O amor, esse invisível eterno, incidiu sobre Brasília desde a pré-história da cidade até os momentos cruciais de sua fundação. Esteve, febril e desesperado, na Missão Cruls, a expedição que, em fins do século 19, apresentou o Planalto Central ao Brasil. Estava no coração sofrido de Lucio Costa, o arquiteto que inventou a cidade para não se deixar vencer pela dor da perda de Leleta, sua mulher. Em sua versão puramente erótica, o amor esteve na festa que Oscar Niemeyer ofereceu aos jurados estrangeiros que escolheram o projeto vencedor do concurso do Plano Piloto. Esteve no amor das mulheres que acompanharam seus maridos na aventura nas profundezas do Brasil e das que ficaram sozinhas em suas cidades enquanto eles vieram para o canteiro de obras da nova capital. Muitas nunca mais tiveram notícias de seus companheiros. A cidade moderna foi construída às custas de muita solidão.

A biografia dos primeiros 60 anos de Brasília escondeu amores, revelou amores, viveu e morreu de amores. A jornalista Conceição Freitas, a principal cronista da cidade, contou, pelo caminho do amor, a história da construção do maior sítio de urbanismo e arquitetura moderna do mundo. As matérias especiais, divididas em 12 capítulos, foram publicadas durante o último ano. Elas juntaram também relatos de desamor, preconceito e violência nas relações amorosas acontecidas antes e durante o nascimento da cidade que certo Brasil odeia e que brasilienses e candangos, nascidos ou adotados, amam com a imensidão do Cerrado e a força do concreto armado.