Sem o pai, Carlos Bolsonaro dá plantão no “Gabinete do ódio”

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro esteve em viagem aos EUA, vereador, que é morador do Rio, despachou em Brasília

Estadão Conteúdo
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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) esteve em viagem aos Estados Unidos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), morador do Rio, atuou como uma espécie de “segurança” do gabinete do pai, localizado no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Considerado o mais radical dos filhos, o “zero dois” despachou no chamado “gabinete do ódio”, onde atuam assessores responsáveis pelas redes sociais do presidente e por fazer relatórios diários sobre fatos do Brasil e no mundo. Bolsonaro cumpriu agenda de quatro dias em Miami.

O Estado apurou que Carlos não trabalhou no gabinete do presidente, mas optou por permanecer junto aos assessores Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz. O trio, nomeado na Presidência, atua sob o comando do vereador. Segundo relatos feitos em caráter reservado, Carlos ficou no Planalto para ser os olhos do presidente nas movimentações políticas.

O “02” foi visto pela primeira vez no Palácio do Planalto na última sexta-feira (06/03), durante a cerimônia pelo Dia Internacional da Mulher, um dia antes do embarque do presidente para Miami. O vereador assistiu a parte do evento do terceiro andar, ao lado de Tércio. Nessa segunda-feira (09/03), ele recebeu na sede do governo o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ).

O amigo do presidente registrou o encontro nas redes sociais. “Hoje foi muito legal, eu tive uma conversa longa e muito proveitosa com meu irmão Carlos Bolsonaro no Palácio do Planalto. Esse entende muito de política, tem leitura apurada da política brasileira”, elogiou Hélio Lopes.

A presença do vereador no Planalto ocorreu no momento em que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, enfrenta um processo de desgaste em parte do Executivo, entre parlamentares governistas e bolsonaristas nas redes sociais.

Na visão do filho do presidente, o articulador político do governo cedeu demais ao Congresso nas negociações envolvendo o controle de parte do Orçamento.

“Tenho atuado como posso, entretanto é visível que o presidente está sendo propositalmente isolado e blindado por imbecis com ego maior que a cara”, postou Carlos no Twitter, no último sábado, enquanto esteve em Brasília. A publicação foi entendida por aliados do governo como um recado contra Ramos.

Durante a estada de Carlos em Brasília, a pressão sobre a recém-empossada secretária especial da Cultura, Regina Duarte, também aumentou. Nesse domingo (08/03), em entrevista ao “Fantástisco”, da Rede Globo, ela declarou ser perseguida por uma “facção” do governo. Desde que tomou posse, na semana passada, a atriz passou a ser alvo de críticas de seguidores do guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho.

No Twitter, começaram a circular as hashtags #ForaRegina e #ForaRamos. O ministro Ramos é considerado o responsável por levar a atriz para o governo. Para diminuir a pressão nas redes sociais, Ramos condenou a fala da secretária pelo uso do termo. Ao Estado, disse que a entrevista “não foi boa.”

A Carlos também é atribuído o cancelamento da nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho para a Secretaria da Diversidade Cultural. Filiada desde 1989 ao PSDB, ela havia sido designada para o posto na última sexta-feira por Regina Duarte. Carlos teria passado toda a segunda-feira trabalhando para tirá-la do governo. Conseguiu após relatar o caso ao pai. No fim da tarde, em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), a nomeação foi cancelada.

A presença de Carlos Bolsonaro no Palácio do Planalto, na ausência de Jair Bolsonaro causa incômodo em integrantes do governo. Esta não é a primeira vez que isso acontece. Em março do ano passado, quando Bolsonaro também estava nos Estados Unidos, o vereador esteve na sede do governo. Na época, ele se reuniu com deputados, dizendo estar cumprindo ordens do presidente.

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