Beba em casa! Veja dicas para fazer uma degustação de cervejas

Quer recriar as famosas réguas de chope em casa? Basta entender como ordenar a sequência de copos – e beber muita água

Clara Campoli
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Quem se interessa pelo vasto mundo da cerveja artesanal e quer aprender um pouco mais sobre a análise sensorial da bebida pode aproveitar a quarentena para fazer uma degustação em casa. Com boas cervejas a um delivery de distância, o difícil é escolher quais vão entrar na brincadeira. O Metrópoles separou algumas dicas para os que querem se aventurar na prática.

Primeiro, é preciso se atentar para algumas regrinhas: o recomendado é estar há pelo menos 12 horas sem ingerir álcool e, segundo Robson Vergillio, beer sommelier da cervejaria Berggren, ter feito uma hora de jejum. “Devem ser evitados odores de perfume, batom, cigarro ou maquiagem”, adverte.

Outra dica importante: Cerveja se degusta no copo, nunca diretamente da lata ou da garrafa. O recipiente deve estar em temperatura ambiente e sem mau cheiro. “Copo dá uma preguiça de lavar, né? Todo mundo passa por isso, mas é preciso. Se eu fosse escolher dois ou três copos para investir, escolheria uma tulipa e um half pint. Cervejas mais alcoólicas, para serem consumidas em temperaturas mais altas, ficam ótimas em taça de vinho”, instrui André Vasquez, sócio no brasiliense Teta Cheese Bar.

Independentemente do modelo de degustação – se são vários estilos, ou se são diversos rótulos do mesmo tipo de cerveja –, é importante se atentar a alguns critérios para estabelecer uma ordem. “Em geral, a regra é sempre ir aumentando a potência alcoólica. Mas o lúpulo é outro aspecto interessante: o amargor cansa o paladar. Se você beber uma cerveja lupulada e depois uma mais leve, é como almoçar primeiro feijoada, depois salada: você não vai conseguir perceber a delicadeza do sabor”, explica André.

Outra dica na hora de ordenar a sequência é observar a quantidade de malte torrado em cada cerveja. “É outro elemento que cansa o paladar e tem um retrogosto persistente. Assim, são três aspectos a se balancear: começar sempre pelas menos intensas, menos amargas e menos escuras”, orienta o empresário.

Para não errar

A sugestão de André, caso a pessoa decida degustar diferentes estilos de cerveja, é uma sequência bem diversa. “Para quem quer começar com algo mais complexo, a ideia é experimentar uma cerveja clara que não seja pilsen: a witbier é bastante leve, com trigo não maltado e sementes de coentro e laranja, tem acidez sem exagero”, afirma. Em seguida, a sugestão é partir para um sub-estilo brasileiro, a catharina sour. “Elas têm baixo nível alcoólico, levam trigo maltado, mas são azedas porque levam frutas daqui. É um desafio legal para quem está no início do processo da degustação, e a produção nacional é bastante inventiva”, elogia.

No meio do caminho, a proposta é degustar um altbier – o estilo alemão tem notas carameladas e tem fermentação a baixas temperaturas, o que resulta numa cerveja de corpo leve, mas de malte complexo. Depois, André sugere passar para sabores mais pesados como as ipas.

“Quem não conhece, tem que provar. A ipa é um dos estilos mais diferentes, e tradicionalmente é celebrada no mundo cervejeiro. Eu iniciaria, no entanto, por uma apa: é parecida, mas tem tonalidade âmbar ou até mais clara, leva lúpulos americanos e vai ter um aroma bastante frutado, ou bem herbal. É um passaporte de entrada para estilos similares”, instrui.

Para encerrar uma sequência com cinco cervejas, a sugestão de André é provar uma cerveja que vai bem com sobremesas como um bom sorvete de baunilha: a imperial stout. “É uma cerveja bastante alcoólica, bem escura, e às vezes a pessoa se surpreende, se apaixona pelo estilo. Elas podem ter notas doces, mas também são bastante torradas. Vale a pena até provar em temperaturas mais altas, não se bebe gelada”, adverte.

Além de beber muita água antes, durante e depois da degustação, a dica é limpar o paladar com bolachas de água e sal ou com alguns alimentos específicos. “Comidas gordurosas são boas para limpar o paladar, bem como pães. Um queijo canastra é ótimo para fazer degustação de vários estilos de cerveja, porque é neutro: ele aporta gordura, tem sabor amanteigado, mas não cansa o paladar”, descreve André.

Guardando na memória

A degustação de qualquer bebida com sensorial complexo – cervejas, vinhos, coquetéis, cafés e chás – demanda atenção a todos os sentidos: notar o som da garrafa ou da lata se abrindo, sentir a temperatura da cerveja nas mãos, observar a cor e a consistência da bebida, sentir o aroma, o sabor e, enfim, o retrogosto. Muitos especialistas apontam que a experiência de degustar envolve também conversar com alguém que está provando a mesma bebida, para descreverem, juntos, o que estão sentindo.

Uma boa solução é também fazer anotações sobre cada cerveja. “Acho que ajuda demais, eu comecei assim. Só de passar pelo roteiro sensorial da degustação te dá um repertório de vocabulário: anotar cor, espuma, aroma, gosto. Você vai conseguindo realmente analisar, criar um leque de palavras e lembranças. Para quem quer se aprofundar no hobby, analisar cervejas dessa maneira é superlegal”, finaliza André.

 

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