Conheça Adriana Pino, a bartender referência do Brasil

Ganhadora do World Class 2018, a mixologista conversou com o Metrópoles sobre como sua vida mudou após o título

Clara Campoli
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Vegetariana, fã de cachaça, mãe de menina, apaixonada pela Chapada dos Veadeiros, entusiasta de esmaltes de unha coloridos. Quando se consagrou como a segunda brasileira a vencer o World Class Competition 2018, um dos maiores campeonatos de bartender do mundo, Adriana Pino viu a própria trajetória e subjetividade serem reduzidas a uma pergunta repetida em boa parte das entrevistas que concedeu: como é ser mulher no meio da coquetelaria?

Ora, é difícil. Em qualquer profissão, não é fácil ser mulher. Ao Metrópoles, Adriana preferiu falar sobre o que entende: coquetelaria. Afinal, ao vencer a competição de 2018, ela se tornou uma referência não só entre os colegas de trabalho, mas no meio enogastronômico brasileiro (e mundial). A bartender concilia a administração de duas empresas com eventos e viagens por todo o país prestando consultorias e dando aulas a jovens mixologistas.

“É uma vida bem louca mesmo, tem que ser organizada. O que eu mais gosto é da oportunidade de viajar, isso agrega ao trabalho. Aprendo coisas novas, conheço gente diferente, troco informações. Eu nunca planejei férias desde que comecei essa rotina doida, há cinco anos. Nesses momentos de viagens, por mais que seja trabalho, eu dou um jeito de ter férias e diversão. É tudo junto”, descreve a bartender, que esteve em Brasília em dezembro de 2019 para um conjunto de aulas no Empório Iracema.

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Adriana Pino: após quatro participações no World Class Competition, a bartender venceu a edição de 2018
No ano seguinte, Adriana foi convidada para ser juíza do campeonato
Hoje, Adriana se divide entre a administração de duas empresas, eventos e viagens para fazer consultorias e dar aulas
Apaixonada pelo Cerrado, Adriana esteve em Brasília em dezembro de 2019 para um workshop de Moscow Mule no Empório Iracema
Adriana monta um Moscow Mule: a bartender acredita que a coquetelaria vai se tornar cada vez mais simples e refinada
Para Adriana, é importante respeitar os coquetéis clássicos, mas é imprescindível que os mixologistas brasileiros valorizem cada vez mais a cachaça
Adriana ainda adverte: é papel do bartender tomar cuidado com o alcoolismo e ajudar o cliente a beber de maneira responsável

Em uma dessas oportunidades de viajar a trabalho, Adriana caiu de amores pela Chapada dos Veadeiros. Em dezembro de 2018, os donos do Rústico Premium Grill, em São Jorge (GO), convidaram a especialista para fazer o evento de aniversário da casa. Em troca, eles ofereceram hospedagem e alguns passeios pela região. “Fiquei pensando, que gente louca era essa que queria me levar para passear num dos lugares mais bonitos do Brasil? Passei cinco dias com eles e foi surreal. Me diverti muito, conheci gente nova. Contei todos os meus segredinhos para os bartenders, ajustei o que estava fora do padrão”, lembra a mixologista, que voltou para visitar a região cinco vezes em 2019.

Vida nova

Embora tenha levado quatro tentativas para ganhar o título do World Class, a vida de Adriana mudou desde a primeira participação. “Ser a única mulher em uma competição dessas, ou ser a única que chegou à final, chama muita atenção. Era quase como se eu tivesse ganhado. O que mais me impactou foi a quantidade de eventos que apareceram fora de São Paulo. Eu queria mais, queria entender o que é uma consultoria completa e aprendi isso na marra. Hoje, adquiri um senso de generosidade. Eu gosto de compartilhar, de ensinar”, descreve.

Introspectiva, Adriana só participou pela primeira vez do campeonato por insistência do seu chefe da época. Ao perceber as oportunidades profissionais que se abriram com o evento, decidiu enfrentar a própria timidez para ter projeção no meio. Em 2018, com uma apresentação inspirada na cultura e na coquetelaria do Japão – com direito a bonsai e peixinhos vivos na mesa –, ela levou o título.

Com o World Class, a principal mudança é que as pessoas te escutam. Parece que as coisas que você fala fazem mais sentido. Ganhar ajudou com que os homens no meio me respeitassem mais. Ninguém gosta do título de melhor do Brasil: prefiro ser a bartender referência, a que ganhou o campeonato… Isso de ‘o melhor’ incomoda não só a mim, mas a qualquer bartender

Adriana Pino, vencedora do World Class Competition 2018

No futuro, Adriana vê uma coquetelaria mais refinada, com foco no sabor da bebida. “As pessoas estão trabalhando com uma coquetelaria mais responsável: não fazer drinques tão fortes, com equilíbrio, coquetéis transparentes e leves, sem meleca no copo. Usar menos ingredientes é elegante. Estamos nos encaminhando para uma coquetelaria em que se agrega maior valor à bebida, em que o trabalho do bartender é valorizado. Isso traz uma responsabilidade para o profissional, que deve se cuidar para não se desviar do caminho, tomar cuidado com o alcoolismo”, adverte a especialista. “Além disso, temos que valorizar nossa bebida principal, que é a cachaça”, defende.

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