Cuidar de filho doente é “coisa de mãe”?

Embora muitos estereótipos estejam enraizados dentro da gente, na minha casa, não tem essa conversa, não

Carolina Vicentin
Compartilhar notícia

Semana passada, meu filho mais velho se sentiu mal na escola, e o pessoal ligou para meu marido, pedindo para ir buscá-lo. Quando ele estava no caminho, me avisou do que estava acontecendo. Eu fiquei feliz por não ter que sair do trabalho às pressas, mas, imediatamente depois, fui tomada pelo seguinte pensamento: espera lá, por que eles não ME ligaram? Eu sou a mãe!

É isso mesmo que vocês leram. Eu, feminista, metida a desconstruída, fiquei chateada porque não fui a primeira pessoa a ser acionada quando o assunto era o cuidado com os filhos. Ok, não fiquei chateada de verdade, provavelmente, enciumada, mas ainda assim. Meu sentimento não deveria ser justamente o contrário?

Fiquei refletindo sobre isso e lembrei de uma conversa que tive há cerca de dois meses com um amigo, pai de uma menininha de 1 ano. Ele contava como se sentia quando, ao passear com a filha no sling, cruzar com mães e tentar puxar conversa, percebia reações condescendentes.

“É como quando uma mulher resolve comentar sobre futebol. Por mais que o comentário seja interessante, a gente reage com ‘ah, tá bom, claro’, querendo encerrar logo o papo”, comparou ele.

Essas histórias mostram o quanto os estereótipos de gênero estão enraizados na gente e o quanto é difícil se livrar deles. A gente luta, briga no grupo de Whatsapp, peita os parentes, mas tem sempre algo latente, algo daquilo que crescemos acreditando ser os papéis sociais do pai e da mãe.

Por isso que é extremamente irritante ver aqueles vídeos que colocam os pais como verdadeiros bobalhões cuidando das crianças. Ou então as piadas e histórias nas quais a mãe é sempre a general da casa, a que coloca tudo em ordem, enquanto, ao pai, cabe apenas a parte divertida.

Não é isso que vejo na minha família, embora, muitas vezes, eu acabe fazendo questão de assumir o papel de “gerentona” da criação dos meninos – e me sentindo #chateada quando não sou assim reconhecida.

Nos últimos anos, aliás, tem crescido um movimento que cobra mudança nessa forma equivocada de representação da paternidade. Em 2012, uma marca famosa de fraldas retirou uma campanha do ar depois de um pai, indignado, fazer um abaixo-assinado.

Devagarzinho, as coisas estão mudando. Tenho certeza que meus filhos já crescerão com uma ideia bem diferente do que são coisas de mãe e de pai. Que isso reverbere de forma positiva na vida deles!

Compartilhar notícia
Sair da versão mobile