Mãe tem mãos e pés amputados após complicação de mastite: “Sobrevivi por meus filhos”

Aline Zeymer enfrentou sérias intercorrências após infecções nas glândulas mamárias. Serena, apesar de tudo, agradece a chance de estar viva

Carolina Vicentin
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No dia 7 de fevereiro deste ano, a servidora pública Aline Vasconcelos Zeymer, 34 anos, acordou na UTI de um hospital, em Brasília, rodeada pela família. Sem saber direito onde estava, viu o irmão que mora no Canadá e percebeu que algo sério havia acontecido.

Nove dias antes, Aline enfrentava o quinto episódio de mastite – um processo infeccioso nas glândulas mamárias. Estava, novamente, com dor nos seios e febre, quando desmaiou em casa. Foi levada às pressas ao pronto-socorro e internada com infecção generalizada. O quadro era tão grave que os médicos optaram por induzi-la ao coma.

Durante o período em que ficou inconsciente, a servidora pública sofreu duas paradas cardíacas. Aline foi submetida a inúmeros exames para tentar identificar a bactéria que tomava conta de seu corpo. Quando finalmente os médicos detectaram o microrganismo e definiram tratamento mais específico, outra bactéria, agora hospitalar, a infectou. Os especialistas disseram à família que ela só tinha 15% de chances de sobreviver.

Aline teve a primeira crise de mastite em novembro do ano passado. O filho caçula completara seis meses de vida, começava a dormir a noite toda e diminuía a demanda por amamentação. Junto ao alívio das noites bem dormidas do bebê, surgiam também os seios empedrados e os bicos rachados – caminho aberto para bactérias.

Depois do diagnóstico, Aline tomou medicamentos por uma semana. Poucos dias depois, os sintomas voltaram e novo antibiótico foi prescrito. Nada adiantou. Veio a terceira crise e, com isso, a necessidade de descartar a presença de nódulos por meio de uma ecografia mamária. Para piorar o quadro, ela teve uma reação alérgica aos últimos remédios prescritos e precisou tomar corticoides. Novamente, o tratamento não foi eficiente e a infecção atingiu sua corrente sanguínea.

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Para Aline, o que mais importa agora é ver o crescimento dos filhos
Aline não procura culpados pelo que lhe aconteceu
Os filhos Gabriel e Matheus são sua força
Agora, ela só pensa em se adaptar rapidamente à nova vida para cuidar sozinha dos filhos
“Não foi fácil lidar com isso, mas acho que recebi a notícia melhor do que meus familiares”, afirma Aline

Renascimento
“Todo mundo estava muito feliz por eu ter finalmente acordado”, lembra Aline sobre o dia em que ela despertou na UTI. Ainda zonza pelo efeito dos remédios, ela só pensava em rever os filhos, Matheus e Gabriel, de 1 e 3 anos, respectivamente. As dificuldades, porém, ainda não haviam cessado. O agravamento da infecção provocou a necrose dos pés e dos dedos de ambas as mãos dela. Para evitar novas complicações, a equipe médica recomendou a amputação dos membros.

“Não foi fácil lidar com isso, mas acho que recebi a notícia melhor do que meus familiares”, conta a servidora pública. “Eu estava tão focada em sobreviver, só pensava que não queria correr o risco de piorar.” As cirurgias foram bem-sucedidas e, em 13 de março, Aline voltou para casa. Desde então, ela faz um tratamento intenso de reabilitação, que inclui sessões de fisioterapia, musculação e terapia para reaprender a usar as palmas das mãos.

Há 15 dias, a servidora pública está utilizando próteses provisórias nos pés e ensinando o corpo a se apoiar nas peças. O processo é doloroso e não há prazo para terminar, pois depende da adaptação do organismo. “Eu só quero ter mais independência para cuidar sozinha dos meus filhos, sem precisar do apoio de mais ninguém”, diz.

Aline, seguidora do espiritismo, não busca culpados pelo que lhe aconteceu. “Pode ter havido erro médico. Talvez, se tivessem feito uma punção nos seios, ou se eu tivesse parado de amamentar logo que tive a primeira crise, isso não teria acontecido”, especula. “Mas eu não tenho como julgar. E penso que passamos pelas coisas que precisamos enfrentar”, afirma.

“Lógico que é difícil, há momentos muito complicados, ainda mais com crianças pequenas por perto. Mas eu agradeço todos os dias por estar viva”, conta, emocionada. “Foram eles que me deram forças, eu só sobrevivi por causa deles.”

Na próxima semana, a coluna trará mais informações sobre a mastite, seus sintomas, diagnóstico e tratamento.

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