O despertar do Centro-Oeste para a revolução industrial

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Em estados historicamente sustentados pelo agronegócio, fábricas quebram paradigmas, transformam municípios e, com inovação e tecnologia, mostram que do centro do país pode sair muito mais do que grãos e carne

Kelly Almeida
25/05 15:24, atualizado em 08/07 18:05

Pequenas, grandes, tecnológicas ou focadas na excelência do trabalho manual. Com características diferentes, indústrias do Centro-Oeste confirmam que há muito mais do que apenas agronegócio por aqui. Na contramão de setores tradicionais que dominam as atividades na região, uma geração de empresas vem investindo em diferenciais competitivos para conquistar novos mercados e provar que o Centro-Oeste pode ir muito além do gado e do grão. Da fabricação de biscoitos à produção de cosméticos e celulose, a região mostra ao Brasil e ao mundo que é possível ter excelência em vários setores.


O estado de Goiás, por exemplo, tradicionalmente conhecido pela larga criação de bois e vacas, já é o maior polo da indústria cosmética das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Se considerar todo o país, fica em sexto lugar, de acordo com levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Da terra do pequi saem esmaltes, protetores solar, repelentes e muitos outros itens para diversas partes do país e do exterior. Em 10 anos, entre 2005 e 2015, a exportação de produtos industrializados saltou 536%.

No Mato Grosso, são 160.703 mil empregos – mais da metade dos trabalhadores (54,5%) tem ao menos o ensino médio completo, o maior índice entre os quatro estados – com salário médio de R$ 1.767. Construção, alimentos e serviços industriais são os principais setores, mas também é possível encontrar empresas dedicadas a produzir móveis fabricados por robôs ou reciclar embalagens de agrotóxicos para a produção de eletrodutos.

Michael Melo/Metrópolesfoto_1

Com o oitavo maior PIB industrial do Brasil (R$ 9,7 bilhões), o Distrito Federal, região que respira política e serviço público, já conta com 6,7 mil indústrias, com destaque para as micro e pequenas empresas. Quem arregaça as mangas e atua no setor não tem do que reclamar. De todas unidades da federação do Centro-Oeste, o DF é a que paga melhor ao trabalhador, com um vencimento médio de R$ 2.588.

Já o município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, chamou a atenção do país nos últimos anos ao receber investimentos bilionários, tornando-se um dos principais centros globais na fabricação de celulose. Dois megaprojetos recentemente instalados na região, capazes de produzir 3 milhões de toneladas do material por ano, transformaram a realidade local ao promover uma verdadeira revolução industrial numa economia historicamente baseada na pecuária.

Diferencial para se destacar

Se as grandes empresas investem em tecnologia de ponta para equipar com o que há de mais moderno suas linhas de fabricação, as pequenas e médias marcas não ficam atrás quando o assunto é qualidade na confecção de produtos. Em mercados cada vez mais concorridos, a diferenciação na produção tornou-se uma importante parte da estratégia de negócio para se firmar frente aos concorrentes e enfrentar o atual momento de crise da economia nacional. De olho nisso, empresas se reinventam para otimizar custos e, é claro, levar os produtos a todos os cantos do Brasil e do exterior.

Michael Melo/MetrópolesTânia Cardoso​, da Blant: Nanotecnologia aplicada a cosméticos

Os cosméticos goianos

Com uma política agressiva de incentivo fiscal que acelerou a instalação de diversas indústrias no estado, Goiás vem ganhando destaque no cenário nacional com a produção de cosméticos e de produtos farmacêuticos. Primeira marca de esmaltes do Centro-Oeste, a Blant investe na tecnologia como mola propulsora para angariar novos mercados. Dentro de um galpão na Avenida Transbrasiliana, em Goiânia, 12 funcionários se revezam na produção mensal de 100 mil vidros de esmaltes que são comercializados em 15 estados do país.

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A dona da marca, Tânia Cardoso, aposta na nanotecnologia no desenvolvimento de um dos produtos que se transformou no carro-chefe da empresa: o Nanovitaly, uma loção reparadora para unhas. O creme cosmético conta com cinco ativos encapsulados: arginina, óleo de melaleuca, queratina, lecitina e vitamina E, que ajudam a deixar as unhas mais fortes e saudáveis.

De olho na exportação, os frascos trazem na embalagem todas as informações necessárias ao consumidor em dois idiomas português e inglês. “Todos os ativos de nanotecnologia que foram colocados neste produto são riquezas do nosso cerrado”, explica a empresária.

Tânia começou a carreira como representante comercial de itens de beleza, até o dia que decidiu investir na própria marca. Começou a terceirizar a produção, que era feita em São Paulo, no entanto, ao desenvolver técnicas novas, sofreu com concorrentes, que copiavam as fórmulas que criava. “Eu era pequena, aí empresas que eu contratava acabavam passando minhas ideias para marcas maiores. Foi então que decidi abrir minha própria fábrica, em um galpão pequeno. Depois os negócios cresceram e consegui chegar onde estou hoje”, comemora.


A maior parte dos clientes da Blant se concentra no Sul e no Sudeste do país. O nome é a junção de palavras que Tânia Cardoso considera essenciais para o sucesso: Beleza, Leveza, Acessível, Natureza e Tecnologia. “Trabalhamos com esses requisitos. Unimos beleza com saúde e bem-estar”, afirma.

Tânia prefere não comentar sobre os números da empresa, mas ressalta que, apesar da crise, tem visto os negócios crescerem nos últimos anos. A Blant já prepara uma expansão na linha de produção, que passará a contar com batons, cremes e outros cosméticos. Com todas as licenças dos órgãos de fiscalização em mãos, a marca quer levar os produtos para o mundo. “Estamos trabalhando para começar a exportar. Queremos iniciar pela América do Sul. Depois, vamos para outros locais”, conta Tânia.

Alta tecnologia

Do outro lado da cidade, em Aparecida de Goiânia, uma outra companhia, a Nutriex, também aposta na alta tecnologia para alavancar as vendas. Especializada em produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, a indústria conta com 220 funcionários e 280 produtos na linha de produção, além de 112 em desenvolvimento.

Michael Melo/MetrópolesSolange Neves​, sócia-diretora da Nutriex, e Leonardo Sousa Rezende, CEO Nutriex e Innovapharma: ​25% de crescimento no primeiro trimestre

A marca está presente na Áustria, na Itália, na África do Sul e na China. Além disso, foi a empresa escolhida e licenciada para estampar a logo das Olimpíadas de 2016 em protetores solar. Os produtos já são vendidos em free shops e serão distribuídos para atletas que disputarão a Rio 2016.

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A Nutriex surgiu, como milhares de outras empresas iniciantes, de forma despretensiosa, comercializando produtos em revistas por meio de vendedoras que atendiam os clientes de “porta em porta”. Em 2009, porém, foi comprada pelos atuais donos que investiram em novas linhas de produtos, elevando a companhia a um outro patamar.

A sócia-diretora da Nutriex, Solange da Mata Neves, afirma que a empresa está na contramão da crise econômica vivida pelo país e diz que a marca vem crescendo acima da média da inflação. Somente no primeiro trimestre deste ano, a empresa apresentou uma alta de 25%, quando comparado ao mesmo período de 2015.

Estamos fora da curva. Enquanto o Brasil está demitindo, estamos contratando. Nos últimos seis meses, aumentamos nosso quadro em 30%. Isso é resultado de trabalho, pesquisas e desenvolvimento de novos produtos” Solange da Mata Neves, sócia-diretora da Nutriex

Sobre o mercado do Centro-Oeste, a diretora reconhece que ainda há certo preconceito sobre a capacidade industrial da região, mas afirma que os empresários estão conseguindo desmistificar a visão de que só há agronegócio. “Quando apresentamos nossos produtos, as pessoas demonstram surpresa por conta do mercado daqui. Mas, nos últimos anos, com a vinda de muitas indústrias para o Goiás, o segmento está se destacando”, completa.

O lixo que vira eletroduto

Centenas de anos são necessários para um plástico se decompor na natureza. Pensando nisso, Adilson Valera Ruiz e mais dois sócios criaram, há 13 anos, a Plastibrás.

Plastibrás/Divulgação​Fábrica da Plastibrás, em Mato Grosso: 200 toneladas ​de eletrodutos ​produzidas​ todos os meses​

A empresa do Mato Grosso recicla embalagens de produtos agrícolas para produzir eletrodutos de 20 a 200 milímetros usados para proteger cabos e fiação elétrica que passam debaixo da terra ou de paredes em grandes obras em todo o país. Surfando nos bons números da construção civil, a empresa cresceu, na última década, em uma média de 25% ao ano.

Plastibrás/Divulgação

A ideia surgiu quando Adílson Valera, que é geólogo, trabalhava em fazendas do Mato Grosso fazendo poços artesianos. “Os agricultores tinham dificuldade de se desfazer das embalagens agrícolas, então percebi que era preciso dar uma destinação a esses produtos”, lembra.

A empresa começou com 20 funcionários. Hoje tem 120 – sendo 35 haitianos que buscavam emprego no Brasil – e funciona com a maior parte da produção automatizada. “As pessoas não colocam a mão nos eletrodutos. Nossa fábrica busca sempre equipamentos de ponta. Queremos mostrar a capacidade que temos em fornecer material de qualidade ao mundo todo”, conta Adilson. Pelo menos 200 toneladas são produzidas mensalmente. “Hoje, o maior desafio que enfrentamos é o da logística. Como o MT é pequeno, buscamos os materiais para reciclar em outros estados, como Mato Grosso do Sul e Rondônia”, explica o empresário.


Toda a geração de carbono da Plastibrás é transformada em plantações para ribeirinhos do Mato Grosso. “Calculamos o CO2 gerado por ano e, junto com um instituto, fornecemos mudas aos ribeirinhos. Ajudamos a plantar e a cuidar”, afirma.

Robôs na produção de móveis

O uso da tecnologia à favor da produção também é uma das estratégias da Milan Móveis. À frente da empresa, o fundador, Gilmar Milan, começou a produzir móveis por encomenda, em 1980, no Mato Grosso. A capacidade reduzida, na época, permitia a produção de, no máximo, 50 portas e janelas destinadas a residências de Cuiabá.

Milan/DivulgaçãoM​aquinário da Milan Móveis: Planos de exportação para a América do Sul​

Vinte anos depois, o empresário viu a necessidade de investir em processos inteligentes para otimizar e aperfeiçoar o trabalho. Entre testes e novos maquinários, em 2010, Gilmar decidiu robotizar toda a indústria.

Com 200 produtos no catálogo, a Milan se especializou em fabricar conjuntos escolares, como mesas e cadeiras. São pelo menos 50 mil unidades produzidas por mês. “Um dos nossos diferenciais é a tecnologia. Os robôs fazem quase todo o processo para que tenhamos cortes de qualidade. Os funcionários – 370 no total – só colocam as peças e as máquinas montam o resto”, explica Gilmar.

Nos últimos cinco anos, a empresa apresentou crescimento de 10%. Com o mercado brasileiro conquistado, a Milan agora está de braços abertos para atender novos mercados. “Muitas vezes ficamos desacreditados por não sermos um polo moveleiro, mas estamos superando as dificuldades e aumentando a competitividade. A proposta é começar a exportação pela América do Sul”, complementa.

Celulose transforma o Mato Grosso do Sul

O município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, viu a realidade de sua atividade econômica ser transformada drasticamente nos últimos anos. A chegada de duas das maiores indústrias de celulose do Brasil, a Eldorado Brasil e a Fibria, são as principais responsáveis pelas mudanças. Juntas, elas têm capacidade de produzir até 3 milhões de toneladas de material por ano.

Eldorado/DivulgaçãoAs fábricas da Fibria e da Eldorado (foto) produzem 3 milhões de toneladas de celuloso por ano

As unidades, que estão entre as maiores do mundo, começaram a ser erguidas em 2007 e mexeram com o município de apenas 113,6 mil habitantes. No período em que as indústrias estavam em construção, os canteiros de obras chegaram a concentrar 15 mil trabalhadores, segundo a Federação das Indústrias do Mato Grosso do Sul (Fiems). “Além da clara diversificação produtiva, essas indústrias proporcionaram que empresas menores de Três Lagoas firmassem contratos que chegam a R$ 200 milhões”, calcula Ezequiel Resende, economista da Fiems. Atualmente, 50% da exportação industrial do Mato Grosso do Sul partem de Três Lagoas.

Fibria/Divulgação

Inaugurada em dezembro de 2012, a Eldorado Brasil é a quinta maior produtora mundial de celulose de fibra curta, utilizada para a fabricação de guardanapos, absorventes, toalhas, rótulos e embalagens. O investimento para construção e início das operações foi grande, de R$ 6,2 bilhões, sendo R$ 4,5 bilhões na construção da fábrica. O restante foi destinado em logística e em composição das florestas próprias de eucalipto.

Com 4.850 funcionários, a companhia tem capacidade de produção de 1,7 milhão de toneladas de celulose por ano e exporta para o mundo inteiro, com destaque, no ano passado, para a Ásia, que recebeu 43% da produção, Europa (32%), América Latina (14%) e América do Norte (11%).

A unidade fechou 2015 com faturamento bruto de R$ 3,8 bilhões. Em 2015, a Eldorado anunciou ainda um investimento de R$ 9 bilhões para novas operações industriais que deverão dobrar a capacidade de produção durante o ano.

Investimento bilionário

A Fibria é a outra companhia responsável pela radical mudança no cenário de Três Lagoas. Com investimento de US$ 1,5 bilhão, a companhia se instalou no estado em março de 2009. Líder mundial na produção de celulose de eucalipto, a unidade tem capacidade de produzir 1,3 milhão de toneladas por ano.

Fibria/DivulgaçãoA Fibria anunciou um investimento de R$ 8,7 boilhões para ampliar a unidade de Três Lagoas

A empresa, que conta com outras três unidades no Brasil, mantém um total de 17 mil funcionários. Juntas, as fábricas têm capacidade de produção de 5,3 milhões de toneladas de celulose por ano. Deste total, 90% vão para 37 países. No ano passado, a companhia registrou uma receita líquida recorde de R$ 10,1 bilhões, uma alta de 42% em relação a 2014.

Fibria/Divulgação

A unidade sul-mato-grossense da companhia foi primeira fábrica brasileira a atingir a marca de 1 milhão de toneladas de celulose produzidas em menos de um ano de funcionamento. Toda a produção é escoada por meio de transporte ferroviário até o Porto de Santos, em São Paulo, de onde é despachada por navio para o mercado internacional.

Em maio de 2015, a Fibria anunciou expansão na unidade de Três Lagoas. A cidade terá uma nova linha de produção de celulose responsável por mais 1,7 milhão de toneladas por ano. O investimento será de aproximadamente R$ 8,7 bilhões. As atividades estão previstas para iniciar no fim de 2017.

“A ampliação da unidade de Três Lagoas é um marco na história da empresa. É um grande investimento que irá gerar empregos, melhoria na qualidade de vida e desenvolvimento para o município”, diz o presidente da companhia, Marcelo Castelli.


Exclusividade no DNA

Na capital da República, a Confraria, marca que fabrica bolsas e sapatos, faz sucesso em todo o país. As peças delicadamente trabalhadas também brilham em países asiáticos e europeus. Cada item é pensado, desenhado e confeccionado sob os olhares atentos de Ana Paula de Ávila e Silva.

Leonardo Arruda/MetrópolesAna Paula de Ávila e Silva, da Confraria: Do Cerrado para Ásia e Europa

Entre mesas, tesouras, pedaços de couro, máquinas de costura e muitos materiais, funcionários ajudam a preparar os itens com um esmero próprio, de quem se diferencia produzindo peças que se destacam pela beleza. A unidade de produção funciona no Bernardo Sayão, no Núcleo Bandeirante, em Brasília. Apesar de requisitada, a marca se preocupa em controlar a escala de produção para manter um ar de exclusividade, sempre exigido pelas clientes. No total, aproximadamente 350 bolsas e 700 pares de sapatos são desenvolvidos todos os meses. “São produtos exclusivos, com DNA próprio e diferentes do que todo mundo usa”, afirma Ana Paula.

Leonardo Arruda/Metrópoles

Mineira formada em artes plásticas, ela começou a se aventurar no mundo da moda em 1998, quando aceitou o convite feito por uma amiga para produzir peças para venda. Desde então, não parou mais. De um modesto ateliê em Belo Horizonte, onde trabalhava com um funcionário, a artista plástica e empresária se mudou, dois anos depois, para Brasília. Atualmente conta com 12 empregados. Até o momento, já desenvolveu 2.532 modelos de bolsas, nos mais variados formatos e estilos.

Do desenho dos itens aos retoques finais, tudo passa pelas mãos de Ana Paula. A inspiração está em tudo que a mãe de quatro filhos vive diariamente. “Para apresentar as minhas coleções, participo do salão de modas em Belo Horizonte e em Paris”, conta.


Produção caseira, mas em série

O empresário Adauto Lourenço Cavalher Júnior, nascido em Laranjal, município de Minas Gerais, resolveu transformar uma receita de família em negócio. Após ver o aumento de demanda do mercado da capital pelo consumo de biscoitos caseiros, ele alugou um galpão em Planaltina, região administrativa que fica a 42 quilômetros de Brasília, e investiu na produção em grande escala. Vinte e seis anos depois de dar início ao empreendimento, vê os produtos da marca Diminas serem vendidos por quilo nas principais feiras do país.

Michael Melo/MetrópolesAdauto Lourenço​, da Biscoitos Diminas: Unidade com 80 funcionários abastece feiras de todo o país

Com apenas 10 receitas, mas muito engajamento de cinco integrantes da família, a produção começou pequena. Rapidamente caiu no gosto de feirantes do Distrito Federal e donos de padarias, conquistando espaço e clientes pelos quatro cantos do quadrado. Do pequeno galpão, o grupo se mudou para um local maior localizado na mesma região. Lá, aumentou a produção e a quantidade de receitas produzidas. Atualmente são mais de 60 tipos de biscoitos, incluindo uma linha diet.

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Além de Planaltina, a Diminas tem uma unidade em Bela Vista de Goiás. Juntas, produzem 80 mil quilos de biscoitos todos os meses. No DF, 80 funcionários se dedicam diariamente ao processo de fabricação. A maioria deles mora ali mesmo, em Planaltina, e atua há mais de 10 anos dentro da fábrica.

Mesmo com a crise, a empresa dribla as dificuldades e se reinventa para não perder o cliente. “Uma das nossas estratégias foi diminuir as embalagens, para vendermos porções menores”, conta Adauto Júnior.

Foco nas exportações

A crescente industrialização na região pode ser comprovada em números. Um levantamento realizado pelo Ministério do Desenvolvimento mostra que, em 2000, a indústria da região enviou US$ 351,8 milhões em produtos para fora do Brasil. No ano passado, o volume chegou a US$ 3,8 bilhões. De olho no mercado estrangeiro, empresários têm buscado cada vez mais abrir as portas de suas empresas para a internacionalização.

Fibria/Divulgação

Sarah Saldanha, gerente de serviço de internacionalização da Confederação Nacional da Indústria (CNI), garante que micro e pequenas empresas são as que mais buscam apoio de olho nas oportunidades que esperam aqueles que cruzam as fronteiras do país. Cabe às federações da indústria de cada estado, no entanto, o papel de auxiliar na elaboração de planos de negócios para preparar as empresas no comércio exterior. “Esse processo de internacionalização é uma alternativa às marcas, ainda mais em um momento pontual como o que passamos com a crise econômica do país”, destaca Sarah.

Na avaliação de Sarah, é “fundamental que a empresa faça a tarefa de casa para conseguir romper as barreiras do mercado interno”. A afirmação diz respeito a mudanças que devem ser feitas para atender as exigências feitas para dar início ao processo de exportação e que, consequentemente, melhoram a imagem da marca nos novos mercados.

O processo de participação no mercado exterior tem efeito direto na inovação da empresa” Sarah Saldanha, gerente da CNI

“Outro benefício, da porta para dentro, é que a empresa não fica refém das inconstâncias do mercado interno, estabelecendo relações comerciais fortes quando a maré estiver baixa por aqui”, ressalta a gerente.

Os benefícios das exportações não são apenas das empresas. Segundo a CNI, a economia brasileira também ganha com as relações exteriores do comércio. “Os estudos demonstram que marcas que exportam são capazes de mobilizar mais empregos, agregar mais valores e trazer divisas por moedas estrangeiras para o Brasil”, comenta.

Fibria/Divulgação​A Fibria exporta para 37 países e registrou um crescimento de 42% em 2014

Incentivos

Principal responsável pelos bons números da indústria do Centro-Oeste, Goiás desponta também na exportação. Segundo a Federação da Indústria de Goiás (Fieg), em 15 anos, o volume de mercadorias enviadas ao exterior cresceu 536%, passando de US$ 297,4 milhões para US$ 1,5 bilhão.

O coordenador técnico da Fieg Wellington Vieira lembra que o estado passou por diferentes fases para conquistar destaque no mercado industrial. “Nos anos 1980 foi criado o Fomentar (Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás), que ofereceu incentivos para que as empresas se instalassem aqui. Foi um tempo de muito progresso e preparo para o atual momento. Nos anos 2000 tivemos programas que impactaram no ICMS, mas que foram abatidos quando as empresas atingiam metas pré-fixadas, como a criação de empregos”, afirma Vieira.

Fibria/Divulgação

Antes de exportar, as companhias recebem consultorias de federações, além de entidades com o Sebrae, o Senai, centros internacionais de negócios e de outros institutos de apoio à indústria. “Trabalhamos muito com inovação e tecnologia para apoiar as empresas e ajudá-las a produzir com maios valor agregado”, afirma Vieira.

O representante da Federação afirma que a estrutura ainda não é a ideal, mas está em ascensão e, na opinião dele, Goiás será uma importante plataforma logística para o país. “Mais cedo ou mais tarde, a economia do Brasil vai cruzar no estado. Afinal, as principais rodovias que levam a todas as regiões passam por aqui”, assinala.

Fibria/DivulgaçãoA expectativa é de que o PIB industrial do Mato Grosso do Sul chegue a R$ 18 bilhões neste ano

Otimismo

Com as maiores indústrias do Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul apresenta expectativas econômicas otimistas a médio e longo prazo. A Federação das Indústrias do estado (Fiems) prevê que até o fim deste ano, o PIB industrial passe de R$ 13,6 bilhões para R$ 18 bilhões. As contas são feitas com base em dados industriais de 2013 a 2016. O crescimento, segundo a entidade, é puxado em grande parte pela produção de celulose das indústrias instaladas em Três Lagoas.

Eldorado/Divulgação

Economista da Fiems, Ezequiel Resende afirma que os índices começaram a apresentar destaque nos mercados nacional e internacional a partir da entrada das indústrias de celulose do município. “Já tínhamos representatividade com frigorífico, mineração e produção de grãos, mas o investimento delas (Fibria e Eldorado) aumentou a exportação. Teve ano que a cidade foi responsável por 70% da exportação de todo o estado”, lembra Resende.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior revelam a evolução da exportação de produtos industrializados no Mato Grosso do Sul nos últimos 15 anos. Em 2000, foram US$ 49 milhões. No ano passado, o número chegou a US$ 1,6 bilhão. “Ainda estamos em período de acelerada expansão. As indústrias de Três Lagoas anunciaram aumento na produção. Com essas atividades, o próximo quadriênio será de bom desempenho”, prevê Resende.

DIREÇÃO DE JORNALISMO

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EDITORA CHEFE

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COORDENAÇÃO E EDIÇÃO

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ARTE E INFOGRÁFICOS

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