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Judô canalizou agressividade de Rafaela Silva, diz treinador

Atleta começou a treinar com Geraldo Bernardes no Instituto Reação aos 8 anos de idade. Técnico lembra que ela vinha de uma comunidade onde “a bola é minha e ninguém chuta”

atualizado

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Roberto Castro/Brasil2016
rafaela silva
1 de 1 rafaela silva - Foto: Roberto Castro/Brasil2016

Rafaela Silva sempre foi considerada uma atleta agressiva, mas ninguém diria isso se a visse pela primeira vez na última segunda-feira (8/8) entre o momento em que deixou o tatame e se encaminhou para o vestiário, onde iria se preparar para a cerimônia de entrega de medalhas. No caminho, encontrou Geraldo Bernardes, seu primeiro técnico no Instituto Reação, e lhe deu um demorado e afetuoso abraço. Foi ele quem começou a transformar a menina agressiva em uma campeã de reconhecimento mundial.

Bernardes foi a cinco Olimpíadas e, nos Jogos do Rio, treina os judocas da equipe de refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI). Ele lembrou como iniciou a trajetória de Rafaela no esporte que a consagrou. “Desde que ela começou comigo, aos 8 anos de idade, ela tinha muita agressividade. Ela vinha de uma comunidade onde ‘a bola é minha e ninguém chuta’, e acabou com ‘a pipa é minha, eu pulo o muro, eu dou na cabeça dos outros'”, recorda.

O treinador vai além. “Vi desde o início que era muito importante se eu conseguisse canalizar essa agressividade para o judô. Um dia eu vi ela sentada com a Raquel (irmã) e falei que iria colocá-las na seleção brasileira. Eu tinha ido a algumas Olimpíadas, e com o conhecimento que tinha, eu estava vendo um diamante bruto aí. Foi o que aconteceu.”

Transformar Rafaela em uma judoca internacional não se resumiu aos ensinamentos no tatame. “O professor Geraldo foi a pessoa que acreditou em mim. Quando comecei no judô, ele pegava o cartão de crédito escondido da esposa para pagar minhas viagens e alimentação”, conta a judoca. “Tudo o que ele fez por mim agora eu posso pagar com a medalha.”

O reconhecimento da atleta ao professor é imenso. Aos poucos, aquele diamante bruto foi sendo lapidado e toda a energia de Rafaela foi canalizada para o tatame. Na segunda, ela confessou que sentia que suas adversárias estavam com metade da energia que tinham, pois parecia que a torcida estava diminuindo suas rivais. Na verdade, era a brasileira que se agigantou diante das dificuldades.

Com o ouro olímpico, o treinador agora tem a sensação de dever cumprido e está satisfeito. “Tem gente que tem as homenagens quando morre. As minhas estão acontecendo comigo ainda vivo.”

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