6% maior do que o de abril, considerando toneladas úteis (TU); e 2,8% maior ao levar em conta toneladas por quilômetro útil (TKU). Na comparação com o mesmo período de 2019, porém, houve queda de 5,2% no quesito TU; e de 5,1% no TKU.

O ferroviário Vinícios Dutra, morador de Mairinque (SP) e funcionário da VLI, uma das maiores empresas de logística do país, diz não ter sentido diferença no volume de carga. Mas, segundo ele, o trabalho de maquinista, que sempre foi muito solitário, ficou ainda pior com o isolamento social.

“No trem, o costume já era viajar sozinho, agora a gente não se encontra mais nem na sede da empresa. Fazemos em casa a parte burocrática e, quando vamos assumir o posto de maquinista, seguimos direto para o embarque”, conta Vinícios Dutra, ferroviário

Atuante no setor desde 2003, Dutra começou a trabalhar na VLI em 2015. A empresa circula nas ferrovias Norte-Sul (FNS) e Centro-Atlântica (FCA). A região de Sorocaba, perto de Mairinque, onde o funcionário da multimodal vive, é um polo de agronegócio em São Paulo, cujos produtos lotam a maioria dos trens comandados por Vinícios. Dali, a produção é escoada para a capital paulista e para o Porto do Santos, por exemplo.

Há alguns anos, Dutra registra sua rotina de trabalho no canal Café Ferroviário do YouTube. Ele usou a influência conquistada na web para ajudar a categoria a se conscientizar sobre a necessidade de proteção. Em parceria com um colega de outra empresa, entrou em contato com profissionais do país inteiro e produziu um vídeo para incentivar o uso da máscara, um dos principais itens de proteção individual e coletiva.

O ferroviário pontua que, em momentos de crise, a categoria percebe a importância do próprio ofício. “Me sinto muito feliz de não ter parado, gosto bastante de trabalhar. Tenho paixão pelo que faço, pois sei que é uma atividade essencial. Se a gente parasse, ia afetar o Brasil e o mundo. Estamos na linha de frente e não podemos parar”, destaca Dutra.

Os protocolos de segurança não ficam restritos ao ambiente de trabalho. Apesar da saudade dos familiares e da vontade de abraçar cada um depois de dias fora, ele sempre cumpre o ritual de se lavar antes de qualquer contato físico. “Eles estão de quarentena rígida em casa, pois tenho um filho que é grupo de risco. Então, a gente toma muito cuidado. Normalmente, meu menino já corre para pedir a bênção, mas eu preciso pedi-lo esperar. Só me aproximo depois de estar pelo menos com a mão e o rosto limpos”, conta.

Situação pior do que a das empresas ferroviárias de cargas vivem as de transporte de passageiros, sobretudo no contexto urbano. Com o setor enfrentando queda de aproximadamente 25%, muitas companhias estão à beira do colapso, segundo entidades que representam a categoria.

A Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) tem feito forte pressão no Congresso pela aprovação de uma lei de socorro emergencial ao transporte público.

Mais demanda para salvar vidas

Uma das baixas mais expressivas na frequência de viagens do setor de transportes foi no modal aéreo. Com o país fechado e tendo em vista a interrupção da circulação de passageiros – uma das principais formas de conter o contágio pelo coronavírus –, as empresas desse ramo tiveram em julho, em relação ao mesmo período de 2019, retração acima de 75% pelo segundo mês seguido.

Com os aviões comerciais parados nos pátios, por falta de passageiros, aumentou a demanda pela participação da Força Aérea Brasileira (FAB) no trabalho de transporte de órgãos para transplantes em todo o país.

Por força do Decreto nº 9.175, de outubro de 2017, a instituição mantém, permanentemente disponível, pelo menos uma aeronave exclusiva para esse fim. O 6º Esquadrão de Transporte Aéreo (ETA), que funciona na Base Aérea de Brasília, deixa quatro aeronaves sempre prontas para responder aos chamados da Central Nacional de Transplantes, ligada ao Ministério da Saúde. Os militares usam diferentes modelos nessas operações: o jato, para chegar mais rapidamente, e o turbo-hélice, a fim de alcançar pistas de pouso curtas.

Este ano, até 22 de julho, a FAB havia realizado 111 missões e carregado 147 órgãos. Em 2019, foram 163 missões e 167 órgãos ou tecidos transportados.

A capitã Bruna Nascentes Teles comandou, apenas em 2020, três voos escalados para essa finalidade. Há 11 anos, a militar desafia a realidade majoritariamente masculina da profissão e pilota aviões complexos.

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"Adaptamos o protocolo de Covid-19 para não atrapalhar o tempo de resposta aos chamados", frisa a capitã Bruna Teles
“Adaptamos o protocolo de Covid-19 para não atrapalhar o tempo de resposta aos chamados”, frisa a capitã Bruna Teles

Ao receber a reportagem no pátio da Base Aérea, guardando distância e usando máscara, a capitã contou que é impossível não se envolver de maneira além da profissional com as histórias. Trata-se da única entrevista presencial de uma apuração em tempos de pandemia.

“Este ano, participei de uma missão que levou um coração até Dourados (MS). Depois, tivemos a oportunidade de entrar em contato com a equipe médica e recebemos a notícia de que o transplante deu certo”, comemora.

“É muito gratificante poder fazer esse trabalho e salvar vidas”, diz Bruna Nascentes Teles, pilota

Ela conta que novas medidas de segurança precisaram ser adotadas no sentido de evitar o contágio pela Covid-19, incluindo chegar mais cedo ao trabalho para higienizar as aeronaves. “A gente adaptou o protocolo a fim de não atrapalhar o tempo de resposta aos chamados. Isso é o mais importante”, frisa a capitã.

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 "A nossa profissão, além de extremamente importante, é gratificante", assinala o tenente Guilherme Freitas
“A nossa profissão, além de extremamente importante, é gratificante”, assinala o tenente Guilherme Freitas

Na Força Aérea Brasileira também há 11 anos, o 1º tenente Tales Guilherme de Freitas acredita que, além do transporte de órgãos, a instituição tem atuado em outras frentes importantes no combate à crise causada pela pandemia do novo coronavírus.

“Recentemente, tive o privilégio de realizar uma missão de transporte de equipamentos médicos, de Brasília até Belém”, relata o tenente, orgulhoso. “A nossa profissão, além de extremamente importante, é gratificante”, assinala.

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"É voo da vida. A gente leva esperança. É muito gratificante e vale a pena todo o esforço", ressalta o tenente-coronel Chistiano Pereira Haag
“É voo da vida. A gente leva esperança. É muito gratificante e vale a pena todo o esforço”, ressalta o tenente-coronel Chistiano Pereira Haag

Também fugindo do tom mais sisudo do ambiente militar, o comandante do 6º ETA, tenente-coronel Chistiano Pereira Haag (que orgulhosamente se apresenta como primeiro oficial da FAB nascido em Brasília), classifica a oportunidade de transportar órgãos e insumos médicos como “uma honra”.

“É voo da vida. A gente leva esperança. É muito gratificante e vale a pena todo o esforço”, ressalta.

E há quem tenha sido obrigado a parar

Um dos modais do transporte viveu uma espécie de limbo por alguns meses: com cidades interditadas, a rede rodoviária de passageiros sofreu um baque ao longo da quarentena estabelecida para frear a disseminação do vírus e impedir o colapso de hospitais, que chegou a ocorrer em cidades como Manaus e Rio de Janeiro. Só a partir de meados de junho, com o início do afrouxamento das medidas de confinamento, os coletivos voltaram a circular com mais normalidade.

Nesse período, o motorista de ônibus interestadual Gustavo Monteiro, que vive em Vitória (ES), perdeu renda e viu os empregos desaparecerem. “Fiquei trabalhando só em regime de plantão, reduziu muito a carga”, pontua o profissional, que, assim como Vinícios Dutra, também tem canal no YouTube, o Gustavo Interestadual.

Na página, ele relata aos mais de 100 mil inscritos as dificuldades enfrentadas nas estradas. “As pessoas inscritas no meu canal se preocupam comigo e me chamam atenção quando gravo sem máscara. Mas eu sempre me cuido, e só faço isso quando estou sozinho, isolado”, frisa. Apesar da volta de muitos horários, Gustavo ainda percebe significativa baixa na demanda.

“Os ônibus não estão cheios. Há muitas pessoas com condições e até com necessidade de viajar, mas que ainda não têm coragem de usar os coletivos”, avalia. Monteiro segue esperando por dias melhores.

O que diz o governo

O Metrópoles procurou os entes governamentais envolvidos no socorro a empresas e a profissionais do setor de transportes para falar sobre as críticas e cobranças que foram feitas.

Apesar de mais da metade das empresas do setor não ter conseguido acessar programas de crédito para sobreviver nesta acentuada crise econômica, o Ministério da Economia afirma que tem adotado medidas nesse sentido. “Não temos poupado esforços para que o crédito dos diversos programas de emergência possa chegar efetivamente às empresas”, assinala o órgão.

No caso do Pronampe, a pasta garante que tem trabalhado para ampliar o programa, mas pontua que os recursos destinados aos empréstimos se esgotaram no primeiro mês de operação. Na etapa inicial, segundo números oficiais, foram assinados 217,8 mil contratos – o que gerou R$ 18,7 bilhões em empréstimos. O dinheiro, entretanto, ainda não chegou aos transportadores, como mostra pesquisa da CNT.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Rafaela Felicciano/Metrópoles

Já o Ministério da Infraestrutura listou ações que vem tomando para garantir a continuidade do sistema de transporte de cargas e de passageiros. “O Ministério criou, no dia 20 de março, início da crise, o Conselho Nacional de Secretários de Transportes (Consetrans), entidade responsável pelo diálogo e alinhamento entre estados e União para temas que envolvem logística e transporte”, informa a pasta. E continua: “Por meio do Consetrans, governos federal e estaduais padronizaram decretos de fechamento de comércios, garantindo serviços essenciais aos profissionais do setor”.

A pasta citou ainda o aprimoramento do InfraBR, criado com a finalidade de ajudar os caminhoneiros no cálculo de fretes. Agora, o aplicativo tem sido usado na localização de estabelecimentos abertos nas rodovias, como restaurantes, oficinas, lojas de autopeças e borracharias, com o intuito de facilitar a vida desses profissionais.

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