Brasiliense Daniel Viana ganhou o Brasil misturando café e birita

O barista se especializou em drinques com a bebida quente e decidiu se arriscar no campeonato brasileiro da categoria: alcançou o 3º lugar

Clara Campoli
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Daniel Viana havia desistido de participar de campeonatos de barista. Vencedor do regional de 2010 e 3º colocado na Copa Barista de 2009, ele desanimou quando acabaram as etapas regionais, em 2011. Passou quase uma década sem participar de qualquer evento do tipo e decidiu deixar essa parte da carreira de lado. Ainda bem que ele mudou de ideia: o brasiliense trouxe para a capital o troféu de 3º lugar no Coffee in Good Spirits e já sonha em marcar presença no próximo ano.

A ideia de participar desta edição do campeonato ocorreu depois de um divertido evento que promoveu junto à esposa, a bartender Ingrid Lobato. O Briga de Casal aconteceu em janeiro no Martinica Café, estabelecimento onde Daniel trabalha. A ideia é simples: os dois disputaram quem faria o melhor drinque alcoólico com café e o barista saiu vencedor com o Madame d’Orvilliers, que ele levou à competição no Rio de Janeiro.

“A brincadeira me animou a participar do campeonato. Pensei: ‘Estou com o drinque pronto, estou trabalhando com coquetéis de café, consigo participar’. E me inscrevi”, lembra. A aspiração era chegar pelo menos à final, quando disputaria o pódio com outros cinco competidores. Daniel ficou em terceiro lugar depois de apresentar aos juízes um irish coffee e seu drinque autoral, composto por uma mistura de brandy nacional, xarope de cereja artesanal de fabricação própria, café da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, limão, pimenta caiena e licor de laranja.

Daniel prepara seu drinque autoral Madame d’Orvilliers, apresentado no Coffee in Good Spirits

 

“Queria ficar pelo menos entre os três melhores. A minha técnica foi muito elogiada pelos juízes, o que me surpreendeu muito, esperava um feedback mais duro. Vou voltar no ano que vem com certeza. Penso até em tentar o de barista. Vou ver com calma, porque esse aí é muito tenso”, comenta Daniel. Um ponto a ser corrigido é a elaboração do drinque autoral: embora o Madame d’Orvilliers seja saboroso, os jurados desejam sentir melhor o gosto do grão.

O nome do drinque é uma curiosidade à parte: a mulher francesa foi pivô na vinda do café às terras tupiniquins. No início do século 18, o brasileiro Francisco de Melo Palheta visitou a Guiana Francesa e, por lá, teve um caso com a esposa do governador local, Madame d’Orvilliers. Na última noite que Palheta passou no país, a amante, tomada pela paixão, entregou a ele um presente muito valioso: grãos e mudas do café, que chegaram ao Brasil pelas mãos do conquistador.

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Daniel prepara o irish coffee: com a 3ª colocação, se animou para participar da competição em 2020
O irish coffee é o drinque clássico exigido à perfeição no campeonato
O barista fez questão de usar um café regional: levou ao Rio de Janeiro os grãos da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, de Cristalina (GO)
A categoria de drinques alcoólicos no campeonato de barismo reúne misturas inusitadas do grão com bebidas destiladas
Com Daniel à frente da máquina de espresso, o Martinica Café acabou se tornando um estabelecimento de atividades noturnas

 

O gosto pela mistura entre álcool e café não é novidade na vida de Daniel. Há dois anos, quando seu irmão Luiz Fernando decidiu se casar, ele deu um senhor presente de casamento. Montou uma cafeteria em plena festa. Munido de uma máquina de espresso e de técnicas de barista e de bartender, o brasiliense serviu aos convidados drinques alcoólicos clássicos, como o irish coffee, e criações próprias. O presente virou empresa: a Ristretto Café Bar presta esse serviço em festas e eventos.

No Martinica há um ano, Daniel reinventou o serviço e acabou tornando um estabelecimento essencialmente noturno. O Madame d’Orvilliers vai entrar para o cardápio da casa. “Quando vou criar um drinque, penso na principal característica do café, se ele é fresco, leve ou cremoso. Sempre parto daí. A laranja e o café, por exemplo, têm uma química difícil de resolver, porque a bebida pode amargar”, ensina o barista, que faz questão de colocar pimenta em suas criações.

Apesar de estar orgulhoso de seu Madame d’Orvilliers, Daniel não esconde sua preferência pelo outro drinque exigido na competição. “Minha bebida favorita é o irish coffee. Todo bar deveria saber preparar um. No campeonato, situação em que é tão fácil tremer as mãos na hora de entregar a taça aos juízes, é preciso tomar cuidado redobrado, porque o creme não pode se misturar ao café. É tenso”, descreve.

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