Seca no DF
menos chuva e mais calorDados do Inmet levantados para o Metrópoles mostram que o período de estiagem castiga cada vez mais os brasilienses.
Dados do Inmet levantados para o Metrópoles mostram que o período de estiagem castiga cada vez mais os brasilienses.
Os dados não trazem qualquer alívio ou refresco: cada vez chove menos, está mais seco e faz mais calor no Distrito Federal na época da estiagem. Levantamento inédito feito pelo Instituto de Meteorologia (Inmet) a pedido do Metrópoles mostra que entre 2004 e 2014 os índices de umidade relativa do ar estão abaixo da média, a temperatura está acima, assim como o período sem chuvas aumentou. Tendência que se repete este ano, já que os termômetros chegaram a 34º, a umidade baixou a 11% e ficou sem chover 101 dias.
As interferências humanas no meio ambiente somadas aos fenômenos naturais causaram outras alterações climáticas no DF. A temperatura média para os meses de seca (junho, julho, agosto e setembro) ficou acima do esperado para a época nos últimos 10 anos.
“Os desmatamentos, o assoreamento de mananciais e a expansão do perímetro urbano do Distrito Federal são elementos que nos levam a acreditar que a intensidade da seca deve se prolongar nos próximos anos”, afirma Fabio Goulart, professor do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB).
“Esses últimos anos estão sendo considerados os mais quentes do DF, desde 1961 (quando começaram as medições)”, confirma Andrea Ramos, meteorologista do Inmet. “A gente nota que as temperaturas máximas estão cada vez maiores. E as mínimas também apresentam tendência de aumento”, completa.
Os números revelam, ainda, que choveu menos do que o esperado durante a seca no DF desde 2010. Ano passado, eram esperados 22,2 mm, no entanto, o volume médio registrado ficou em 8,5 mm entre junho e setembro. “Notamos que o aumento de temperatura veio acompanhado de uma diminuição da frequência das chuvas. O total previsto para um mês caiu em uma chuva de 3 ou 4 horas”, explica Andrea Ramos.
Estamos no meio do caminho das chuvas que vêm do Norte para o Sudeste. Se não nos preocuparmos com o desmatamento de regiões como a Amazônia, podemos, em um futuro breve, enfrentar problemas sérios de escassez de água, como aconteceu em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Fábio GoulartProfessor do Instituto de Geografia da UnBEm 2014, foram 118 dias (não consecutivos) sem chuva – valor próximo a média da última década, que registra aproximadamente 114 dias sem chuva entre junho e setembro.
Durante o período de seca, a Defesa Civil emite alertas para a população. Quanto mais baixo os níveis de umidade, maior deve ser o cuidado. Este ano o DF entrou em estado de emergência, o mais grave de todos. A última vez havia sido em 2012.
No período da seca, o cerrado pede socorro. A vegetação, vulnerável a fatores como baixa umidade, alta temperatura e ausência de chuvas, arde em chamas. Porém, o crédito para o aumento das ocorrências não é exclusivo da natureza. Pelo contrário. No Distrito Federal, estima-se que 90% das queimadas são provocadas pela ação humana.
Assim, um hábito corriqueiro como livrar-se de folhas secas acumuladas no quintal utilizando o fogo se torna muito mais perigoso do que parece. Essa prática, comum nos grandes lotes do Lago Norte e Lago Sul, por exemplo, é responsável por levar faíscas a regiões como Sobradinho e Planaltina, e desencadear uma série de incêndios.
De abril a 17 de setembro deste ano, o Corpo de Bombeiros atendeu 3.495 ocorrências de incêndios florestais no DF. A área queimada em 2015 é equivalente a oito mil campos de futebol – ou 8.404 hectares. A mais grave delas numa área da Marinha, em Santa Maria, com 1.203 hectares queimados em três dias.
Segundo o Major Ronaldo Medeiros, do Grupamento de Proteção Ambiental (Gpram) do Corpo de Bombeiros, as estatísticas mostram que os incêndios ocorrem mais em Brazlândia, Sobradinho e Planaltina. Áreas de proteção e unidades de conservação, como o Parque Nacional, a Estação Ecológica de Águas Emendadas, o Jardim Botânico, a Fazenda Água Limpa – pertencente à Universidade de Brasília (UnB) - e outras que fazem parte da reserva biológica do cerrado também são alvos comuns.
Antes do combate direto ao fogo, o Corpo de Bombeiros intensifica um trabalho que ajuda a reduzir a incidência de focos de incêndio. Como a maioria dos incêndios é causado pela ação do homem, o trabalho de prevenção e educação se tornou essencial para a corporação. Um dos meios mais usados são palestras educacionais realizadas em áreas rurais. As palestras ensinam chacareiros a controlar o fogo usado para “limpar” o solo antes da plantação.
O Grupamento de Proteção Ambiental também passa boa parte do ano produzindo equipamentos para serem distribuídos para a população. Materiais como abafadores são produzidos dentro dos próprios quartéis. “Fazemos uma média de 400 abafadores por ano, sempre de forma artesanal e entregamos aos moradores de regiões que costumam ser atingidas pelo fogo”, conta o sargento José Queiroz, responsável por preparar e lixar os cabos de madeira que recebem as pás de borracha que formam os abafadores.
Quem provoca um incêndio em mata ou floresta está sujeito a punição. Desde 1998, a Lei 9.605 prevê pena de reclusão de dois a quatros anos, e multa de R$ 1.500 por hectare ou fração queimada.
Mesmo que o crime seja acidental. Nesse caso, a pessoa pode ficar detida de seis meses a um ano e também deverá pagar multa. Se o incidente ocorrer durante o período da estiagem e nos dias de domingo, feriado ou à noite, a pena pode aumentar de um terço a um sexto.
Para identificar culpados, os bombeiros são encarregados de realizar a perícia no local. Entretanto, em muitos casos, descobre-se apenas a indicação da causa do incêndio e não o autor do crime.
Quando a seca toma conta do Distrito Federal e o verde desaparece da paisagem, um batalhão de 200 homens e mulheres entra em ação para evitar que o cerrado vire cinza e a fumaça tome conta da cidade. Carregando até 30 quilos de equipamentos nas costas e suportando uma sensação térmica de até 70º graus, bombeiros do Grupamento de Proteção Ambiental (GPRAM) são responsáveis por combater até 58 focos de incêndios florestais todos os dias. O Metrópoles acompanhou um dia desses heróis do fogo.
12 de agosto de 2015. Do sofá, Samara Mendes encarava o rosto de Ana Maria Braga na TV, na sala do dormitório feminino do GPRAM. Embora o clima fosse de descontração, a bombeira não se afastava da farda, de um alaranjado nada discreto. Enquanto justificava sua escolha pela profissão – por influência do irmão, também bombeiro – fitou algumas vezes, de canto de olho, uma caixa de som pequena, colocada sobre o sofá. “Agora é esperar alguma coisa acontecer”, disse. Como uma premonição, a primeira ocorrência daquele turno soou menos de cinco minutos depois. O dia de Samara estava apenas começando.
Antes de a primeira sirene tocar, tudo no GPRAM obedece a um ritual. O turno dos bombeiros do grupamento começa às 8h. É neste horário também que os bombeiros da escala do dia anterior são liberados para suas 72 horas de descanso, não sem antes verificarem todos os materiais das viaturas. Carros prontos, todos os fardados – os que vão para casa e os que enfrentarão as próximas 24 horas – fazem fila diante da haste onde a bandeira do Brasil será içada.
Sob o comando de um dos tenentes em serviço, batem continência em respeito a pátria. “A cerimônia do hasteamento da bandeira é sagrada, mesmo que só tenha uma pessoa aqui”, explica o cabo Felipe Carlos Pimentel. Às 11h, um ritual à parte é cumprido pelo supervisor ambiental responsável pelas operações do grupamento: um vôo sobre todo o DF.
No dia em que a equipe do Metrópoles acompanhou os bombeiros do GPRAM, localizado no fim da Asa Norte, sete ocorrências foram atendidas por uma equipe de 22 militares combatentes e quatro motoristas. Dos chamados naquele dia, pelo menos dois foram alarmes falsos. “É comum chegar ao local e o fogo já estar controlado. Fora os trotes, que acontecem. Os casos mais graves compensam esse tempo perdido, já que em algumas ocorrências ficamos acampados para combater incêndios de largas escalas”, explica o subtenente Isaac de Almeida.
Os perigos constantes não assustam quem escolhe a profissão. E, diferentemente do que se imagina, não é de problemas pulmonares que os combatentes mais sofrem. Segundo Almeida, uma das últimas medidas de segurança necessária foi a retirada das famosas barras de ferro utilizadas como escorregador pelos bombeiros: “Aquilo, durante a noite, devido à sonolência, foi a razão de vários acidentes. Há anos optamos por usar as escadas.”
Quando o barulho da sirene interrompeu Samara e a impediu de acompanhar o programa de TV daquela manhã de agosto, um silêncio tomou conta dos dois andares do grupamento. A bombeira ia falando sobre como se acostumou com a rotina puxada, quando veio o barulho. “ABTF 123”, disse a voz por trás do auto-falante. “É o meu”, respondeu Samara, interrompendo a conversa. Em 53 segundos cronometrados, o carro de número 123 saia do pátio em direção ao fogo.
Em meio ao grupo, Samara se destacava por ser a única mulher; em campo, os cabelos longos e pretos ficaram escondidos pela balaclava e não fizeram diferença: “O único problema é que só eu que sofro com o cabelo, que fica destruído.”
A missão dos bombeiros é evitar que a cidade se torne refém do fogo como em 2010 e 2011. Foram anos em que as reservas do DF queimaram e centenas de animais – muitos deles em extinção – morreram. "Naquele biênio tivemos mais de 55 mil hectares consumidos pelas chamas. Foram os piores anos da história do DF no que diz respeito às queimadas", lembra o comandante do Grupamento de Proteção Ambiental (GPRAM) , tenente-coronel Glauber Martins De La Fuente.
Quanto mais rápido começa o combate às chamas maior é a chance de evitar danos. Para ganhar agilidade, o Corpo de Bombeiros foi equipado com os veículos de solo e aeronaves mais modernos do mundo. A frota é dividida em pontos estratégicos espalhados pelo DF. Postos de vigilância passaram ser montados nas cidades de Brazlândia, Samambaia, Gama, Santa Maria, São Sebastião, Paranoá e Planaltina.
Preparados para atravessar as chamas e alcançar os terrenos mais acidentados, os carros autobomba são equipados com canhão d´água e uma cortina líquida que resfria toda a lataria do veículo. Ao todo, os militares contam com uma frota de 25 autobombas. Ao preço de R$ 1 milhão cada, os veículos foram importados de Portugal e conseguem apagar chamas que estejam a uma distância de até 150 metros. “Esses veículos são fundamentais para combater incêndios florestais em terrenos acidentados. Cada um deles tem capacidade para armazenar até três mil litros de água. Isso representa uma autonomia de 20 minutos com o canhão ligado”, explica o comandante do Grupamento de Proteção Ambiental.
O CBMDF possui 25 Carros Auto Bombas, que conseguem apagar incêndios que estejam a uma distância de até 150 metros
Os bombeiros contam, ainda, com 25 caminhões adaptados para dar mobilidade às equipes. Eles facilitam a vida dos bombeiros, levando-os mais próximo do fogo possível, uma vez que os militares estão equipados com as “bombas costais” – espécie de bomba d´água mecânica – que chegam a pesar 30 quilos. Os bombeiros têm, também, o apoio de 25 caminhonetes, apelidadas de “carros rápidos”, usados pelas tropas para carregar equipamentos usados no combate ao fogo.”
O combate ao fogo ganha reforço do ar. Os modelos 802 F (o numeral faz alusão à capacidade de armazenamento de água e a letra diz respeito à expressão fire fight – luta de fogo) são os mesmos utilizados pelos pilotos agrícolas americanos, que costumam voar sobre grandes latifúndios pulverizando substâncias que combatem as pragas nas plantações.
Com reservatórios que comportam até três mil litros de água, as aeronaves vieram da Flórida direto para o Distrito Federal, em meados de 2011, logo após serem adquiridas por R$ 8 milhões.
Batizados de “Mr. Leland Snow” e “Intrépido” os aviões têm uma agenda concorrida a partir de julho, quando chegam a ocorrer até 70 acionamentos por dia. O chamado coordenador ambiental – militar designado para despachar as equipes para as ocorrências – define as prioridades de atendimento durante o pico da seca. “Entre uma queimada em uma chácara e um incêndio na Floresta Nacional temos que priorizar o atendimento às áreas de proteção ambiental”, destacou o major.
Os pilotos dos aviões que auxiliam os bombeiros em solo precisam se preocupar com fatores que vão além da precisão em acertar o momento exato de abrir as comportas que despejam os três mil litros de água sobre o fogo. Fios de alta tensão, chaminés, torres de energia, além da presença de aves como urubus e carcarás precisam ser levados em consideração pelos pilotos para evitar acidentes fatais. “Quando as aeronaves estão com os reservatórios cheios elas ficam muito pesadas e perdem a capacidade de manobras rápidas. Um erro pode levar à queda”, disse o subcomandante do 2º Esquadrão Aéreo.
Junto com a seca vem o risco de faltar água nos reservatórios que abastecem o Distrito Federal. Hoje, tanto na barragem do Rio Descoberto, responsável por levar água à 58,8% da população, como na de Santa Maria, encarregada de outros 27,7%, os índices estão em níveis considerados satisfatórios pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb). Mas como na época de estiagem o consumo aumenta em 15%, o brasiliense precisa estar atento para evitar o desperdício.
Este ano, o sinal de alerta disparou mais cedo. Com a redução do regime das chuvas no DF entre dezembro e janeiro, os reservatórios inciaram 2015 com níveis abaixo do normal. Mas chegaram a transbordar com o retorno das chuvas entre fevereiro e abril.
A seca, porém, não é o único motivo de preocupação. Isso porque os dois reservatórios já estão operando no limite. Enquanto a oferta média dos tanques responsáveis pela cidade é de 9,5 mil litros por segundo, a demanda gira em torno de 9 mil litros por segundo, bem próximo da cota máxima.
Para aliviar a pressão sobre os reservatórios existentes, a Caesb projetou a construção dos sistemas Paranoá, Corumbá e Bananal. Juntos, irão somar 13,6 mil litros de água por segundo aos 9,5 mil já existentes. O projeto já foi aprovado e a licitação para as obras deve ocorrer no final deste ano. Até lá, a ordem é economizar!
Houve grande um aumento populacional no DF, enquanto os reservatórios não acompanharam esse crescimento. A estimativa é que a população do DF aumente em 60 mil habitantes a cada ano. É extremamente importante que as pessoas busquem alternativas para consumir apenas o necessário de água por dia.
Karina BassanAssessora de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da CaesbEnquanto os brasilienses sentem a umidade baixar, comerciantes e prestadores de serviços veem seus lucros aumentarem na época da seca. As vendas podem aumentar até 80%, dependendo do produto. Mas é preciso cuidado com o orçamento em tempos de inflação. Com a estiagem e o aumento na procura de alguns itens, os preços estão, em média, 10% mais caros do que no ano passado.
Nas 1.200 farmácias do DF, por exemplo, verifica-se um aumento na venda de até 80% em produtos como manteiga de cacau, cremes hidratantes e nebulizadores. Já as lojas de eletrodomésticos reforçam a venda de umidificadores, que chega a duplicar neste período.
Para o Grupo Planalto, conjunto de seis empresas especializadas em fornecer e realizar manutenções de ares-condicionados residenciais e industriais em Brasília e no Rio de Janeiro, essa é a melhor época do ano. “Aqui vendemos mais agora do que durante o verão”, diz João Amarildo Filho, diretor do grupo.
Porém, com o aumento da procura vem também a alta dos preços, fazendo com que os preços subam em até 10%. “Há tanta busca que as lojas chegam a estocar materiais para que não faltem no auge da estiagem”, explica Adelmir Santana, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF).
Apesar dos carros-chefes serem produtos que prometem amenizar as consequências da estiagem, restaurantes e bares da cidade também buscam lucrar com o momento. É o caso do Primeiro Bar, localizado no Sudoeste. “Há uma grande procura por drinques refrescantes”, explica Gustavo Santos, proprietário do local. Entre as novidades da casa está a caipirinha de abacaxi com a bala Black Halls, que promete trazer um alento durante a aridez do cerrado.
Quem trabalha na rua também aproveita para faturar um extra. A venda de coco chega a dobrar nesse período. E nos semáforos da cidade os vendedores de garrafinhas de água se multiplicam.
Poucos sabem, mas a estiagem é uma época necessária para a natureza. Diversas espécies de plantas do cerrado dependem do vento, tão típico do clima, e também da baixa umidade para desbravar novos ambientes, criando melhores oportunidades de fixação, crescimento e reprodução. “Esses fatores favorecem a propagação de espécies específicas, como o Ipê, o Pau-formiga e o Pau-terra”, explica Carmem Correa, professora da Universidade de Brasília (UnB), especialista em cerrado.
Segundo a professora, algumas espécies têm o ciclo genético adaptado à seca, quando atingem o período de reprodução. “Tem muito a ver com a característica de dispersão das sementes. O período favorece as espécies anemocóricos, que dependem do vento para a reprodução”, completa.
Outro efeito comum na savana brasileira durante a seca que estimula a reprodução das plantas é o fogo. O que destrói também ajuda a criar. “A resposta às chamas, é claro, vai depender da intensidade, da frequência e da duração dos incêndios. O cerrado é sim adaptado ao fogo, mas não a ele frequente”, ressalta Carmem.
Quando sistemático, os efeitos positivos são muitos. Pouco tempo após a passagem do fogo, o solo se remineraliza, já que nutrientes antes inutilizados nas folhas caídas e mortas são, sob a forma de cinza, dispostos na superfície do solo. A eliminação das palhas secas depositadas no solo também ajuda no deslocamento das sementes. Sem a barreira física natural, elas conseguem chegar mais fácil à superfície do solo e germinar.
Na reação em cadeia, a alta temperatura quebra a dormência de sementes e causa fissuras que favorecem a penetração da água, estimulando-a a brotar. “As de casca dura são as que mais precisam do calor para abrir, mas nada muito intenso, já que a alta temperatura pode matar o embrião”, explica Heleno Dias Ferreira, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e um dos pioneiros na preservação do cerrado.
Por conta disso, não é incomum ver novos brotos logo após a queimada. Para animais que se alimentam de folhas e pasto, é um paraíso em plena estação seca. Como o pássaro fênix, que na mitologia é o animal que ao morrer, entra em autocombustão e renasce das próprias cinzas, o cerrado também surge em meio ao pó.
Outra surpresa da natureza na época da seca é o show de cores no céu da cidade durante o pôr do sol. “Esse espetáculo natural se intensifica por conta das partículas de poeira que se encontram na superfície”, explica Eraldo Dias, geógrafo formado pela Universidade de Brasília (UnB). Sem a chuva, poluição, terra e fuligem de queimadas se acumulam causando, paradoxalmente, um belo cenário durante o crepúsculo. Há também outros elementos que tornam o céu de Brasília em atração turística, como o relevo plano da cidade, que traz a impressão de um horizonte infinito. Além disso, durante o inverno quase não há nuvens no céu, afastando-se, assim, o obstáculo de um dos momentos mais esperados pelos brasilienses.
Entre os meses de junho e setembro é frequente a reclamação dos brasilienses e das pessoas que visitam o DF sobre os efeitos da seca. Pele e lábios ressecados, dor de cabeça, falta de ar, alergias e olho seco. Sintomas comuns, mas que sempre incomodam. O Metrópoles reuniu dicas valiosas para ajudar você a tirar de letra o período da estiagem. Confira!
Seja rápido debaixo do chuveiro, use água morna para fria, elimine a bucha do dia a dia, não esfolie a pele e pegue leve com o sabonete - sempre com hidratante, por favor! O banho tira a camada de gordura que protege e hidrata a pele. Durante a estiagem, entretanto, esses elementos são essenciais para proteger a epiderme. A regra vale para os cabelos também. É importante manter o óleo natural do couro cabeludo, por isso lave-os em dias intercalados. “Vá a um profissional fazer um diagnóstico dos fios e ver a necessidade – ou não – de nutrí-lo”, avalia o cabelereiro Júlio Moroishi.
Depois da pele, os olhos são as partes do corpo mais afetadas com a seca. A indústria farmaceutica já inventou soluções para aliviar esses problemas: como as lágrimas artificiais.
Teoricamente, se você manter o hábito de beber água, o nariz não sangra. Mas os brasilienses sabem que isso não é verdade. Para aliviar o desconforto e evitar machucados, use um gel para manter a umidade dentro do nariz.
Regra básica do brasiliense: tenha sempre um protetor labial na bolsa. Use o creme Bepantol Derma antes de dormir e aplique o regenerador labial durante o dia para manter a hidratação. Repita a rotina todos os dias.
Abuse do protetor solar em todo o corpo, mas principalmente no rosto, pois a radiação solar aumenta durante os meses sem chuva e causa ainda mais danos à epiderme já sensível ao meio ambiente seco.
Por ser o órgão do corpo humano mais exposto ao ambiente externo, a pele é a que mais sofre durante o período da seca. É preciso tratá-la com carinho. O produto adequado para usar nesse período, obviamente, é o hidratante corporal -- não devemos substituí-lo por óleos e loções. Deve-se espalhá-lo por todo o corpo, cinco minutos depois do banho, enquanto a pele estiver úmida.No chuveiro, elimine a bucha do dia-a-dia, não esfolie a pele e pegue leve com o sabonete -- sempre com hidratante, por favor.
Pala alivar o desconforto nas mãos, escolha um hidratante que tenha ureia, eles são perfeitos para a área. Use sempre que sentir necessidade.
Pouca gente se atenta para uma necessidade feminina: “Há mulheres que precisam usar lubrificante íntimo nesse período, pois a mucosa da vagina também é afetada pela baixa umidade”, explica o dermatologista Gilvan Alves.
Há comidas ricas em água e sais minerais que além de hidratar, evitam câimbras e ajudam a combater o cansaço físico ou mental, comuns nesse período. Por isso, abuse de frutas e verduras, peixes, frutos do mar e clara de ovos (veja os mais adequados na tabela abaixo). Aumente também o consumo de alimentos ricos em nutrientes antinflamatórios, como frutas cítricas, chia, linhaça, alho, cebola, agrião, aipo e oleaginosas (abacate, castanhas e sementes). “Eles fortalecem o sistema imunológico e diminuem a formação de muco, facilitando a respiração”, explica a nutricionista funcional Elissa Amaral. Quem tem alergia, deve evitar leite e derivados porque esse tipo de alimento também aumenta a produção de muco. Substitua por extrato de soja, leite de arroz, leite de amêndoas ou acrescente sucos e chás na dieta.
Ao contrário do que se pensa, o número de casos de doenças respiratórias não aumenta. Ácaros e fungos precisam de umidade para se desenvolverem e proliferarem, por isso no ar seco eles têm menos chances de sobreviver. “Foram realizados três trabalhos em Brasília mostrando que no período da seca há redução do número de idas ao pronto-socorro e internações por asma”, explica Marta Guidacci, coordenadora da Alergia e Imunologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
Ao contrário do que os brasilienses acreditam, o umidificador pode piorar o ar do ambiente no período de seca. Quando sujo, o aparelho ajuda proliferar microorganismos nocivos à nossa saúde. Além disso, ao aumentar a umidade da atmosfera, favorecemos a multiplicação de ácaros e fungos, os dois principais fatores provocadores da asma e alergias. Já o climatizador ajuda a circulação e a refrescar o ar sem espalhar poeira, mofo e bactéria. Mas também é um recurso paliativo. “É muito mais eficaz proteger e hidratar o corpo do que tentar mudar o ambiente externo” avalia Marta Guidacci, coordenadora da Alergia e Imunologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Ela acrescenta que se pode usar ar-condicionado, desde que em temperatura ambiente e com filtros limpos. Mas em compensação deve-se aumentar ainda mais a ingestão de líquidos, pois ele retira a umidade do ambiente.
Não há evidências científicas provando que o uso de umidificadores facilitam a respiração e amenizam os sintomas da seca. Consequentemente, as receitas caseiras, para elevar a umidade do ar, têm menor indicação de eficácia.
O ar fresco é importantíssimo nessa época, já que a atmosfera dentro de casa pode ficar mais pesada devido à escassez de água no ambiente. Deve-se adotar uma vida ao ar livre e praticar esportes, mas o ideal é praticá-los antes das 10h ou depois das 17h. Nos horários proibidos, opte pelas academias de ginástica, pois elas conseguem manter um ar mais umidificado.