metropoles.com

Do campo à mesa: a rota dos queijos artesanais no Distrito Federal

Criadores de vacas, ovelhas e cabras se fazem conhecidos na gastronomia local graças à parceria com vendedores e clientes

atualizado

Compartilhar notícia

Hugo Barreto/Metrópoles
Brasília (DF), 17/05/2018 Produção de queijo artesanal em Brasília Local:Vilarejo Jardim ABC, Cidade Ocidental Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 17/05/2018 Produção de queijo artesanal em Brasília Local:Vilarejo Jardim ABC, Cidade Ocidental Foto: Hugo Barreto/Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Um queijo sem conservantes, feito artesanalmente a partir do leite de gado de pasto e com processos de qualidade controlados rigorosamente. Parece coisa de europeu, mas produtos assim podem ser encontrados por aqui mesmo, em Brasília. A capital federal concentra não apenas lojas focadas neste tipo de insumo, mas tem produção local de queijos artesanais.

Este é o caso de Américo Ferreira, servidor aposentado e criador de vacas na Cidade Ocidental (GO). “Sempre tive terra nas unhas. Quando vim para Brasília, logo procurei um sítio para cuidar”, lembra o alagoano, que chegou à capital federal em 2001. O queijo, ele conta, foi uma produção quase incidental. “Eu estocava o leite para aguentar as altas e baixas do mercado. Quis voltar a ter queijo artesanal na família, e aí comecei a fazer”, comenta.

Hugo Barreto/Metrópoles
Américo Ferreira, o alagoano que decidiu homenagear a avó com seus queijos artesanais

O produtor decidiu unir elementos de sua infância: a cultura nordestina e a comida artesanal, traduzidas no leite de manteiga feito pela avó. “A lembrança que tenho é a dela fazendo o queijo cedo. A gente acordava para tomar café da manhã e tinha o produto do dia, fresco. Marcou minha memória, quis fazer porque é um produto que agrega as pessoas”, garante.

Para aprender, Américo teve que visitar um estado vizinho: fez cursos sobre o ofício no Instituto de Laticínios Cândido Tostes, em Juiz de Fora (MG), e voltou para fazer seu produto. “O pessoal me pergunta se é queijo mineiro, eu digo que não. É o curado do Vale do Roncador, produto daqui”, garante.

0

Américo também produz queijo fresco prensado – o produtor não gosta de vender o produto com muito soro –, além de queijo tipo brie e doce de leite. Ele ainda está testando o tipo parmesão e vende garrafas do leite de suas vacas, da raça jersey: as fêmeas produzem um leite mais gordo, próprio para a produção queijeira.

Da França a Brasília
Depois de 37 anos lecionando francês na Universidade de Brasília (UnB), o professor José Arnildo Marquezin decidiu dedicar a aposentadoria à apicultura. Em 2007, ganhou algumas cabras e resolveu tentar emular os queijos que havia provado na França. “Não faço por dinheiro, é porque eu gosto. Sempre quis trabalhar a terra, produzir comida, e eu gostei do desafio de fazer queijos que se parecessem com os franceses”, comenta.

O queijo Barbiche – uma brincadeira com a barba do bode – é um fermentado que lembra o brie ou o camembert: macio e com miolo cremoso. “Considero que não é tão difícil fazer esse produto, porque existe uma variedade muito grande, raramente se perde o que se faz. Pode não sair o que eu planejei, mas sai um queijo que dá para comer. O problema é que o brasileiro não conhece muito queijo. Existe uma variedade enorme, mas a gente não consome tudo”, lamenta José.

Divulgação
Barbiche, o queijo de cabra feito por José Arnildo Marquezin: inspiração nos queijos franceses para criar o produto brasiliense

Outro produtor da região é Ricardo Guida, da marca Vale das Ovelhas. O veterinário entrou no ramo de criação de ovelhas com um amigo e hoje voa solo na produção de queijos. “Por incrível que pareça, acertar o iogurte foi muito mais difícil que os queijos que produzo hoje”, lembra. Ricardo é responsável por duas estrelas do cardápio do Teta Cheese Bar: o Dente de Leão, um queijo com mofo branco; e o Azulão, um queijo com mofo azul, tipo Roquefort.

Embaixadoras do queijo
Como qualquer cadeia de produção artesanal, o queijo precisa de elos para chegar ao consumidor final. No caso de Américo, José e Ricardo, Marina Cavechia, sócia do Teta, é fundamental nesse processo. “A gente acaba ficando amigo do cliente. Conversamos bastante, ouvimos os retornos. Isso ajuda bastante, às vezes uma observação muda completamente a qualidade do produto”, comenta Ricardo.

“Uma coisa que eles fazem com tanto carinho, com tanto amor, e é reconhecido, vendido num lugar tão longe, com uma baita divulgação… Acho que esse reconhecimento faz bem para qualquer setor”, defende Marina. Para ela, é parte crucial do trabalho visitar as fazendas e ver como são feitos os processos para poder vender o queijo adequadamente aos clientes do bar. “O queijo artesanal e o pequeno produtor se valorizam quando você sabe a origem e a história deles”, garante.

Hugo Barreto/Metrópoles
O queijo Azulão, do Vale das Ovelhas, foi batizado por Marina Cavechia, uma das sócias do Teta Cheese Bar

Muitas vezes, os comerciantes passam mais tempo explicando o queijo e a história do fazendeiro que tentando vender o produto. Rosanna Tarsitano, dona da Tarsitano Sabor de Origem, se considera mais do que uma comerciante: é praticamente uma caçadora de queijos. “Aos poucos, o brasiliense está se conscientizando. Estão entendendo o que significa ter um queijo assim no dia a dia, e é uma valorização do produto local”, defende a empresária.

“O trabalho desse tipo de venda avançada é muito importante para o produtor. Elas são embaixadoras do queijo, procuram peças de qualidade e conseguem mostrar isso aos clientes”, elogia Américo.

Compartilhar notícia

Todos os direitos reservados

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?